Às vezes, olho para um carro e sinto que ele devolve o olhar. O Audi A7 Sportback tem disso. Os faróis parecem franzidos pelo capô e a grade tipo bocão é retesada nas pontas. O desenho é o ponto forte do cupê de quatro portas. Ter essa criatura de silhueta alongada, comprimento e peso de picape e altura de esportivo sai por R$ 457 mil. E não estamos falando do valor completo.
A versão Performance ainda tem alguns opcionais: head-up display (R$ 10 mil), visão noturna (R$ 16 mil), faróis de LED Matrix HD (R$ 13 mil) e pintura metálica (R$ 2.400). O carro testado completo tem preço final de R$ 498.400. É o preço de se andar em um Audi A6 que passou pela alfaiataria.
O Porsche Panamera básico com o mesmo motor parte de R$ 559 mil, uma gorjeta de diferença. E tem a mesma plataforma MLB do A7 e também o mesmo V6 3.0. Coisas de grupo Volkswagen.
Capô ultra longo, vidros em cunha, linha de caráter demarcada e traseira curtinha foram características mantidas do original, mas tudo passou por uma modernização estilo “ligue os pontos”. Nada que tenha ousado redesenhar o perfil do cupê.
Nem mesmo a tampa de combustível interfere no visual: a peça tem formas que se integram perfeitamente aos vincos laterais. As lanternas ligadas por LEDs são novidades. O jogo de luzes é detalhado em três dimensões e fica um pouco mais alto do que antes. Um aerofólio retrátil (que pode ser acionado por botão ou automaticamente a 120 km/h) dá aquele arremate final. A cor verde dá o tom final.
De tão bela e agressiva, a carroceria é capaz de fazer você ir até a garagem só para dar uma olhadinha no carro. Nem precisa sair para passear.
A denominação cupê de quatro portas sempre gera polêmica entre os leitores, mas é uma classificação bem antiga. O Rover P5B de 1967 não me deixa mentir. O carro britânico tinha versão cupê de duas e de quatro portas, com linha de teto diferente da usada pelo sedã.
O interior também impressiona. Nas duas últimas gerações, a Audi forçou uma subida de patamar em design e nível de acabamento em relação aos rivais. Embora a concorrência tenha evoluído, o A7 Sportback é daqueles carros que pedem para você tirar o sapato antes de entrar. A iluminação interna vai do laranja lounge ao vermelho cabine de submarino, do relaxamento ao tático.
A cabine tem mais telas do que um mostruário de loja de eletrônicos: um trio formado por painel digital (12,3 polegadas), central multimídia (10,1″) e tela de controle de funções no console (8,6″). Todas são configuráveis e garantem um ar de cabine de jato de passageiros à noite. O painel tem instrumentos de alta definição e tem várias visualizações.
A tela do multimídia e a inferior têm aquela sensação de acionamento físico ao serem tocadas (haptic touch), sendo que a segunda é dedicada ao acionamento do ar-condicionado digital. Você também pode pinçar funções no multimídia, algo útil para ampliar mapas e outras funções.
São tecnologias vindas dos celulares. O único senão neste ponto é o fato do Audi não ter se inspirado nos smartphones na hora de adotar uma assistente de inteligência artificial, ponto em que os Mercedes-Benz e BMW se destacam. E também não há conexão 4G integrada ao carro ou carregador por indução.
Há alguns outros pontos críticos. O acabamento é bom, porém, deveria usar couro no painel e na parte superior das portas. São detalhes esperados em um carro de meio milhão.
Embora seja arrojado, o A7 não se esqueceu do conforto. Muitas vezes, carros muito bonitos se tornam vítimas do seu próprio estilo, mas isso não acontece com o Audi. O entre-eixos de 2,92 m libera espaço para quatro passageiros altos, mas nem pense em colocar um quinto no espaço central, uma vez que o túnel é quase montanhoso para abrigar o cardan da tração integral. Privilegiados, os ocupantes das pontas contam com ajuste individual do ar-condicionado.
Mesmo sendo avantajado, o A7 Sporback tem dinâmica afiada como a de carros menores. A tração quattro aprendeu a lição de que somente trens devem andar sobre trilhos. De uns tempos para cá, a transmissão passou a repassar mais força para a traseira. A mudança garantiu um comportamento dado a escapadinhas e não mais neutro ou com saídas de frente vexatórias.
Segundo prega a tradição, um grã turismo é aquele carro que une desempenho ao conforto para cruzar distâncias continentais. O A7 Sportback tem esse jeito de engolidor de quilômetros. Velocidades obscenas estão a um toque do acelerador, mas rodar civilizadamente pelas estradas é igualmente com ele.
