O mundo se vira para uma nova realidade em termos de mobilidade. Ela é silenciosa, limpa, prática e econômica. Os veículos híbridos e elétricos chegaram para ficar. Em países desenvolvidos, já são uma realidade: a China é a maior consumidora, seguida pela Europa e pelos Estados Unidos, de acordo com a Advanced Innovative Engineering (AIE). No Brasil, esse transporte ainda engatinha e busca mercado para se consolidar.
Segundo dados da BNEF, braço de pesquisa em energia da Bloomberg, a frota elétrica global atingiu 5 milhões de veículos em 2018 e é atendida por pouco mais de 600 mil pontos de recarga no mundo. Estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla inglês), que atua como orientadora política energéticas para seus 29 países membros, projetam que se os veículos elétricos atingirem uma fatia de 30% do mercado global automotivo em 2030, serão necessários entre 14 milhões e 30 milhões de pontos de recarga no mundo para atender esses consumidores de forma regular.
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Para a rede funcionar, ela precisará ser bem distribuída, diferente do que acontece hoje. Cerca de metade dos 600 mil pontos de recarga atuais estão na China. Há lugares, como o Reino Unido, onde há infraestrutura, mas os carros elétricos são relativamente escassos, apesar dos incentivos para carros e ônibus elétricos. Mesmo na Califórnia, onde foi sancionada uma lei que obrigará novos ônibus a serem elétricos a partir de 2029, e toda a frota em 2040, a questão do carregamento de veículos elétricos não é simples.
Na Suécia — nono maior mercado de carros elétricos do mundo — , devido à demanda e à dificuldade de encontrar um lugar para carregar os automóveis, a rede McDonald’s decidiu transformar 55 lanchonetes em pontos de abastecimento para veículos elétricos. O slogan da campanha foi intitulado como McCharge.
A padronização na infraestrutura de recarga também é um problema: plugues que não encaixam nos carros de diferentes marcas, adaptadores pouco funcionais, preços altos, etc. A realidade é que 80% dos proprietários de veículos elétricos fazem a recarga em casa ou no local de trabalho. No geral, a falta de pontos de recarga é um dos principais entraves para a popularização dos veículos elétricos no Brasil e no mundo.
O Brasil, segundo dados do site Plugshare, tem cerca de 400 estações de recarga espalhadas pelas grandes cidades, e elas não conseguem dar conta da frota de aproximadamente 3 mil veículos elétricos e híbridos emplacados. As estações que existem são iniciativas pontuais de pessoas, empresas ou do próprio governo, e não estão interligadas como uma rede. Na prática, o proprietário de veículo elétrico tem que planejar e prever o seu deslocamento do próximo dia, e mapear os possíveis pontos de carregamento.
O BMW Group Brasil vai instalar até o fim do ano 40 novas estações de recarga no Brasil. Atualmente são 110 pontos, seja postos próprios da BMW, seja parcerias como com a Ipiranga e Grupo Pão de Açúcar.
Em parceria com a EDP Brasil, a BMW criou o primeiro corredor de abastecimento de veículos elétricos entre Rio de Janeiro e São Paulo. Seis estações de recarga ao longo da rodovia Presidente Dutra tornaram possível realizar uma viagem completa em carro elétrico entre as duas cidades.
Uma parceria da Cabify com a EDP levou à instalação de uma estação de recarga gratuita de elétricos no Cabify Home, em São Paulo, espaço destinado à assistência e ao descanso dos motoristas do aplicativo. O ponto é aberto a qualquer pessoa com automóvel elétrico.
A Zletric, uma startup de Porto Alegre (RS) lançou recentemente o conceito inédito de redes de carregamento. A empresa pretende estar presente no maior número de lugares possíveis para proporcionar aos usuários do transporte elétrico maior mobilidade, menor custo e liberdade para transitar. A iniciativa busca gerar a experiência de fazer o deslocamento como se faz com o carro movido a gasolina, sem a preocupação de planejar uma recarga, já que o usuário poderá usufruir de uma rede interligada, disponível e próxima.
As primeiras 50 estações de recarga já foram instaladas na capital gaúcha e em Florianópolis (SC), além de cidades-chave da região metropolitana dos dois estados. Ainda em 2019, será ampliada a malha no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Em 2020, a expectativa é que sejam instaladas mais 400 estações, crescendo para outros estados do país.
Para desenvolver esta rede, foi usada tecnologia 100% brasileira. A conectividade nas estações se dá por meio de uma rede de dados sem fio, como a usada no conceito internet das coisas, chamada de Zletric Link, tecnologia inédita no sistema de recarga de carros elétricos. Ela permite gerenciamento remoto, identificação de clientes e consumos, criação de relatórios, além de conciliar a energia consumida. Todas as estações são gerenciadas pela Zletric Energy Cloud, plataforma em nuvem que faz, desde a apuração das recargas dos clientes até a gestão da energia junto à concessionária.
Pelo visto, estamos a caminho de uma revolução energética que vai gerar uma mobilidade tecnológica, eficiente e limpa. Já é tendência global, e torceremos que esta onda cresça por aqui também!
*Juan Pablo D. Boeira é CPO do Innovation Center, Mestre e Doutorando em Design Estratégico e Inovação pela UNISINOS e Professor de Inovação e Tópicos Avançados de Marketing na UNISINOS E ESPM