O objetivo é claro e ficou definido no Pacto Ecológico Europeu de 2019: em 2050, a Europa terá de atingir a neutralidade carbónica. O setor dos transportes – que representa 25% das emissões de gases com efeito de estufa à escala global – tem um papel determinante para alcançar esta meta, o que dá um cada vez maior destaque à mobilidade elétrica. Dos 10,8 milhões de veículos elétricos existentes no mundo, um pouco mais de dois milhões circulam pelas estradas europeias. Após uma década de rápido crescimento, em 2020, o stock global de carros elétricos atingiu a marca de 10 milhões, um aumento de 43% em relação a 2019, atingindo 1% do parque automóvel. A Europa alcançou assim a posição de líder global no crescimento de vendas, ultrapassando a China pela primeira vez, embora esta se mantenha líder de mercado.

Em apenas um ano, a Europa registou, de acordo com a Federação Europeia para o Transporte e Ambiente (T&E), 1.365.000 novas matrículas (1.045.000 das quais nos países da União Europeia), de veículos elétricos e híbridos plug in. Por trás desta evolução estão as novas normas europeias, que obrigam os fabricantes de automóveis a reduzir a média global das emissões para 95gCo2/Km no biénio 2020/2021 e o impacto da pandemia, que levou vários países europeus a incluir os incentivos financeiros à compra de carros elétricos nos seus planos de retoma económica.

Em Portugal – que não só não aumentou o valor dos incentivos à compra, como acabou com os estímulos na aquisição de veículos híbridos com autonomia em modo elétrico até 50 quilómetros e com um nível de emissões inferior a 50gCO2/km –, as vendas de carros elétricos continuam a aumentar. De acordo com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), em 2020, o segmento dos elétricos cresceu 55,3% alcançando uma quota de mercado de 13,6%. Já este ano, foram vendidos 2.351 veículos elétricos entre janeiro e abril.

Uma questão de eficiência

“Da energia produzida por um motor térmico, 70 a 80% é desperdiçada. ‘Serve’ apenas para aquecer o ambiente. Já um motor elétrico ‘foleiro’ tem 70% de eficiência e um razoavelmente bom tem mais de 90%, ou seja, aproveitamos quase toda a energia que lhe damos”, explica Mário Alves, Professor no ISEP/ Politécnico do Porto e especialista na área da mobilidade elétrica, pondo a nu a eficiência da motorização elétrica e o potencial poluidor dos motores convencionais. Algo para o que a maioria da população está, cada vez mais, sensibilizada.

“A pandemia alterou profundamente a forma como encaramos a mobilidade e nós, na EDP, assumimos a liderança na transição energética e na mobilidade elétrica como um meio para atingir a descarbonização do setor dos transportes e contribuir para uma mobilidade cada vez mais verde”, afirma por seu turno Pedro Vinagre, administrador da EDP Comercial e um dos oradores do painel sobre mobilidade elétrica no próximo EDP Business Summit, a realizar-se a 17 de junho.

O futuro da mobilidade elétrica

“O custo, o alcance e a infraestrutura de carregamento” são alguns dos argumentos utilizados na resistência à adesão à mobilidade elétrica, segundo Roger Atkins, fundador da consultora ‘Electric Vehicles Outlook’ outro dos oradores do evento onde se vai discutir a importância da transição energética para a sociedade e para as empresas. Para uma massificação da mobilidade elétrica, é necessário ultrapassar algumas destas limitações, nomeadamente os problemas associados às atuais baterias de lítio, a necessidade de maior autonomia e a rapidez de carregamento. Mas é precisamente nas baterias que algumas vantagens se têm vindo a revelar. “A paridade de custos está a aproximar-se rapidamente para os veículos elétricos, em oposição aos veículos de combustão interna, especialmente no que diz respeito à bateria e conforme, os volumes de vendas aumentam, as economias de escala reduzirão o preço geral do veículo”, afirma Roger Atkins. Acrescenta ainda que, sobretudo quando se trata de frotas comerciais, “. Estamos no ponto de inflexão para muitos, pois o Custo Total de Aquisição (CTA) já está em paridade, ou até melhor posicionado”. Desta forma, será cada vez mais fácil argumentar a favor da aquisição de um veículo elétrico.

Um argumento reforçado no Anual Car Cost Index 2020, realizado pela LeasePlan e que tem como base dados de 18 países europeus. Foram tidos em conta os custos associados ao combustível, desvalorização, impostos, seguro e manutenção da média dos primeiros quatro anos do veículo, presumindo-se uma quilometragem anual de 30.000 km. Concluiu-se que, na maioria dos países, no segmento médio familiar, já é mais barato ter um veículo elétrico do que um carro a gasóleo ou a gasolina. Em Portugal, esse valor atinge os 100 euros de diferença.

Respostas no mercado

Se o custo já não deve ser colocado em causa, a falta de infraestruturas de carregamento também não. Petar Georgiev, especialista em mobilidade elétrica da Eurelectric (Associação das Empresas Elétricas Europeias), acredita que este se resolverá com o funcionamento do mercado. “Neste momento, a autonomia destes veículos ainda não é grande, mas, se houver mais veículos elétricos a circular, os pontos de carregamento terão mais utilização e a sua instalação será mais barata”, assegura.

De acordo com o relatório da T&E, existem atualmente 225 mil pontos de carregamento na União Europeia (EU), 60 mil dos quais foram instalados no ano passado, sendo que 75% dos pontos existentes estão concentrados em apenas quatro países (Holanda, Alemanha, França e o Reino Unido). À escala global, existem atualmente 9,5 milhões de pontos de carregamento privados, sete milhões dos quais instalados em residências. Os cenários mais otimistas (e ambiciosos) apontam para que, em 2030 – em menos de uma década -, este número suba para os 190 milhões (140 em meio residencial e os restantes nos locais de emprego).

A nível europeu, a Comissão Europeia estima que, em 2030, sejam necessários três milhões de pontos de carregamento público para 40 milhões de veículos elétricos, o que representa um aumento de 13 vezes, face aos valores atuais.

Também para o fundador da ‘Electric Vehicles Outlook’, o carregamento privado irá progredir e os modelos de partilha farão aumentar essa tendência, à semelhança do que aconteceu no setor de aluguer de imóveis com o Airbnb. “Os tempos e as taxas de carregamento ideais irão gerir os desafios da rede. Acredito que o aumento do teletrabalho ajudará nisso”. Acrescenta que “o carregamento público trará inovação real – como troca de baterias e carregamento sem fios de alta potência. Ambas as soluções são relativamente incipientes – mas mostram uma grande promessa.”



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