Desde que surgiu em 2013, o Captur é quem mais vende no segmento dos pequenos SUV, aqueles que partilham a base com veículos utilitários, no caso, o Renault Clio. Depois de comercializar mais de 15 milhões de unidades, o SUV com que a marca francesa lidera a procura, em Portugal e na Europa, introduz no mercado a segunda geração, que começa por recorrer a uma nova plataforma, a CMF-B, mais apta a acolher mecânicas electrificadas, tanto híbridas como híbridas plug-in (PHEV).
Fruto desta alteração de plataforma, o novo Captur é 11 cm mais comprido (atinge agora 4,23 m), tem uma distância entre eixos 3,3 cm mais generosa (2,639 m), o que deixa antever mais espaço lá dentro para “encaixar” as pernas. O novo SUV permite ainda montar jantes de maior diâmetro e, simultaneamente, garantir um maior raio de brecagem, que agora se cifra nos 11 metros.
Esteticamente, o Captur tem óbvias semelhanças com o antigo, apesar de não existir uma única peça em comum. Além de ser maior, o SUV passa a usufruir de faróis LED à frente e atrás, de série em todas as versões, um capot de motor mais volumoso e pejado de nervuras e vincos, para lhe reforçar a personalidade.
Por ser maior, há preocupações evidentes para conter o peso do novo modelo, que assim praticamente não sofreu alterações ao montar o capot do motor em alumínio e a tampa da mala em fibra. E, para o incremento das dimensões não lhe beliscar o rendimento aerodinâmico, o pára-choques frontal apresenta umas entradas laterais que conduzem o ar para as cavas das rodas, com um elemento cromado a realizar a separação entre pintura da carroçaria e do tejadilho, de forma a oferecer 90 combinações possíveis e com melhores acabamentos, o que ajuda à personalização do modelo.
Maior por fora, o Captur é também mais espaçoso por dentro, com a Renault a estar consciente que é forçoso continuar a evoluir para manter a liderança. Quando surgiu no mercado, em 2013, o Captur tinha apenas um concorrente, o Nissan Juke, mas agora há mais de 20 modelos B-SUV.
Sentado ao volante, o espaço à frente pareceu-nos similar, com uma correcta posição de condução e um banco envolvente, com um curioso design de apoio de cabeça fixo, que se revela funcional, mas é atrás que o volume disponível passa a ser maior. O assento posterior mantém a sua anterior característica de regular longitudinalmente, podendo agora avançar 16 cm em vez de 12, de modo a privilegiar o espaço da mala quando se vai, por exemplo, às compras. A bagageira disponibiliza 536 litros, substancialmente mais do que os anteriores 455, isto sempre com o banco traseiro avançado.
Segundo a Renault, a opção foi favorecer o espaço de quem se senta atrás, que assim passa a ter ao dispor mais 4 cm em largura, para lidar mais à vontade com três adultos, e mais 1,1 cm para alojar as pernas em comprimento.
Mais evidente são os materiais de melhor qualidade no tablier, consola e painéis de porta, sendo estes de plástico macio à frente em todas as versões, excepto a mais simples e acessível. O painel de instrumentos é sempre digital com 10 polegadas, excepto na versão mais simples, para depois o ecrã central vertical de 9,3” (menor na versão mais barata), que é ligeiramente curvo e similar ao utilizado pelo Clio, ser um dos mais agradáveis no segmento.
O pequeno SUV pode estar equipado com caixa manual ou de dupla embraiagem (EDC), sendo que neste caso o comando surge montado numa consola suspensa que resulta bem em termos estéticos.
Partilhando a base com o Clio, o Captur herda igualmente os seus trunfos tecnológicos, a começar por um sistema de navegação mais eficaz do que o que é habitual na marca, para cúmulo associado a um sistema de busca via Google, o que simplifica bastante a pesquisa dos destinos. O sistema é ainda actualizável over-the-air, vantagem conseguida à custa de o modelo estar sempre ligado à Internet, permitindo mesmo a criação de um hotspot dentro do veículo (à semelhança do Clio), solução que é gratuita durante os primeiros três anos e paga a partir daí.
