Era 1984 quando Wellington Eustáquio Coelho deu os seus primeiros passos na Teksid, multinacional italiana que integra o grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles). Em 35 anos, Coelho viu o horizonte mudar, tecnologias evoluírem e as responsabilidades dentro da companhia assumirem novas missões. Hoje, responde como CIO da Teksid para o Brasil e México.

“Vim para ser operador de mainframe”, lembra o executivo em entrevista à CIO Brasil. “Não tinha nenhuma experiência com isso, tinha com contabilidade. Mas como trabalhava com mecanografia, tinha uma noção”. Aos 24 anos, Coelho não hesitou em assumir a oportunidade que se apresentava e uma carga horária que cobrava certa dose de insônia: “eles precisavam de um operador de mainframe para trabalhar da meia noite a seis”, conta. “Eu estava começando a minha vida literalmente na TI e dois anos depois vi que queria mais”.

Se nos anos 1980 a linguagem de programação que imperava era o COBOL, não à toa, Coelho foi atrás para aprendê-la em um curso ofertado na faculdade de engenharia, na UFMG, em Minas Gerais. “Estudava das sete às dez da noite e ficava esperando o ônibus para vir a Teksid”. Não tardou muito para virar programador de COBOL e depois assumir a posição de analista de sistemas na mesma companhia.

Com conhecimentos, vêm grandes responsabilidades, poderíamos parafrasear o escritor. Ao longo dos anos, Coelho passou a conquistar novas competências e assumir novas posições e projetos dentro da Teksid. Em 2002, assumiu a cadeira de CIO da Teksid. “Sempre gostei muito de tecnologia. Não tive dificuldades. Comecei a entender como era a lógica do negócio”, explica. “Como sempre gostei muito de estudar, pensei vou correr atrás para poder me aperfeiçoar”. Formado em Administração de Empresas, com extensão em Análise de Sistemas, o executivo também é pós-graduado em Gestão da Inovação e MBA em Administração de Projetos pelo IETEC-MG. Em 2018, foi reconhecido pelo prêmio Executivo de TI do ano na categoria Siderurgia, Metalurgia e Mineração. O prêmio é uma realização da IT Mídia em parceria com a Korn Ferry.

A TI não pode se conformar

A Teksid é um dos maiores grupos de fundição de autopeças do mundo. Sua capacidade produtiva supera as 580 mil toneladas por ano. Pense sobre tais dimensões e encontrará no chão de fábrica uma operação complexa e um ambiente de produção altamente crítico. Mas não é por estar diante de um negócio ortodoxo, em uma indústria tradicional, que Coelho se conformou.

“O negócio da empresa é fazer peças para a indústria automobilística. A TI ficava, então, renegada à área de suporte. Era importante, mas nada mais. Mas eu não me conformei com aquilo”, lembra. “Ainda hoje existe uma dificuldade do CIO se posicionar dentro das organizações”, pondera. “Fazendo o meu retrospecto, penso que sempre fui muito inquieto. Nunca me conformei com a mesmice, por que não mudar?”, questiona.

O executivo conta que em 2003 começou a mudar o setor de TI da Teksid. Era, até então, muito voltado ao mainframe. “Pouca interação com o mundo web”, relata. Um dos projetos bem-sucedidos de sua equipe foi batizado como Batalha Naval. Uma aplicação móvel para tablets entregou a modernização que a área de produção precisava. A ferramenta mobile permite capturar informações de defeitos de peças, por exemplo, por meio de fotos em 3D. Essas informações, uma vez inseridas no app, permitem ser rapidamente vistas por um analista de qualidade. Tal digitalização do processo conseguiu eliminar um processo até então analógico de preenchimento manual de dados que geravam alto índice de erros. A iniciativa gerou ganhos em produtividade, mais agilidade e precisão.

Coelho entende que a área de TI deve ser empática e entregar a inovação de forma transversal. “A TI, eu não consigo aumentar a receita. Produzimos peças e as vendemos para grandes montadoras. Eu não tenho um e-commerce que ajudará na receita”, compara categórico. “Mas eu tenho como inovar nos processos internos para reduzir custos. Então, eu ganho na margem de redução de custos. Isso tem ajudado a conquistar as áreas, melhorar a bonificação de todo mundo e é o que eu tenho perseguido com a minha equipe. Sair do conformismo”, acrescenta.

É preciso inspirar

Estar há 35 anos na mesma organização dá a Coelho uma visão privilegiada não só da Teksid, como de toda a vertical na qual se insere. A indústria automobilística tem passado por grandes transformações na última década e é uma das mais sensíveis às decisões geopolíticas e crises econômicas. Ao mesmo tempo, nunca esteve tão suscetível aos anseios do consumidor.

“Quando entrei [na Teksid], não tínhamos carro elétrico, carro híbrido, todas essas mudanças da própria engenharia do automóvel”, pondera. Tais mudanças exigem sensibilidade dos CIOs. “O CIO se preocupa com os custos dele, mas ele tem de estar atento ao escopo da empresa. Não adianta realizar apenas cortes, é preciso ajudar as outras áreas. Acho que essa é a grande contribuição da TI. Tem de achar a dor do cara, entender o dia a dia, sair da zona de conforto”, conta Coelho.

Coelho se beneficia de ter a mesma equipe ao seu lado há 20 anos. “São pessoas que trabalharam comigo ainda quando eu era analista de sistemas”, recorda. Liderança, diz ele, também é sobre confraternizar e conquistar um clima transparente, onde todos possam se ajudar. “Temos muita confiança um no outro. Eu não sou um cara que fica vigiando. Ajudo onde é preciso e cobro resultados. Os fracassos são nossos e os resultados também”, destaca.

Uma de suas estratégias para engajar o trabalho em equipe diz respeito a amarrar os objetivos de um colaborador ao do outro. “Meu objetivo final estará amarrado. Se um falha, é também responsável pela falha do outro”, conta.

Para Coelho, o CIO precisa ter consciência de que é o elo entre os processos da empresa e a direção. “É ir lá e entender a estratégia e conseguir fazer com que as pessoas a executem. Você tem de ter esses dois perfis – um executivo para conversar com diretor industrial, comercial, o presidente, o CFO, estar preocupado com os resultados – e traduzir isso para que o pessoal entenda”.

A liderança também está em constante evolução. “Tem de dar uma injeção de motivação o tempo inteiro”, resume Coelho. “Aí vem a responsabilidade de sempre buscar o novo para que as pessoas se inspirem em você. Não é questão de vaidade, nem nada. Mas nosso papel é ser fonte de inspiração”, reflete. E o que ele projeta para o futuro? “Só paro de trabalhar quando meu último impulso elétrico cessar”.

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