Revelado sem muito alarde em maio deste ano para PS4, Xbox One PC e, pasmem, Google Stadia, o novo GRID é um reboot da popular série estabelecida na sétima geração de consoles. Antes de mais nada, é importante lembrar que os tempos são outros e que GRID talvez não tenha o mesmo espaço para se destacar como tinha, lá em 2008, já que o gênero de corrida nunca esteve tão bem servido.
Desenvolvido pela Codemasters, uma das empresas com maior pedigree quando o assunto é automobilismo, GRID de 2019 aposta em um retorno às raízes, sem muita firula, e preza pelo fator diversão ao mesclar simulação e arcade na medida certa.
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Corrida à moda antiga
Logo nos primeiros minutos de jogatina, GRID já exala aquela nostalgia gostosa da era do PlayStation 2 pela sua simplicidade – que acaba sendo um ponto negativo mais para frente. Há somente três modos de jogo disponíveis: a tradicional carreira, o multiplayer e uma opção para organizar partidas rápidas com condições definidas pelo usuário. Basicamente, o conceito do game se resume a ganhar pontos de experiência entre os três modos para evoluir ao máximo o nível de piloto.
Assim como o jogo concede XP em praticamente tudo que você faz, ele também te força a ser um piloto melhor. Você pode, por exemplo, ser expulso de uma partida ao abandonar o limite da pista, assim como ser eliminado por dano terminal caso a batida em outro veículo seja muito forte. A ideia de exigir mais do jogador, independente do nível de dificuldade escolhido, é bem interessante.
Outro ponto que ganhou bastante atenção no reboot é a inteligência artificial dos adversários. A IA é esperta, agressiva e abre poucos espaços para ultrapassagens, portanto é melhor se preparar psicologicamente para tomar fechadas e ser jogado da pista com frequência. A implementação de um sistema nêmesis também dinamiza os encontros, visto que o adversário que sofrer muito dano do seu carro tentará te colocar para fora a todo custo. E a vingança, aliás, será dada à altura.
O gameplay, por sua vez, equilibra no ponto certo o que há de melhor entre simulação e arcade e continua fino, com mudanças sutis que são bem-vindas. Por se tratar de um título concebido à atual geração, é natural que a física esteja mais realista, além de haver um senso maior de peso nos carros, que varia conforme a categoria. Um carro de turismo, por exemplo, não vai se comportar da mesma maneira que um GT ou Stock Car, ou seja, cada modalidade requer um tipo de adaptação.
No quesito acessibilidade, há um grande arsenal de opções de personalização de partida, o que inclui recursos para transformar GRID em um estilo mais cru de simulador. Para quem está começando agora e não tem muita familiaridade com a franquia, é possível habilitar o tal do rastro, que indica quando o jogador precisa acelerar, desacelerar e frear. Como de praxe em jogos do gênero, você pode voltar no tempo para corrigir algum vacilo utilizando o botão de rebobinar, um recurso bem útil para tornar o gameplay mais acessível a novatos.
Um pouco cedo para sair do forno
O catálogo de carros é um pouco modesto em comparação a outros jogos de automobilismo, uma vez que conta com cerca de 70 veículos. A vantagem é que você pode desbloquear centenas de skins, de diferentes níveis de raridade, para personalizar os carros como bem entender. A parte de customização estética é bem legal e concede absoluta liberdade ao jogador para que o veículo adquira uma identidade própria, sem burocracias.
Assim como nos jogos anteriores, o modo carreira é o grande chamariz e traz um número considerável de torneios divididos entre seis categorias, nos moldes old-school, o que garante dezenas de horas de jogatina caso você queira obter o troféu de ouro em todos eles. Muitos dos torneios, no entanto, são versões recicladas de competições que já foram visitadas, com variações de clima aqui e ali para tentar dar um ar diferente à forma como as pistas são apresentadas.