A associação a smartphones está ainda mais facilitada, seja através do Android Auto ou do Apple CarPlay. Através do ecrã central o condutor acede ao Multi-Sense, que lhe permite personalizar uma série de funções, associadas ao motor e à caixa de velocidades (se for EDC), que variam consoante os modos de condução Eco, Sport e My Sense (o mais configurável), mas também na iluminação interior. Em termos de cores e materiais, o Captur junta mais 16 possibilidades de personalização interior às 90 já mencionadas para o exterior.
No capítulo de ajudas à condução, o pequeno SUV francês inclui programador de velocidade activo, que respeita a velocidade programada e mantém a distância ao carro da frente, travando e acelerando quando necessário. A isto o Captur alia um sistema que o ajuda a não abandonar a faixa de rodagem, existindo uma versão mais sofisticada que o mantém ao centro da faixa de rodagem, similar à que a Nissan monta no Leaf e Juke. O Captur avança ainda com as ajudas ao estacionamento do Easy Park, o reconhecimento de sinais de trânsito e aviso ao condutor, além do alerta de trânsito em manobras em marcha-atrás.
Ao contrário do Nissan Juke, que partilha a mesma plataforma e mecânicas e que optou por oferecer apenas um único motor a gasolina, o 1.0 TCe de 100 cv, o Captur mantém-se fiel à tradição e permite aos seus clientes escolherem a opção que melhor se adaptar às suas necessidades, entre gasolina, gasóleo e, em breve, híbridos e PHEV.
A versão mais acessível para o mercado nacional vai estar equipada com o mesmo motor do Juke e do Clio, o 1.0 TCe de 100 cv, com caixa manual de cinco velocidades, que substitui o anterior 0.9 TCe de 90 cv. Os mais exigentes têm à disposição o motor 1.3 TCe, com 1.333 cc, exactamente o mesmo que foi desenvolvido pelas marcas da Aliance Renault Nissan Mitsubishi, em colaboração com a Mercedes. Esta unidade fornece 130 ou 155 cv e pode estar acoplada a uma caixa manual de seis velocidades ou EDC (automática de dupla embraiagem) com sete velocidades e embraiagem húmida, para ser mais suave e progressiva.
Para quem percorre mais quilómetros e, especialmente, para as frotas de empresas, o Captur continuará a propor um motor turbodiesel, o 1.5 dCi, com versões de 95 e 115 cv, o primeiro exclusivamente com caixa manual e o segundo com esta em alternativa à EDC.
A novidade mais esperada do Renault Captur é a introdução, agendada para o mercado nacional a partir de Junho de 2020, da versão PHEV. Este primeiro híbrido plug-in da Renault herda praticamente tudo o que já se conhece do híbrido já anunciado para o Clio, o denominado E-Tech, que aqui irá ser denominado E-Tech Plug-in por ser recarregável.
O motor principal continua a ser o de combustão, o 1.6 atmosférico a funcionar segundo o ciclo Atkinson, pouco preocupado com a potência e com mais enfoque no consumo e nas emissões. De origem Nissan, esta unidade deverá produzir cerca de 80 cv, recorrendo a um motor eléctrico com igual potência para atingir o valor total máximo de 160 cv. Este motor eléctrico é alimentado por uma bateria de 9,8 kWh, curiosamente refrigerada por água (a primeira na Renault e apenas porque o local onde está instalada no Captur não permite recorrer ao arrefecimento por ar forçado e refrigerado do Zoe), o que lhe permite percorrer 45 km em modo eléctrico (com uma velocidade máxima de 135 km/h), segundo o WLTP, ainda que este valor suba para 65 km em ciclo urbano, de acordo com a Renault.
O elemento mais inovador deste E-Tech Plug-in está na caixa de velocidades, que encerra não só os dois motores eléctricos que podem ajudar à tracção, como as três velocidades mecânicas e duas eléctricas, tudo isto a funcionar sem embraiagem e sem deslizamento que comprometa a eficiência. A marca francesa garante que, mesmo quando a carga da bateria estiver esgotada, o Captur E-Tech PHEV, a funcionar apenas como híbrido, será ainda assim capaz de reduzir o consumo e emissões em 40%, o que lhe permite revelar-se mais poupado do que as versões turbodiesel.
