Não vai dar. Vamos precisar carregar. Chegaremos em cima do guincho. Esses foram os primeiros comentários quando deixamos a redação de Autoesporte, em São Paulo, a bordo de um carro elétrico com a missão de chegar ao Rio de Janeiro. Mas havia um pequeno detalhe: não podíamos parar para recarregar.

Como não somos bobos, escalamos o recém-lançado e tecnológico BMW iX, atualmente o veículo elétrico com a maior autonomia à venda no Brasil, para cumprir tal objetivo.

A marca alemã diz que o SUV, que custa R$ 850 mil, pode rodar até 630 km — número mais que suficiente para percorrer os quase 500 km do trajeto entre as duas maiores cidades do país com tranquilidade. Certo? Mais ou menos.

Logo de cara, o primeiro imprevisto. Com 100% de carga da enorme bateria de 111,5 kWh fornecida pela LG, o painel de instrumentos digital marcava 520 km de autonomia (bem longe dos 630 km prometidos). Talvez o motorista anterior tenha abusado dos 523 cv e 78 kgfm do iX. Nós não chegaríamos nem perto de usar tal pujança.

Passado o impacto negativo inicial, seguimos nosso plano. Com três viajantes no carro mais a bagagem, a meta era andar na velocidade máxima permitida nas vias em que passaríamos (90 km/h e 110 km/h), sem ficar no vácuo de caminhões para diminuir a resistência do ar e aumentar o alcance. Além disso, ar-condicionado programado a 22º e sem usar nenhuma das seis entradas USB do BMW, nem o carregador por indução.

O SUV tem 523 cv de potência e 78 kgfm de torque — Foto: Demetrios Cardozo

A viagem também contemplava algumas paradas para apenas checarmos se as estações de recarga da Rodovia Presidente Dutra estariam funcionando — claro que há outras estações em cidades que a estrada corta, mas não queríamos desviar de nosso trajeto.

Hora de partir. Da sede da Autoesporte, no bairro do Itaim Bibi, zona oeste da capital paulista, até o primeiro carregador na Via Dutra, em Guararema (SP), foram cerca de 65 km. Desde o início tivemos uma parceira: a ansiedade — a autonomia era alvo de olhares recorrentes.

O painel de instrumentos digital marcava 520 km de autonomia quando saímos da redação da Autoesporte — Foto: Demetrios Cardozo

Chegando lá, além de vermos o carregador ativo, tivemos uma surpresa: o nível da bateria caiu para 84%, mas a autonomia passou de 520 km para 526 km. Ou seja, nossa forma de dirigir, mais eficiente, estabeleceu novos parâmetros para o iX calcular. De quebra, nossa desconfiança em chegar ao RJ sem “abastecer” deu uma apaziguada.

Saímos de Guararema rumo a Guaratinguetá (SP), local do segundo pit-stop. E nos deparamos com uma projeção realista. Percorremos perto de 120 km e a autonomia passou de 526 km para 399 km (uma margem de erro de 7 km). Já a bateria marcava 63%, enquanto olhávamos (com certa inveja, diga-se) um Fiat 500e se “alimentando” no carregador de 44 kW.

Mapa com todos os pontos de parada e situação do carro nas respectivas paradas — Foto: Autoesporte

Depois de um café reforçado (e uns pães de queijo a mais no estômago), dirigimos até a divisa SP/RJ, na cidade de Queluz, ainda no lado paulista. E outra surpresa — só que, dessa vez, negativa. No percurso de 55 km, a autonomia baixou 85 km (a bateria caiu de 63% para 52%).

Trechos de aclive e algum uso de força extra nas ultrapassagens podem ter influenciado na perda. A ansiedade voltou, e a música que saía dos 30(!) alto-falantes deu lugar ao silêncio.

No trajeto de ida, a maioria dos carregadores da Via Dutra estava funcionando, mas alguns apresentaram defeito — Foto: Demetrios Cardozo

O último trecho, de Queluz (SP) até Piraí, já no Rio, era decisivo. A cidade fluminense era o local da decisão derradeira: arriscar e tentar chegar ao nosso destino na Barra da Tijuca, zona oeste carioca, sem recarregar ou fazer um splash and go elétrico para não ficar a pé? Não tivemos alternativa: a estação de recarga estava com defeito — vale ressaltar que (ainda) não há cobrança para usar os carregadores.

O último trecho, de Queluz (SP) até Piraí, já no Rio, foi o de maior apreensão — Foto: Demetrios Cardozo

O panorama até então era de 34% de bateria e 205 km de autonomia para uma distância de pouco mais de 100 km até o final do itinerário. O jeito foi seguir viagem, porque tínhamos um trunfo: a Serra das Araras. A energia perdida nas frenagens e a regeneração na descida jogariam a nosso favor; assim, alguns quilômetros seriam recuperados — bem como nossa esperança. Dito e feito: os 32% e 202 km viraram 38% e 232 km em um trecho de 8 km.

O BMW terminou a jornada (sem gastar um real nem uma gota de combustível) ainda com 15% de bateria e 110 km no “tanque” — Foto: Demetrios Cardozo

E o iX passou no teste. Chegamos ao Rio depois de 478 km. O BMW terminou a jornada (sem gastar um real nem uma gota de combustível) ainda com 15% de bateria e 110 km no “tanque”. Ou seja, a autonomia real fica bem perto dos 630 km oficiais. Mas nada de comemorar: ainda teríamos que voltar… É só clicar a assistir o vídeo da volta.

BMW iX 50

Ficha Técnica
Preço: R$ 850.950
Motor: Elétrico, 523 cv
Autonomia: 630 km
Bateria: Íon de lítio, 111,5 kWh

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