Se você entrar em uma loja de donuts na Califórnia, é provável que ela seja de propriedade de uma família do Camboja. Isso se deve a um refugiado que construiu um império e ficou conhecido como “rei dos Donuts” ? e depois perdeu tudo.
Ted Ngoy era um estudante do ensino médio em Phnom Penh, capital do Camboja, quando viu pela primeira vez Suganthini Khoeun, filha de um alto funcionário do governo.
“Ela era tão bonita”, recorda. “Não havia mulher mais linda do que ela.”
Todos os meninos da sua escola eram apaixonados por Suganthini, e sendo um menino pobre de uma vila perto da fronteira tailandesa, ele achava que não tinha chance.
“Ela era poderosa, como uma princesa real”, diz Ted. E era sempre escoltada.
Mas Ted descobriu que o minúsculo cômodo em que ele estava alojado, no quarto andar de um conjunto habitacional sem elevador, dava para a mansão de Suganthini. E ele enxergou uma oportunidade. Todas as noites, se sentava à janela aberta e tocava flauta. Ao ouvir a música flutuar pela cidade tranquila, a mãe de Suganthini comentava que quem estava tocando devia estar apaixonado.
Uma noite, ele viu Suganthini na varanda e decidiu que era hora de agir. Ele escreveu um bilhete, dizendo a ela que morava no prédio em frente e era flautista ? enrolou o papel em uma pedra e arremessou.
Seu gesto não foi correspondido por dias. Até que um dos empregados de Suganthini apareceu à sua porta com a resposta.
“O bilhete dizia: ‘Agradeço você por tocar flauta. É tão incrível, tão tocante’. E então começamos a nos comunicar, com o vai e vem de mensagens”, diz Ted.
“O que acontece se eu decidir entrar no seu quarto?”, ele perguntou um dia.
Suganthini respondeu: “Bem, tenha cuidado, se você não entrar no meu quarto, vai entrar no quarto da minha mãe”.
Ela achou que Ted estava brincando, mas ele estava falando sério. Apesar dos seguranças armados e cães de guarda da mansão, em uma noite chuvosa, Ted subiu em um coqueiro, passou por cima do arame farpado e entrou pela janela do banheiro.
Ele se arriscou e abriu a porta de um dos quartos ? e lá estava Suganthini, dormindo profundamente.
Ted a acordou, e ela estava prestes a gritar por socorro, quando percebeu que era seu colega de turma.
“O que você está fazendo aqui?”, ela perguntou.
“Bem, é que eu me apaixonei por você”, ele respondeu.
“Mas o que faremos de manhã? Tenho que ir para a escola.”
“Não se preocupe, vou me esconder embaixo da sua cama”, disse Ted. E foi isso que ele fez.
Suganthini levava comida para ele à noite e, depois de muitos dias, ela também disse que o amava. Eles fizeram um pacto de sangue, prometendo fidelidade eterna. Ele conta que se escondeu no quarto dela por 45 dias até ser descoberto.
A família de Suganthini insistiu que Ted terminasse o namoro, dizendo que ele não a amava. Ele fez o que pediram, mas depois puxou uma faca e se esfaqueou, declarando que preferia morrer a viver sem ela. Enquanto ele se recuperava no hospital, Suganthini também cometeu um atentado contra a própria vida. Diante de tal determinação, sua família permitiu que os dois ficassem juntos.
“É uma história maluca, mas é verdade”, diz Ted, agora com 78 anos.
“Eu sentia um amor verdadeiro por ela.”
Mas ele admite que também sabia que conquistar o coração de Suganthini trazia a promessa de uma vida melhor.
Eles se casaram e formaram uma família ? e a vida deles foi boa até o início da guerra civil, em 1970, entre o governo e as forças do partido comunista Khmer Vermelho, liderado por Pol Pot.
Ted, que falava quatro línguas, recebeu um cargo de oficial na Tailândia, oferecido pelo cunhado de Suganthini, o general Sak Sutsakhan. Sendo promovido instantaneamente ao posto de major, Ted e sua jovem família se mudaram para Bangcoc, e todos os meses ele viajava de volta ao Camboja para recolher o salário de seus soldados.
Mas a situação no país era cada vez mais perigosa e em sua última viagem, em abril de 1975, a capital foi tomada. Ted conseguiu escapar no último voo de Phnom Penh, mas os pais de Suganthini ficaram para trás. Mais tarde, ela descobriu que eles estavam entre os primeiros a serem executados pelo Khmer Vermelho.