Disponíveis para ensaio, durante a apresentação que teve lugar nos arredores de Atenas, Grécia, estavam apenas os motores mais potentes a gasolina. Mais precisamente o 1.3 TCe de 130 cv, equipado com caixa manual de seis velocidades, e o 1.3 TCe na versão de 155 cv, associado a uma caixa automática com dupla embraiagem e sete velocidades (EDC7). O pequeno 1.0 TCe de 100 cv e os três diesel (1.5 dCi de 95 cv, 1.5 dCi de 115 cv e 1.5 dCi com 115 cv e caixa EDC7) pecaram pela ausência.
O motor a gasolina de 155 cv que usámos estava montado no mais refinado dos Captur, o Initiale Paris (que também pode recorrer ao 130 cv), que justifica o preço mais elevado com um nível superior de equipamento e qualidade de materiais mais rebuscada. Resta saber se o incremento no preço justifica o ganho em sofisticação, o que só saberemos mais à frente.
Em auto-estrada, foi possível colocar à prova a ajuda à manutenção da faixa de rodagem com lane centering, que funcionou na perfeição, à excepção das curvas mais fechadas. O sistema é herdado da Nissan e, também aí, está limitado a um torque de 1,2 Nm, pouco para descrever algumas curvas. Ainda assim, permitiu-nos percorrer distâncias de forma mais relaxada e sem colocar em causa a segurança. Nesta condições, a uma velocidade de 120 km/h, o motor de 155 cv revelou um consumo de apenas 5,2 litros, um bom valor para esta classe de veículos.
Depois da auto-estrada chegaram as curvas, onde o Captur Initiale Paris provou a suavidade da EDC7, bem como a eficácia do comportamento. A carroçaria parece mais rígida, cortesia sem dúvida da nova base, pelo que mesmo com suspensões macias, para privilegiar o conforto a bordo, o novo Captur revelou uma atitude muito boa nas sinuosas estradas costeiras da região, provando que as alterações introduzidas pela CMF-B nas suspensões acertaram na mouche. É claro que, como é habitual nos motores a gasolina, à medida que abusámos mais da pressão no acelerador, o consumo tende a subir e de forma mais evidente do que acontece nos diesel.
O Captur com 130 cv revelou-se, como seria de esperar, menos potente, como que a confirmar os 193 km/h anunciados (em vez de 202 km/h) e os 0-100 km/h em 9,6 segundos (em vez de 8,6 segundos). Contudo, não conseguimos apurar diferenças tão evidentes no capítulo dos consumos, apesar de ser impossível garantir que as condições eram idênticas.
Os preços ainda não são conhecidos, uma vez que ainda estão a ser tema de discussão entre a Renault Portugal e a casa-mãe em França. Sabe-se, sim, que o novo Captur chegará ao nosso país em Janeiro de 2020, com os motores a gasolina 1.0 TCe de 100 cv, 1.3 TCe de 130 e 155 cv. E entre estas duas opções, em igualdade de equipamento, será o mais possante a ter um futuro mais risonho, uma vez que as vantagens para o utilizador são evidentes, sem penalizações no consumo ou no preço, uma vez que estarão separados por apenas cerca de 1.000€.
Os motores a gasóleo são esperados no nosso país igualmente no primeiro mês do ano, mas estas poderão ser igualmente as motorizações que mais irão sofrer com a chegada do Captur PHEV, aguardado para Junho de 2020.
Interessante é o facto de o Captur dever inicializar a comercialização da versão E-Tech Híbrida Plug-in em simultâneo com a versão E-Tech Híbrida, que monta a mesma mecânica do novo Clio híbrido. Mais acessível e igualmente com importantes vantagens em termos de custos, face ao PHEV, esta última versão poderá ter uma palavra a dizer nas vendas entre nós, como aliás já acontece há algum tempo entre os diversos híbridos da Toyota.