A Global Management Consultancy Arthur D. Little, consultoria americana sediada em Bruxelas, Bélgica, publicou recentemente matéria sobre o Índice de Prontidão da Mobilidade Elétrica Global (Global Electric Mobility Readiness Indez, GEMRIX 2022). Conversamos com o Dr. Philipp Siedel, sócio principal da Arthur D. Little sobre os obstáculos para os carros elétricos (EV) serem adotados e as medidas que podem impactar positivamente sua aceitação maciça;
Poe David Leggett¹
A Noruega se destacou ao ser o primeiro país a abraçar o carro elétrico. O que você considera medidas-chaves na Noruega para isso ter ocorrido e podem elas ser replicadas em outros países?
A Noruega aplicou um elenco de medidas de estímulo ao EV — e isso bem no começo da mobilidade elétrica (início dos anos 2000). Mudar o comportamento do consumidor leva tempo — levando em conta que carros são trocados a cada 3-5 anos em média.
Exemplos dessas medidas: isenção de impostos e tarifas tornando os EVs muito mais baratos do que os de motor de combustão interna (internal combustion enginesI, ICE) — ao, mesmo tempo em que aumentaram-se os impostos dos ICEs baseados em consumo de energia. Além disso, altos investimentos e empenho na criação de pontos de recarga públicos para que fossem possíveis viagens mais longas e reduzir a ansiedade de alcance. A natural abundância de energia ‘limpa’ das hidrelétricas da Noruega também ajudou a haver energia elétrica barata (apesar de a Noruega ser rica em recursos fósseis) e atender aos desejos dos consumidores de reduzir as pegadas de CO2 para a mobilidade.
Quais ações ou políticas você considera serem mais eficazes para estimular a compra de EVs? E até certo ponto trata-se de tornar as alternativas (veículos ICE) relativamente menos atraentes?
Analisamos os obstáculos para os consumidores adotarem os EVs. Para encorajar as pessoas a passar para os EVs, esses obstáculos precisam ser removidos de maneira eficaz. O alto preço dos EVs comparado com o dos carros tradicionais são o obstáculo nº 1, dúvidas sobre usabilidade, conforto e confiabilidade, o nº 2. Dentro da perspectiva do consumidor final, para melhorar a questão de preços relativos dos EVs pode-se torná-los mais baratos ou os ICEs mais caros. Usuários ou consumidores provavelmente preferirão subsídios para os EVs para reduzir essas. diferenças. Para um legislador, a elevação da carga tributária dos ICEs, por exemplo, com taxas de circulação baseadas nas emissões de CO2, são mais atraentes. As duas soluções precisam ser bem integradas aos regimes tributários nacionais ou regionais e aos níveis de preços de energia existentes, mas ambos podem ser igualmente eficazes.
Todavia, o obstáculo nº 2 não deve ser descartado. Medidas eficazes precisam incluir a criação de uma densa e disponível infraestrutura de carga para rodos os casos de uso (AC durante a noite e carregadores de alta potência nas estradas). Para baixar os obstáculos à adoção, organizações governamentais e municipalidades podem também desempenhar o papel de criadores de padrões e incrementar a eletrificação de suas próprias frotas (frotas municipais, veículos de serviços, etc.); A Noruega foi também quem deu o primeiro passo nessa direção;
Acha que o alto preço dos EVs continuará a ser um obstáculo significativo para que sejam adotados nos países mais pobres? E o que poderá ser feito para contornar isso?
O alto preço dos EVs é visto constantemente como obstáculo, ainda mais em países com baixos níveis de renda (esse é o motivo de termos incluído fatores macroeconômicos no GEMRIX). Mas deve-se sempre considerar os custos do ciclo de vida completos de um veículo ou o CTO (custo total de operação/de propriedade). Melhor CTO devido a menores custos de rodagem por quilômetro em energia e menores custos de manutenção e reparação é o que está levando à eletrificação de frotas de veículos comerciais, como os de entregas. Falando de países emergentes, exemplos de casos da consultoria na África e Sudeste da Ásia mostraram recentemente como o CTO dos veículos elétricos pode ser inferior ao dos de motor a combustão, de forma a incrementar negócios dos usuários comerciais como moto-táxis ou motoristas de serviços de entregas. Isso até é possível sem subsídios financeiros diretos para a compra de veículos e principalmente devido a menores custos de manutenção e de energia. Bom financiamento, aluguel e leasing com compra de veículos são capazes de derrubar obstáculos financeiros para a compra de veículos elétricos. Se for tirado o custo da bateria na compra inicial do veículo também é uma opção; Isto implica no oferecimento de um sistema de troca de bateria em vez de uma infraestrutura de carga ou um modelo de negócio de aluguel ou leasing efetivo. Para muitos países emergentes a mobilidade elétrica oferece uma oportunidade única para reduzir a dependência da importação de combustíveis fósseis e estabelecer fontes de energia descentralizadas de energia solar, eólica ou hidráulica para a mobilidade.
¹Editor do portal inglês Just-Auto.
Esta entrevista foi publicado publicada no Just-Auto em 3/10 último, tradução do AE.
BS