No mês seguinte, o então presidente dos Estados Unidos, Gerald Ford, insistiu que o país deveria receber 130 mil refugiados do Camboja e Vietnã, dizendo aos críticos: “Somos um país construído por imigrantes de todas as partes do mundo e sempre fomos uma nação bastante humanitária”.
Ted e Suganthini venderam tudo o que tinham e chegaram à Califórnia em um dos primeiros voos de refugiados, com seus três filhos, um sobrinho adotivo e duas sobrinhas. A família foi alojada em um campo de refugiados erguido às pressas em uma base de treinamento da Marinha, Camp Pendleton. Para poderem deixar o acampamento e encontrar trabalho, eles precisavam de um patrocinador americano, que arranjaria a eles um emprego e um lugar para morar.
Por semanas, eles viram outras famílias irem embora, até que finalmente também foram patrocinados por um pastor de uma igreja em Tustin, Orange County, a cerca de 56 quilômetros ao sul de Los Angeles. Ted trabalhava como zelador da igreja, mas ele logo percebeu que ganhar US$ 500 por mês não seria suficiente para sustentar sua família. Com a permissão do pastor, conseguiu mais dois empregos, como vendedor das 18h às 22h e frentista das 22h às 6h.
Ao lado do posto de gasolina, havia uma loja de donuts chamada DK Donuts. O cheiro era delicioso e, quando Ted provou pela primeira vez, lembrou a ele algo familiar ? uma massa frita, também circular, chamada nom kong.
“Fiquei com saudades de casa”, diz.
Durante toda a noite, Ted observava as pessoas comprando café e donuts, e percebeu que era um bom negócio. Uma noite, ele perguntou à mulher no balcão se economizar US$ 3 mil seria suficiente para comprar uma loja de donuts. Ela disse que ele estaria jogando dinheiro fora. E, em vez disso, sugeriu que ele participasse do programa de treinamento administrado pela rede de donuts Winchell’s. Ted se tornou o primeiro aprendiz deles do Sudeste Asiático.
“Aprendi a preparar as fornadas, a cuidar da folha de pagamento, da limpeza, das vendas ? de tudo”, relembra.
Um dos truques que aprendeu foi assar os donuts em pequenas porções ao longo do dia para mantê-los frescos ? e porque o cheiro das fornadas era a melhor forma de publicidade.
Quando ele completou o treinamento de três meses, a Winchell’s deu a ele uma loja para administrar no Píer Balboa, um ponto turístico na península de Newport não muito longe de Tustin. Suganthini se tornou o rosto sorridente atrás do balcão, embora ela quase não falasse inglês. Ted fazia muitas fornadas à noite, com seu filho mais novo, Chris, que acabava coberto por uma leve camada de farinha enquanto dormia ao lado dele na cozinha.
Eles economizaram dinheiro de todas maneiras, até mesmo lavando e reutilizando as espátulas para mexer café ? até que foram repreendidos pela Winchell’s. Quando houve excedente de caixas de donuts rosa, Ted as comprou com preço reduzido, e as caixas rosa se tornaram sua marca registrada.
A família trabalhava de 12 a 17 horas por dia, numa verdadeira força-tarefa. No fim de semana, os filhos mais velhos, Chet e Savy, então com 9 e 8 anos, ajudavam servindo café, embalando donuts e dobrando caixas. Durante a semana, eles iam à escola, onde às vezes ficavam com tanta fome que roubavam comida da lancheira de outras crianças.
Em um ano, Ted havia economizado o suficiente para dar entrada em uma segunda loja de donuts, uma empresa familiar chamada Christy’s. Mais uma vez, Suganthini era o rosto amigável que recebia os clientes e, quando se tornou cidadã americana, adotou o nome de Christy.
Depois de um ano administrando duas lojas, eles economizaram US$ 40 mil ? e Ted decidiu expandir o negócio. Ele comprou uma loja de donuts maior e se ofereceu para alugar o Christy’s original para uma família de refugiados cambojanos, que trabalhava em lanchonetes de fast food com um salário baixo. Ele os treinou e entregou as chaves.
Ted começou a procurar mais lojas de donuts para comprar e alugar para outros refugiados.
“Usar o dinheiro para poder apoiar os outros é um sentimento tão poderoso quanto qualquer droga”, escreveu ele mais tarde.
Trabalhando o tempo todo, Ted e Christy sabiam muito pouco sobre o que estava acontecendo em sua casa no Camboja, mas o que escutavam não era bom. Eles choravam e oravam pela família que haviam deixado para trás.