Embora o jogo tenha quatro continentes, o número de pistas é, sim, bastante limitado quando comparado a outros jogos do segmento. Tenha em mente que você vai correr nos mesmos circuitos com certa frequência, sendo que a única variação ocorre pela mudança de clima – que, cá entre nós, não é nada dinâmico. O tempo chuvoso ao menos foi bem trabalhado para dar uma sensação de que, de fato, a chuva atrapalha. Afinal, é preciso ter reflexos rápidos para reagir aos riscos da aquaplanagem.
O ponto alto do modo carreira é a participação do ex-piloto Fernando Alonso, bicampeão mundial da Fórmula 1 pela Renault. O atleta tem um torneio próprio no game e faz questão de aparecer em um evento final para confrontar o jogador, cara a cara, e fechar a campanha com chave de ouro. Sem dúvidas, os adeptos da modalidade se sentirão em casa.
Ainda que o modo campanha seja robusto, GRID não consegue acompanhar a gostosura de seu gameplay nos outros modos. Como mencionado acima, ele oferece três tipos de jogo, sendo que o único realmente indispensável é o modo carreira. A área de partidas rápidas nada mais é que uma opção para quem quer correr de maneira descompromissada e quebrar recordes de tempo seguindo alguns requisitos, algo pouco substancial ao conteúdo em si.
Com relação ao multiplayer, ele funciona bem e permite jogar partidas privadas e sessões online contra outros jogadores reais. O problema, na verdade, é que o modo é muito raso para ser levado a sério e, infelizmente, não tem calibre suficiente para dar sobrevida ao pacote depois que a campanha é finalizada. Seria interessante que houvesse uma opção para grandes competições multijogador, por exemplo, ao invés de corridas simples, sem muitos objetivos.
É até compreensível que um produto que preza pela simplicidade não ofereça tantas opções online assim, mas, como há um número limitado de modos, teria sido bom dar uma atenção especial ao conteúdo pós-jogo. A impressão que fica é a de que GRID foi lançado às pressas, ainda meio cru e sem muito tempero, com exceção da campanha. Até porque, antes mesmo de chegar às lojas, a Codemasters já havia prometido novos carros, pistas e torneios para os meses subsequentes ao seu lançamento. Não teria sido melhor esperar?
Visual impecável e detalhes que importam
Em termos de qualidade gráfica, GRID não deixa seus concorrentes saírem na frente e entrega uma fidelidade visual digna da atual geração. O estúdio fez questão de extrair todo potencial de seu sistema de iluminação para entregar uma experiência mais realista, com sombras envolventes e detalhes minuciosos nos veículos, tanto dentro como fora. O nível de detalhes das colisões é outro ponto que merece ser ressaltado pelo senso de velocidade e realismo com que as peças se soltam das carangas.
A parte sonora também está caprichada, com efeitos bem próximos à realidade. Os motores dos carros, por exemplo, têm ruídos bem característicos e variam de acordo com cada categoria. A cereja do bolo fica por conta do excelente trabalho de localização, com vozes e textos em português do Brasil. A campanha é narrada do começo ao fim por apresentadores que claramente buscaram inspiração na atmosfera mais festiva de Forza Horizon 4.
Mas vale a pena?
GRID ressurge das cinzas com o que sabe fazer de melhor: proporcionar diversão a quem, inclusive, não é muito fã de jogos de corrida. Com um visual incrível e aquele gameplay delicioso, uma de suas marcas registradas, o título é honesto o suficiente para garantir algumas horas de jogatina, embora não consiga se sustentar em conteúdo.
A sensação é de que a série parou no tempo e não se preparou o bastante para bater de frente com games de automobilismo mais modernos cujo diferencial é o fator replay. Por ora, a Codemasters vai ter que se contentar com uma posição um pouco abaixo do real potencial da franquia, já que faltou ambição para recolocar GRID, o reboot, de volta ao topo do pódio.
GRID foi gentilmente cedido pela Codemasters para a realização desta análise.