Com o anúncio da possibilidade de volta às aulas em outubro nas escolas paulistas, cresce a apreensão dos professores. Alguns profissionais se sentem preparados, sobretudo os das particulares. Nas públicas, há mais dúvidas e apreensão.

A professora Maura Maria Moraes de Oliveira, do Colégio Uirapuru, um dos mais tradicionais de Sorocaba, no interior paulista, por exemplo, disse que a escola fez mudanças, como a troca de bebedouros, instalação de dispensadores de álcool, demarcação dos espaços internos e interior das salas, e enviou imagens em vídeo para os alunos conhecerem e irem se habituando à nova estrutura. “Em paralelo e em conjunto, coordenação e professores, estamos organizando o novo formato híbrido, a escala futura dos alunos que terão aula presencial e os que terão em casa.”

Ela conta que a partir do 5.º ano, os alunos que estão em casa por conta do rodízio acompanharão em tempo real as aulas presenciais. “Com os pequenos, abaixo dos dez anos, é mais difícil e eles continuarão com o modo remoto.” Segundo a docente, desde o primeiro semestre, os professores vêm participando de programas, com acompanhamento de psicólogo para o fortalecimento emocional. “A partir de hoje, os professores que se sentirem à vontade já podem ir à escola, testar os equipamentos e até, se acharem mais fácil, trabalhar dali.”

Já o professor de Língua Portuguesa Carmelito de Jesus Paulo Junior, que leciona na Escola Estadual Renato Rocha Miranda, em Campina do Monte Alegre, disse que é preciso muita prudência para se falar em volta às aulas. “Nós, professores, estamos ansiosos para voltar. Sabemos que é complicado para o aluno assistir a todas as aulas virtuais. Mas não temos gente suficiente trabalhando na escola. Com as medidas que teremos de tomar, inclusive a troca de máscaras, a mão de obra será um complicador”, comenta.

“Quem irá cuidar da higienização da escola? Quem irá tirar a temperatura dos alunos? Temos apenas duas funcionárias terceirizadas para a escola toda”, afirma o professor Márcio Ricardo César, da principal escola estadual de Pereiras, também interior paulista.

Queixas

Docentes da rede pública já protestaram na capital e o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) sugeriu novas manifestações. Já a Federação dos Professores do Estado de São Paulo entrou com pedido no Ministério Público do Trabalho (MPT) para convocação dos representantes patronais da educação básica e ensino superior para elaborar um protocolo conjunto de retorno ao trabalho.

“Nossa ideia é convocar também profissionais da saúde, inclusive psicólogos, para que a gente faça a volta com um protocolo de acolhimento aos alunos e suas famílias”, disse o presidente Celso Napolitano.

Consultas realizadas pela federação mostraram que a maioria dos professores é contra o retorno em setembro e mesmo em outubro, como sugerem o governo e os donos de escolas. “Os educadores não têm segurança sobre a volta. Consultamos professores de todas as áreas e eles colocam os riscos de voltar sem a vacina.”

O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, Benjamin Ribeiro da Silva, diz que a rede particular está pronta para a retomada, com todos os equipamentos sanitários instalados. E destaca a necessidade de os pais levarem os filhos para a escola para eles irem trabalhar.

O secretário executivo da Educação do Estado, Haroldo Rocha, disse que a decisão de preparar a volta às aulas presenciais em outubro foi submetida ao comitê estadual da covid-19, que reúne especialistas em saúde. A retomada está condicionada a um maior controle da pandemia. “A abertura só acontecerá se, durante 28 dias, 80% da população estiver na fase amarela do plano de reabertura. A avaliação é quinzenal e todos os 17 DRS (Departamentos Regionais de Saúde) precisam estar amarelos.” Atualmente, cinco regiões não estão nessa fase.

Rocha lembra que o ambiente escolar não é só de aprendizado, mas também de socialização das crianças e jovens, seja na escola pública ou privada. “Eles estão privados dessa convivência e é importante que voltem a tê-la.”

O gestor negou a falta de funcionários. Segundo ele, o Estado já adquiriu 10 mil termômetros digitais, álcool em gel, sabonetes e 12 milhões de máscaras para as escolas paulistas. No fim do ano passado, a pasta repassou R$ 650 milhões para a compra de insumos.

Especialista

Já a advogada Diana Serpe, especialista em direito da educação e da saúde, considera normal que os professores possam estar um pouco assustados com a volta às aulas sem que a pandemia tenha acabado totalmente, mas ela considera que a retomada é importante para os profissionais e, principalmente, para os alunos. “Acho que a criança precisa voltar em algum momento e a escola é a realidade dela. Isso não pode demorar muito para acontecer, pois o que realmente assusta é a falta que essa realidade faz para todos eles.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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