Paulo Freire: pernambucano, filho, esposo, pai, educador, sujeito social de luta, patrono da educação brasileira. Como argumenta Moacir Gadotti, era um homem conectivo: dialógico, amoroso e defensor do pensar certo. Enquanto um homem de causas tantas possibilitou – e tem ainda possibilitado – ao mundo exemplo de luta e resistência para estarmos sempre alertas aos processos que cerceiam e aprisionam os sujeitos.

O educador foi, e é, sujeito de resistência e coerência que muito ensinou e ensina cotidianamente a professores, e não professores, sobretudo a (re)existir na contradição. Ensina a olhar e ouvir o outro sem julgamento, afinal um diálogo freiriano se inicia no processo de escuta, no olhar atento e afetivo para com o outro.

Na dinâmica educativa nacional margeou reflexões acerca de uma educação progressista, em busca de romper com uma educação bancária em detrimento de processos educativos que valorem os conhecimentos culturais dos sujeitos com vista à transformação social.

Assim, fruto de uma coerência ético-política, de saberes tantos que se tornou odiado e amado. Afinal, a lógica neoliberal que marca o pensamento hegemônico se incomoda com a possibilidade de uma práxis educativa de qualidade social ofertada ao sujeito demasiadamente marginalizado.

Em março de 1964, o educador foi preso e exilado. O incômodo que causava – e tem ainda causado – aos sujeitos conservadores no poder era imensurável, já que se constituía mentor da educação para consciência. Enquanto ser humano de pensamento crítico rigoroso, não tinha militância partidária, o que fazia era militar pelo povo, por sua emancipação.

A educação libertadora e transformadora tem como cerne a (re)construção das dinâmicas educativas, em suma, da transformação das instituições escolares, do povo. Nesses meandros, ponderamos a urgência em (re)ler vida e obra de Paulo Freire, uma leitura esclarecedora, para o exercício de compreensão histórico-social que nos encontramos: um período de obscurantismo da ciência, do conhecimento, das instituições escolares.

É preciso, em meio a tantas perdas diárias no cenário social, alguém, ou mesmo alguns Freires com quem compartilhar pensamentos e reações. É preciso, tal como os ipês, florescer em outros tempos, margear a utopia do possível, o que se adensa e se torna possível na coletividade.

Que possamos unir forças, mediante estudos e reflexões críticas, para fazer valer os ensinamentos de Paulo Freire na nossa práxis cotidiana, tamanha a urgência, mediante o cenário político brasileiro, de mudança, ou seja, de um agir outro mais empático e afetivo. Por fim, que em tempos de contradição possamos (re)alocar espaços para encontros e encantamentos com a obra freiriana, em busca de ‘ser mais’.

José Firmino de Oliveira Neto é pedagogo e biólogo, mestre e doutor em Educação, professor da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia e do curso de Pedagogia da UniAraguaia, onde é coordenador  da pós-graduação em Psicopedagogia Clinica e Institucional.



LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here