Sob o comando do Khmer Vermelho de Pol Pot, as pessoas foram forçadas a trabalhar em fazendas comunitárias ? e aqueles que tinham dinheiro ou educação foram torturados e mortos. Em quatro anos, quase dois milhões de cambojanos foram executados ou morreram de fome, doença e excesso de trabalho.
Em 1978, as tropas vietnamitas invadiram o país e, em 1979, Pol Pot foi derrubado, levando a outra onda de refugiados cambojanos. Os pais e as irmãs de Ted fugiram pela fronteira para a Tailândia, e Ted recebeu um telefonema da embaixada dos EUA perguntando se ele os patrocinaria para morar nos EUA. Naturalmente, ele concordou e montou uma loja de donuts para as irmãs.
Cada vez mais parentes se apresentavam em busca de patrocínio.
“Alguns deles eram primos, tios, sobrinhas”, diz Ted. “Mas muitos não eram parentes, apenas moravam na mesma vila ou tinham ouvido meu nome. Acho que não há nada de errado no fato deles mentirem para a embaixada porque todo mundo precisa de uma chance para sobreviver. Então, eu simplesmente fiz isso. (Ajudei) tantos quantos pude.”
Ao longo dos anos, Ted e Christy patrocinaram mais de 100 famílias, muitas vezes as hospedando antes de arrumarem moradia, concedendo empréstimos e oferecendo trabalho nas lojas de donuts. Ted encorajou outros a fazerem o mesmo.
“Foi como um incêndio na colina, muito rápido”, diz Ted.
Os cambojanos trabalhavam duro e, como toda a família colaborava, eles não tinham que pagar salário. Isso abriu caminho para os refugiados se estabelecerem, se revelando um modelo de negócio lucrativo.
Por fim, os cambojanos eram donos de tantas lojas de donuts na Califórnia que dominaram o mercado, colocando a Winchell’s em segundo plano ? algo pelo qual Ted se sente um pouco mal.
“Eles são uma boa empresa e devo gratidão a eles”, diz Ted.
“Os cambojanos devem muito a eles.”
Em 1985, 10 anos depois de chegar aos Estados Unidos como refugiados, Ted e Christy estavam milionários, sendo proprietários de cerca de 60 lojas de donuts. Ted ficou conhecido como Donut King (“rei dos Donuts”) ? ou tio Ted, por causa dos muitos imigrantes cambojanos que ele patrocinou. O casal tinha carros de luxo, uma mansão de um milhão de dólares com piscina e elevador e viajava de férias para o exterior.
“Eu alcancei meu sonho americano”, afirma Ted.
“Éramos felizes ? até que o jogo acabou destruindo minha vida. O jogo é triste, a parte mais triste da minha vida.”
A derrocada de Ted aconteceu em Las Vegas.
Nas primeiras vezes em que ele e Christy visitaram a cidade, de férias com a família, tudo correu bem: eles assistiram a um show de mágica e viram uma performance de Elvis. Mas, em uma viagem posterior, Ted experimentou as mesas de blackjack dos cassinos e foi logo fisgado pelo glamour e pela adrenalina.
“Eu nunca tinha jogado antes, mas como todos os jogadores compulsivos do mundo, primeiro você aposta uns trocados, US$ 10, US$ 20. Quando o tempo passa, entra no seu sangue e você simplesmente não consegue tirar”, diz Ted.
Como ele era um grande apostador, os cassinos o colocavam em suítes com diária de US$ 2 mil ? e ofereciam a ele ingressos VIP para os melhores shows.
Ele começou a passar vários dias em Las Vegas, perdendo de US$ 5 mil a US$ 7 mil por jogo ? negligenciando sua família e seu império de donuts.
“Eu não tinha tempo para cuidar dos negócios, então os negócios estavam afundando. Não tinha tempo para expandir. Foi um desastre”, recorda.
Christy ia procurá-lo nos cassinos, com as crianças a tiracolo. Ted se lembra de se esconder dela atrás das máquinas de caça-níqueis.
Sempre que Ted ganhava, a família comemorava com ele. Mas, quando perdia, ele se revoltava, batendo portas, quebrando móveis e assustando as crianças.
Na sequência, ele voltava a Las Vegas na tentativa de recuperar o que havia perdido.
“Quanto mais você vai atrás, mais vai embora”, diz ele em um documentário recente sobre sua ascensão e queda, chamado The Donut King.
“É um demônio, é um monstro. É um monstro em mim.”
