Caros leitores, digníssimas leitoras,
Dando sequência à nossa trilogia, vamos tentar jogar uma luz naquela que é uma das principais dúvidas quando falamos em carros elétricos: o que as empresas fazem com a bateria dos carros no final da vida útil delas?
Se no primeiro texto abordamos a questão da duração das baterias e a redução dos custos de fabricação, desta vez iremos abordar alguns exemplos do que o pessoal tem feito com elas.
Quando a vida útil da bateria acaba, bate a dúvida: reciclar ou reutilizar? No caso dos carros elétricos, a melhor alternativa é a de reutilizar. Explico.
Para as baterias de óxido de lítio-cobalto, usadas na grande maioria dos dispositivos de consumo (como o seu laptop), o valor intrínseco é relativamente alto, e a reciclagem pode ser lucrativa apenas com a recuperação do cobalto e do cobre.
Já as baterias EV, presentes nos carros elétricos, são mais fáceis de rastrear, coletar e gerenciar. No entanto, o valor do material em uma bateria EV, numa base de R$/kg, é menor, devido às menores quantidades de cobalto usadas por kWh. Os fabricantes estão visando reduzir ainda mais o conteúdo de cobalto e até mesmo reduzir o conteúdo de níquel mais adiante.
Então, grosso modo, no caso dos carros elétricos, a melhor alternativa é a reutilização.
Além disso, a geração de “lixo” desse tipo só tende a aumentar, e numa progressão geométrica.
Estimativas apontam que JÁ são retiradas de circulação algo próximo a 102 mil toneladas/ano dos automóveis EV. Volume esse que até 2040 deverá saltar para 7,8 milhões de toneladas/ano.
Mas o lado interessante é que essa reutilização das baterias deverá movimentar algo como US$ 31 bilhões/ano.
Um dos exemplos que fomos conhecer é o que a empresa portuguesa Inframoura vem implementando.
A companhia tem em seu core business o conceito de “smart cities”. O que eles têm em mente (e que será uma forte tendência daqui para frente) é a descarbonização. Esse é um dos mantras das empresas lá nas Europa e um dos motivos para que a eletrificação dos veículos se acelere (vide COP-26).
Pois bem, o que os nossos amigos lusitanos fizeram? Eles decidiram dar uma “segunda-vida” às baterias dos carros. Mas, como assim?
Simples: eles já possuem uma central fotovoltaica para a geração de energia própria. Aí, a utilização das baterias dos carros entrou no processo de armazenamento de energia.
Eles planejam o uso inteligente de toda energia que é gerada pela central, armazenando em baterias de carros elétricos. Com isso, conseguiram chegar aos 100% de autonomia da rede elétrica “normal” de lá. Além disso, o pessoal conseguiu minimizar a quantidade de 14 toneladas de CO2/ano. Ou seja, aquela bateria que não “servia” mais para o automóvel encontrou outra utilidade.
E uma boa parte das montadoras que estão apostando na eletrificação também estão dando os seus pulos.
Por exemplo, a sueca (na real, chinesa) Volvo fez uma parceria com a empresa BatteryLoop para desenvolver alguma aplicação de “segunda-vida” para as suas baterias.
No caso da Volvo, os packs de baterias dos seus automóveis servirão como uma unidade de armazenamento de energia estacionária – na Europa, estima-se que já em 2024 teremos um total de 7,2 GWh de baterias residenciais instaladas, principalmente na Alemanha.
Além disso, para a montadora, parcerias como essa servem para investigar a forma como as baterias envelhecem quando reutilizadas em utilizações menos agressivas, quando comparadas com a utilização normal no automóvel.
O que todos estão olhando agora é o mercado daqui a 10-15 anos. A eletrificação dos veículos é mais do que certa. O grande questionamento é: como obter novos fluxos de receitas e/ou economia de custos com as baterias?
O que todos já sabem, é que o armazenamento de energia fora dos automóveis é possível. Agora, como monetizar isso da melhor forma?
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