O título acima traz uma ótima notícia, e outra não tão animadora, para os ansiosos que desejam um carro elétrico nacional para rodar por aí. Os primeiros veículos elétricos da geração atual feitos no País, e vendidos a partir do ano que vem, não serão automóveis e, sim, caminhões.
Mesmo assim trata-se de um marco importante para a indústria porque esses empreendimentos podem atrair investimentos na produção de componentes e tecnologias eletrificadas. Também será um incentivo e tanto para um comprometimento mais sério das empresas de transporte pela baixa emissão de poluentes e a sustentabilidade – financeira, no caso da operação com caminhões -, valorizando a inserção de tecnologias de conectividade nos veículos comerciais.
Além da Volkswagen Caminhões e Ônibus, que já mostrou seu inovador e-Delivery e confirmou o lançamento para o primeiro semestre de 2021, a surpresa nesse segmento veio com o ressurgimento de um ícone: os caminhões FNM. Esta, a primeira marca de caminhões 100% nacional da história, pois começou a produção em 1949, já tinha até sido esquecida do público. A FNM retorna, porém, de maneira surpreendente com visual retrô inspirado nos Fenemê anos 1960 em dois modelos com propulsão elétrica.
A iniciativa é de um grupo de empresários do Rio de Janeiro e de Caxias do Sul, RS, local de produção dos caminhões. Aliás, o modelo de negócios da nova FNM é bem diferente do que tradicionalmente se encontra no ambiente automotivo tupiniquim, o que pode mostrar um caminho diferente para investimentos em produção local de veículos elétricos.
A montagem dos caminhões acontece nas instalações da Agrale em Caxias, com grande parte do conteúdo importado. Não haverá revendas físicas. Os negócios serão feitos pela internet e a planilha de custos estará aberta para consulta dos operadores logísticos.
Variação dos preços dos componentes cotados em dólar e até a margem de lucro será exposta ao comprador, assim como uma equação que mantenha positivo o custo total de propriedade do veículo. Esse sistema funciona por meio de demanda pré-contratada e pagamento antecipado.
Trata-se de uma abordagem diferente para operações de transporte urbano, o segmento em que os novos FNM 832 e 833, de 13 e 18 toneladas, atuarão. Segundo o fabricante os veículos terão capacidade de circular o dia todo e recarregar a bateria na garagem das empresas. Inclusive o programa de manutenção dos caminhões será feito no local que o cliente indicar. Essa é uma das grandes vantagens da concepção mais simples de um veículo elétrico totalmente conectado.
Com um sistema de propulsão de 650 volts que gera 355 cv os FNM zero emission produzidos no Brasil terão materiais nobres como nióbio no chassi, freios, suspensão e rodas dentre outras peças e estruturas para diminuir o peso e aumentar sua resistência, desempenho e autonomia. A cabine com desenho retrô criado pelo saudoso design brasileiro Anísio Campos, que nos deixou no ano passado, será produzida em fibra de vidro.
A tecnologia embarcada é outra surpresa para o segmento urbano. Os caminhões estarão totalmente conectados ao fabricante e às respectivas empresas operadoras. Isso permitirá utilizar câmaras anti-colisão com inteligência artificial, alertas de mudança de pista, de avanço do sinal de trânsito vermelho, de riscos de colisão frontal e traseira e reconhecimento de sinais de tráfego, dentre outros sistemas eletrônicos de monitoramento para operações logísticas.
Espera-se que o VW e-Delivery também chegue ao mercado oferecendo não apenas sua inovadora propulsão elétrica, fornecida pela brasileira WEG, mas os mesmos serviços e tecnologias que a FNM diz que terá em seus caminhões.
Antes mesmo da produção em série os caminhões elétricos da VWCO estão demonstrando, em testes com a Cervejaria Ambev, as suas qualidades. Utilizados no transporte urbano de bebidas os e-Delivery rodaram 15 mil quilômetros até agosto do ano passado. Deixaram de ser emitidas 11 toneladas de CO2 na atmosfera e economizados 3,3 mil litros de diesel, segundo monitoramento das duas empresas nesse período.
FNM ? FNM. A Fábrica Nacional de Motores, originalmente FNM, chegou a produzir motores aeronáuticos e automóveis, mas ficou conhecida mesmo pelos seus caminhões Fenemê, que foram fabricados até 1979. Agora a marca retorna com o mesmo logo, mas rebatizada para Fábrica Nacional de Mobilidade.
Decolagem. AutoData conversou com o diretor institucional da FNM, José Antônio Severo Martins. O lançamento da marca e da estratégia para produção neste momento tem a ver com o interesse de potenciais clientes. O projeto, segundo Martins, teve o impulso da intenção de compra de 3 mil unidades que seriam exportadas para o México e outros 4 mil caminhões FNM destinados ao mercado nacional.
Otimismo. Concretizado os planos da FNM realmente produzir um lote de caminhões elétricos em Caxias do Sul, nas instalações da Agrale, abre-se uma janela de oportunidade capaz de atrair empresas especializadas na eletrificação automotiva. Para os empreendedores da FNM é uma questão de tempo para que o aumento do volume produtivo possa levar a região de Caxias a concentrar investimentos e formar um polo internacional de produção de veículos comerciais elétricos.
Busão elétrico. É importante ressaltar o pioneirismo da BYD, fabricante chinesa que se instalou no Brasil em 2016 para montar ônibus 100% elétricos.
* Colaboraram: André Barros, Bruno de Oliveira e Roberto Hunoff