Christy sempre o perdoava, mas corria a notícia de que Ted não era mais confiável.
“Me tornei um homem muito, muito mau e pedi dinheiro emprestado aqui e ali”, diz ele.
Algumas pessoas de quem ele pegou dinheiro emprestado eram pessoas para quem ele havia alugado lojas de donuts. Quando ele perdia o dinheiro delas, simplesmente lhes transferia a loja ? sem contar a Christy, cuja assinatura ele falsificou.
Ted tentou controlar o vício. Chegou a entrar para os Jogadores Anônimos, mas logo voltou às mesas de apostas do cassino.
“Eu choro. Todo mundo chora”, afirma. “Depois de chorar, volto a jogar”, disse ele a um entrevistador.
Por duas vezes, ele foi para um mosteiro budista. Raspou a cabeça e passou três meses descalço na Tailândia, voltando um outro homem? ou pelo menos assim ele pensava. Mas, em poucas semanas, ele estaria dentro de um avião rumo a Las Vegas.
“É impossível explicar que o dinheiro não teve nada a ver com isso. Eu era viciado em um sentimento, e o dinheiro era simplesmente a agulha que aplicava a dose tóxica”, escreveu ele em sua autobiografia, também chamada The Donut King.
Por fim, ele e Christy ficaram com apenas uma loja de donuts, que decidiram vender. Seu filho mais novo, Chris, os levou de carro para pegar o dinheiro ? mas deu tudo terrivelmente errado.
Ao voltar com US$ 85 mil em espécie no porta-malas do carro, eles foram parados pela polícia; como haviam atrasado os pagamentos, o veículo aparecia como roubado. Os três foram levados para a delegacia, mas estavam com muito medo de mencionar o dinheiro no porta-malas. Quando foram soltos, o dinheiro havia sumido.
“É uma história muito triste”, diz Ted.
Em 1993, Ted e Christy voltaram para o Camboja. Eles haviam perdido sua bela casa e sua rede de lojas, mas ainda tinham dinheiro suficiente para viver confortavelmente. Ted agora tinha uma nova paixão ? a política. O Camboja estava tendo suas primeiras eleições democráticas desde a guerra, e ele queria se candidatar para ajudar a reconstruir seu país.
Além disso, ele raciocinou que, como político, não poderia jogar.
“Se preciso do voto, não posso jogar. Quando as pessoas souberem da minha má reputação, não vão votar em mim. Então decidi mudar.”
No auge de seu sucesso nos Estados Unidos, ele havia sido um republicano fervoroso e um entusiasta arrecadador de fundos para o partido. Ele havia conhecido o ex-presidente Richard Nixon e os presidentes Ronald Reagan e George H.W. Bush.
E decidiu chamar seu próprio partido político de Partido Republicano de Livre Desenvolvimento.
Mas o nome era equivocado. E levou muitos eleitores a presumirem, incorretamente, que ele era contra a família real do Camboja ? e perdeu a disputa. Ele foi convidado, no entanto, a se tornar um consultor do governo para comércio e agricultura.
O Camboja era um país pobre e subdesenvolvido após anos de guerra. Inspirado pelo sucesso econômico de Taiwan, Ted decidiu fazer lobby junto aos EUA para obter o status de “nação mais favorecida” (NMF), o que abriria as portas para o investimento estrangeiro.
“Gastei cerca de US$ 100 mil do meu próprio bolso, meu tempo, meu tudo”, conta.
Ele fez lobby com seus contatos no reservado círculo republicano, incluindo o senador John McCain, e o status de NMF foi concedido permanentemente em 1996.
Enquanto Ted estava imerso na política cambojana, Christy embarcou para os Estados Unidos para o nascimento de um neto. Enquanto ela estava fora, Ted teve um caso. Devastada, ela pediu o divórcio.
Em 2002, Ted estava falido. Ele havia gasto todo o seu dinheiro em campanhas eleitorais e em uma tentativa fracassada de introduzir um novo tipo de arroz híbrido, que acreditava que melhoraria as colheitas.
Depois de uma desavença com um poderoso político rival, Ted temeu por sua própria vida e fugiu para os Estados Unidos.
Ele pousou em Los Angeles com menos de US$ 100 no bolso ? era todo o dinheiro que restava a ele. Sua família não queria vê-lo e ninguém lhe ofereceu trabalho, nem mesmo para preparar fornadas de donuts.
Ele havia perdido o respeito de sua família e da comunidade. Foi uma experiência humilhante e o pior momento de sua vida.
