A tecnologia dos automóveis ainda vai evoluir muito, mas o Porsche 911 será “o último dos autônomos, um dos últimos a deixar de ter motor a combustão”. Quem faz a afirmação é Mathias Hofstetter, diretor de powertrain do icônico cupê alemão. “Não faz sentido oferecer condução autônoma para um esportivo cujo propósito é garantir o prazer de dirigir”, completa com convicção.
Só tenho de concordar com Herr Hofstetter, após dirigir um Carrera por mais de 200 km a partir de Stuttgart, sul da Alemanha. O modelo é o mais barato da família 911, que neste ano estreou sua oitava geração. Começa a ser vendido no Brasil pelo preço inicial de R$ 519 mil. E pouco deixa a desejar em performance com relação ao Carrera S, oferecido por R$ 679 mil.
Comparando com a versão mais forte, o motor 3.0 biturbo de seis cilindros garante 385 cv; 65 cv a menos do que no S, mas 15 cv a mais do que na geração anterior. O torque máximo da versão de entrada é de 45,9 kgfm, 8 kg menor do que no irmão mais forte. A transmissão é a mesma de dupla embreagem e oito marchas.
Procurar essas diferenças de performance durante o roteiro que mesclou de rodovias, estradas secundárias cheias de curvas e vicinais estreitas é comprometer o prazer de conduzir um carro esportivamente. Das acelerações brutais nas retas ao desenho preciso das curvas, o 911 Carrera de fato nega totalmente sua vocação para ser um futuro autônomo.
Para isso, além do perfeito casamento entre motor e câmbio, o cupê conta com a acertada suspensão, McPherson na dianteira e multilink nas rodas de trás. O conjunto administrado pela eletrônica resulta um rodar naturalmente mais firme por conta da proposta do carro, obediente nas curvas e equilibrado para uma tocada mais agressiva.
O 911 Carrera passa a ser equipado de série com o controle ativo de suspensão, tradução livre da sigla PASM. O recurso permite a seleção entre os modos Normal e Sport. Já o pacote Sport Chrono é um opcional oferecido por R$ 13.500. O seletor no volante permite alterar o modo de condução, ajustando as respostas de motor, transmissão, direção e chassi do conforto ao superesportivo.
No centro do botão giratório, com o Sport Plus ativado e mesmo com o carro em movimento, o motorista pode acionar mais um recurso de alta performance, o Sport Response. E preparar-se para o coice: por 20 segundos, a pressão dos turbos é elevada a 1,2 bar e o câmbio dinamiza as trocas de marcha para respostas mais vicerais. Segundo a Posche, com esse opcional o 911 Carrera acelera de 0 a 100 km/h em 4,0 segundos, e chega à máxima de 293 km/h. O cupê “de série” é 0,2 segundo mais lento, e completa a prova em 4,2 s.
Outro destaque desse 911 Carrera no percurso por trechos turísticos sinuosos foi a precisão da direção. Obediente às respostas rápidas do cupê, transmite confiança nas curvas e tem peso adequado na condução em altas velocidades na rodovia.
Item mais do que bem vindo, o Wet Mode é de série em todo 911 de oitava geração. Microfones nas caixas de roda identificam pelo ruído o nível de água na pista e ajustam a distribuição de tração para maior segurança de condução.
As paradas eficientes do 911 são garantidas pelos discos nas quatro rodas. Eles têm 330 milímetros de diâmetro e pinças de quatro êmbolos pintadas de preto. Os discos de freio de cerâmica e o escapamento esportivo equipavam vários carros nessa apresentação, mas são itens opcionais na versão de entrada. Já as rodas de 19 e 20 polegadas originais do modelo serão substituídas para o Brasil pelas de 20 e 21 polegadas.
A posição de dirigir bem baixa – e um certo limite na visibilidade – são tradições mantidas nessa versão mais barata da linha 911. Preservada também a alta qualidade dos materias usados no acabamento. Destaque para o multimídia com tela de 10,9 polegadas de fácil uso. Havia carros esquipados com sistemas de som Bose e Burmester. Quanto ao espaço interno… outra tradição 911: apenas minha mochila viajou com conforto no banco traseiro.
Rodei outros 200 km de carona no 911 Carrera conversível. Não se ouvem ruídos por conta da capota pelo excelente cuidado com a acústica. Com o teto fechado, mal se percebe o barulho da turbulência ou dos pneus sobre o asfalto. Apenas o ronco do motor. No Brasil, a Porsche vai oferecer o 911 Carrera conversível somente a partir da versão S.
Esta oitava geração do 911 chega às ruas preprada para ser híbrida. A transmissão de dupla embreagem e oito marchas da ZF está dimensionada para o torque do motor elétrico, e a plataforma foi desenvolvida de maneira a reservar espaço para as futuras baterias sob o banco traseiro.
A Porsche afirma não ter definido ainda qual tipo de híbrido equipará o carro. Pode começar por um sistema “leve”, o chamado mild hybrid, na próxima geração do 911, daqui a cinco a oito anos. Baterias deverão somar aproximadamente 300 kg, assim o chassi teria de contar com fibra de carbono para compensar o acréscimo de peso.
Eu gostei, mas será que o consumidor brasileiro com uma gorda conta bancária vai gostar do novo 911 Carrera? Parece que sim. Segundo a Porsche, de janeiro a agosto deste ano foram vendidas 154 unidades do modelo no Brasil, resultado 22% melhor do que o mesmo período do ano passado. 500 consumidores manifestaram interesse, dos quais 200 confirmaram encomendas para o carro. As entregas começam em outubro.
Vale lembrar que, dos R$ 519 mil do preço inicial, um 911 Carrera completamente equipado, com teto e capa do retrovisor de fibra de carbono e freios de cerâmica, vai custar mais de R$ 700 mil. Dificilmente seu dono terá algum constrangimento de ter um “carro de entrada” na garagem.
Ficha técnica
Motor
Traseiro, longitudinal, 6 cilindros opostos, 3.0, 24V, injeção direta, biturbo, gasolina
Potência
385 cv a 6.500 rpm
Torque
45,9 kgfm entre 1.950 e 5.000 rpm
Câmbio
Automático de dupla embreagem e 8 marchas; tração traseira ou integral
Direção
Elétrica
Suspensão
Indep. McPherson (diant.) e multilink (tras.)
Freios
Discos ventilados de carbono-cerâmica (diant. e tras.)
Pneus
245/35 R20 (diant.) e 305/30 R21 (tras.)
Dimensões
Compr.: 4,52 m
Largura: 2,02 m (1,85 m sem retrovisores)
Altura: 1,30 m
Entre-eixos: 2,45 m
Tanque
67 litros
Porta-malas
132 litros (fabricante)
Peso
1.505 kg