O fato do ronco invadir pouco a cabine faz com que a sensação de aceleração e retomadas brutas sejam completadas de maneira quase que fantasmagórica. Os 340 cv e os 50,1 kgfm representam uma força invisível em seu (quase) silêncio. As rotações de torque e de potência máximas praticamente se emendam e as respostas são instantâneas mesmo no modo econômico. O Drive Select tem também os modos dinâmico, individual e conforto.
Por ser de dupla embreagem, o câmbio automático de sete marchas não deixa a festa parar e garante trocas sem interrupções perceptíveis. E a tração quattro impede que os pneus Pirelli P Zero 255/40 aro 20 rompam relação com o asfalto. O Audi arrancou de zero a 100 km/h em 5,5 s, contra 5,3 s oficiais. A retomada de 60 a 100 km/h leva 2,7 s. Ao frear, o A7 joga a âncora e estanca em 23,4 m vindo a 80 km/h.
O consumo médio de 10,1 km/l poderia ser melhor, especialmente na cidade, onde os 7,5 km/l desapontaram mesmo com o start-stop. O Audi faz uso do novo sistema híbrido leve de 48 V, que é capaz de desligar o propulsor em velocidades entre 55 e 160 km/h. Esperávamos que o recurso ajudasse mais no quesito. A despeito disso, a autonomia é de carro diesel graças ao tanque de petroleiro.
A suspensão adaptativa poupa sacolejos e ganha firmeza no modo esportivo, que quase anula a assistência da direção em altas velocidades e deixa o carro plantado no chão. O A7 aponta decididamente e nem parece ter seus 1.955 kg, peso de picape média.
O grande problema é a ausência de eixo traseiro esterçante. Para vocês terem uma ideia, o manobrista do meu estacionamento pediu para que eu mesmo estacionasse depois de uma tentativa, em um misto de preocupação com o carrão e pelo raio de giro de Fiat Toro (12 metros), que poderia ser reduzido em 1,1 metro com a adição da tecnologia, que também deixaria o comportamento em curva mais plantado do que já é. Olha que nem contei o preço para ele. Pelo menos a câmera de 360 graus e o assistente de manobras ajudam a espremê-lo em uma vaga nesta hora.
Se você quiser uma mãozinha no trânsito, dá para aproveitar o controle de cruzeiro adaptativo, o alerta de mudança de faixa e a frenagem automática. O head-up display ajuda ao permitir que o motorista não desvie a visão do para-brisa. E o sistema de visão noturna é digno de um tanque de guerra moderno e pode ser visualizado entre os instrumentos, sinalizando obstáculos e pessoas.
Na hora de relaxar no isolamento da cabine, o A7 Sportback tem itens interessantes. Os bancos dianteiros abraçam fortemente e têm ajustes elétricos e memória para o motorista. O som Bang & Olufsen é capaz de lhe fazer apreciar até as músicas que você não gosta e o som do motor sequer interfere. O ronco é a única coisa no Audi que é discreta.
Teste
Aceleração
0 – 100 km/h: 5,5 s
0 – 400 m: 13,8 s
0 – 1.000 m: 24,8 s
Vel. a 1.000 m: 217,5 km/h
Vel. real a 100 km/h: 100
Retomada
40 – 80 km/h (Drive): 2,5 s
60 – 100 km/h (D): 2,7 s
80 – 120 km/h (D): 3,4 s
Frenagem
100 – 0 km/h: 36,4 m
80 – 0 km/h: 23,4 m
60 – 0 km/h: 13 m
Consumo
Urbano: 7,5 km/l
Rodoviário: 12,7 km/l
Média: 10,1 km/l
Aut. em estrada: 927,1 km
Ficha técnica
Motor
Dianteiro, longitudinal, 6 cil. em V, 3.0, 24V, comando duplo variável, turbo, injeção direta, gasolina
Potência
340 cv entre 5.000 e 6.400 rpm
Torque
50,1 kgfm entre 1.350 e 4.500 rpm
Câmbio
Automático de dupla embreagem e sete marchas, tração integral
Direção
Elétrica
Suspensão
Indep. McPherson (diant.) e multilink (tras.)
Freios
Discos ventilados (diant. e tras.)
Rodas e pneus
255/40 R20
Dimensões
Compr.: 4,97 m
Largura: 2,12 m
Altura: 1,42 m
Entre-eixos: 2,92 m
Tanque
73 litros
Porta-malas
535 litros (fabricante)
Peso
1.955 kg
Central multimídia
10,1 pol., sensível ao toque
Garantia
2 anos