Milhares de comentários e partilhas tornaram viral este post de 20 de outubro no Facebook, com a imagem de dois automóveis (um elétrico e outro a gasóleo) na chegada ao Algarve, no final de um percurso de 300 quilómetros que resultou nas seguintes contas: “40 euros de eletricidade para poder fazer apenas 300 quilómetros; a Skoda gastou apenas 27 euros em gasóleo“.

“O futuro está a ficar caro“, remata o autor da publicação. Mas será que estas contas estão bem feitas?

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Questionado pelo Polígrafo sobre esta matéria, Alexandre Marvão, especialista em mobilidade da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), considera que as contas não são justas e, aliás, acabam por ser até “falaciosas“. Porquê? Os valores apresentados não fazem referência ao consumo efetuado por ambos os veículos, nem o tipo de carregamento no caso do automóvel elétrico.

Desde logo, o custo da eletricidade para carregar um veículo elétrico depende do posto de carregamento e do tipo de utilização do veículo

Assumindo que o veículo tenha consumido 25 kWh por cada 100 quilómetros, esse valor multiplicado por três resulta em 75 kWh gastos, o que já é considerado um valor elevado, segundo Marvão. Portanto, os 40 euros a dividir pelos 75 kWh resulta em cerca de 53 cêntimos por kWh. “Este valor é um valor possível de se pagar”, indica, ressalvando porém que isto seria em situações de carregamento fora de casa, nos postos de abastecimento rápido

Em casa, um carregamento custaria cerca de 20 cêntimos por kWh ou até menos. De acordo com a informação disponível na página da Galp Energia, o valor que gastaríamos num carregamento que daria para percorrer 300 quilómetros não iria muito além dos 14 euros (com taxas, impostos e tarifa do operador incluídas).

“Os carregadores de rua variam, porque além da eletricidade temos os custos de utilização do carregador e, normalmente, varia da seguinte forma: conforme a velocidade de carregamento, mais caro se torna”, explica Marvão.

Por isso é possível pagar valores elevados que depois se reflitam em 40 euros de eletricidade. No entanto, Marvão realça que estes “supercarregadores”, que carregam mais rapidamente os veículos e, por isso, são mais caros – “são para utilização esporádica“. Por exemplo, quando vamos de férias e necessitamos de um carregamento rápido. “Não é para uma utilização regular do carro“, adverte.

Quanto ao automóvel a gasóleo (aliás, parece ser uma carrinha), estes 27 euros são “possíveis”, mas sob condições excecionais, em que o consumo seja bastante reduzido. Acresce o facto de o preço do gasóleo ter sido sucessivamente aumentado nos últimos meses.

Em conclusão, Marvão considera que, para chegar a estes valores, ter-se-ia de fazer um consumo muito elevado no automóvel elétrico. Ou seja, “não ter o mínimo de cuidado a conduzir e a seguir usar sempre um supercarregador dos mais caros“. Já no que concerne ao automóvel a gasóleo, com motor de combustão, o consumo para chegar aos 27 euros teria de ser “baixíssimo”. Isto é, “conduzirem o carro com imensos cuidados e a um preço do século passado“, aponta o especialista. 

Não sendo impossível, parece ser um cenário bastante improvável, além de depender de vários fatores. De qualquer modo, não é uma comparação linear, nas mesmas condições para ambos os veículos, pelo que não deixa de ser enganadora. Optamos por isso pela classificação de “Impreciso“.

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Avaliação do Polígrafo:

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