“Muitas vezes tentei cometer suicídio porque me odiava. Odiava o jogo, odiava ter tratado Christy tão mal e meus filhos por causa do jogo, eu me odiava”, diz.
Ted morou de igreja em igreja, até que uma senhora cambojana permitiu que ele morasse na varanda coberta do seu trailer.
“Se eu precisava tomar banho, batia na porta: ‘Senhora, posso tomar um banho?’ E ela me deixava entrar. Então, quando o jantar estava pronto, ela batia na porta, e eu abria a porta para jantar.”
Aos domingos, ele ia à igreja onde o filho dela era pastor e participava de estudos bíblicos. Ted se tornou profundamente religioso.
Sem um tostão, após quase quatro anos de exílio, Ted voltou para o Camboja. Ainda sem teto, ele se mudou para a cidade costeira de Kep, no Golfo da Tailândia. Ele não tinha como ganhar a vida até que um antigo contato chinês pediu ajuda a ele com um negócio imobiliário. Ted negociou bem e recebeu uma boa comissão.
Outros negócios de terrenos se seguiram, e ele voltou a ser milionário. Se casou novamente e teve mais quatro filhos ? os dois mais novos ainda estão na escola.
Ted manteve um perfil discreto até que a cineasta de Los Angeles Alice Gu entrou em contato com ele alguns anos atrás. Filha de imigrantes, ela ficou curiosa em saber por que as lojas de donuts californianas eram administradas com tanta frequência por cambojanos e por que havia tantas lá.
Na maior parte dos EUA, há uma média de cerca de uma loja de donuts para cada 30 mil pessoas ? em Los Angeles, há uma para cada 7 mil pessoas. E das 5 mil lojas de donuts independentes na Califórnia hoje, cerca de 80% ainda são de cambojanos, diz ela.
“Essa história evidencia os refugiados de uma forma positiva, mostra o que acontece quando eles têm uma oportunidade”, afirma.
“No fim das contas, esta é a história de um cara que veio para o país sem nada e, com algum ímpeto, sonhos e um pouco de sorte, realmente construiu uma vida encantadora.”
E logo a jogou fora.
Alice teve dificuldade de convencer Ted a voltar para a Califórnia para as filmagens. Ele havia queimado muitas pontes e, na época, seus filhos mal falavam com ele.
“Ele tinha medo de ser rejeitado e se sentir sozinho ? mas eu o forcei!”, conta a cineasta.
Por fim, gravar o documentário acabou sendo uma experiência de cura para Ted.
Embora ainda haja algum ressentimento em relação a ele na comunidade cambojana, cujo dinheiro suado ele jogou fora em apostas, ele também é venerado por muitos. E gostou de conhecer a geração mais nova de fabricantes de donuts, que estão inovando e inventando novos sabores.
Também se desculpou com muitos daqueles que magoou. Acima de tudo, a viagem permitiu a ele se reconciliar com Christy, que se casou novamente, e com seus filhos adultos.
“Eles me perdoaram totalmente. Eu disse a eles mil vezes que sentia muito. Cada vez que os encontrava, falava: ‘Desculpa, filho, desculpa, minha filha, desculpa, Christy’.”
“Se pudesse voltar o relógio atrás, eu faria isso. Não posso mudar o passado, mas aprendi de forma dura.”
Ele se comunica com eles quase todos os dias.
“Todos estão felizes em me ver agora, porque eu mudei de bandido para mocinho”, avalia.
Ted agora vê que os mesmos traços de personalidade que o fizeram correr grandes riscos na vida também o tornaram uma presa fácil para o jogo.
“É a forma mais pura de correr riscos, a ansiedade e emoção destiladas por trás de cada decisão de negócio e declaração de amor ousada”, escreveu ele em sua autobiografia.
Ele acredita que sua fé cristã finalmente curou seu vício em jogo, embora admita que gostava de apostar em jogos de futebol até o ano passado.
“É por isso que quero dizer ao mundo: ‘Não jogue’. Quando você se envolve com o jogo, sua vida acaba. Você vai acabar destruindo toda a família e não se relacionando mais com o mundo, simplesmente acaba. O jogo é um demônio.”
Porém, no fim das contas, Ted acredita que venceu.
“Eu nunca recuo. Nunca desisto. Nunca me rendo. Mesmo no jogo. Demorou mais de 40 anos. Mas eu ganhei. No final, eu ganhei.”
A autobiografia de Ted Ngoy se chama “The Donut King: the rags to riches story of a poor immigrant that changed the world”.
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