Quem tem mais de 30 anos deve se lembrar da primeira vez que segurou um smartphone. Os dispositivos eram estranhos, caros e inovadores o suficiente para atrair uma multidão em festas ou grupinhos de pessoas. Menos de uma década depois, o estranho era não ter um aparelho. Agora, a sociedade testemunha um novo marco de mudança com os veículos elétricos. De acordo com uma análise da Bloomberg, muitos países estão chegando a ponto de inflexão no qual os carros movidos a eletricidade estão a um passo de se tornar uma tecnologia de massa.

Os Estados Unidos são o país que mais recentemente superou o que se tornou um ponto crítico de inflexão dos veículos elétricos (VEs): 5% dos carros novos vendidos no mercado americano são movidos apenas por eletricidade. Esse limite sinaliza o início da adoção em massa de VEs, marcando o período em que as preferências tecnológicas mudam rapidamente, de acordo com a análise.

Nos últimos seis meses, os EUA se juntaram à Europa e à China – coletivamente, os três maiores mercados de automóveis – a ultrapassar a marca de 5%. Se os EUA seguirem a tendência estabelecida por 18 países que vieram antes dele, um quarto das vendas de carros novos poderá ser de elétricos até o fim de 2025. Isso seria um ano ou dois à frente da maioria das principais previsões.

Por trás de cada país que cruzou um ponto de inflexão de veículos elétricos está um programa de incentivos federais e padrões do nível de poluição. Nos EUA, o governo de Joe Biden emitiu no ano passado uma ordem executiva exigindo que os VEs componham metade dos veículos novos até 2030 (incluindo híbridos plug-in). De acordo com a análise do ponto de inflexão, o país deve bater essa meta com vários anos de sobra.

Por que 5% é tão importante?

As novas tecnologias mais bem-sucedidas – eletricidade, televisores, telefones celulares, internet e até lâmpadas LED – seguem uma curva de adoção em forma de S. As vendas se movem rapidamente na fase de adoção inicial e, surpreendentemente, voltam a crescer quando as tecnologias se tornam dominantes. O topo da curva S representa os últimos resistentes, como os que se recusavam a desistir de seus antigos telefones dobráveis, os chamados “flips”.

No caso de veículos elétricos, 5% parece ser o ponto em que os primeiros adotantes são ultrapassados pela demanda convencional. Antes disso, as vendas tendem a ser lentas e imprevisíveis. Depois disso, segue-se uma demanda acelerada rapidamente.

Esta é a relação de países onde carros totalmente elétricos representam mais de 5% entre novos:

  • Noruega: 83,5%
  • Islândia: 51,7%
  • Suécia: 28,7%
  • Dinamarca: 17,4%
  • China: 16,7%
  • Reino Unido: 16,5%
  • Suíça: 16,4%
  • Holanda: 15,9%
  • Áustria: 14,8%
  • Finlândia: 13,9%
  • Alemanha: 13,5%
  • Irlanda: 13%
  • França: 12,3%
  • Portugal: 11,6%
  • Bélgica: 11%
  • Coreia do Sul: 6,5%
  • Nova Zelândia: 6,2%
  • Estados Unidos: 5,3%
  • Itália: 5,2%

Faz sentido que países ao redor do mundo sigam padrões semelhantes de adoção de carros elétricos. A maioria dos impedimentos é universal: não há carregadores públicos suficientes, os carros são caros e em oferta limitada, e os compradores não sabem muito sobre eles. Uma vez que o caminho foi pavimentado para os primeiros 5%, as massas logo o seguem a tendência.

Assim, a curva de adoção seguida pela Coreia do Sul a partir de 2021 acaba se parecendo muito com a adotada pela China em 2018, que é semelhante à Noruega após seu primeiro trimestre de 5%, em 2013. Os próximos grandes mercados automotivos se aproximam do ponto de inflexão este ano incluem Canadá, Austrália e Espanha.

Percentual mais alto para híbridos

A análise acima é para veículos que funcionam apenas com baterias. Alguns países, principalmente na Europa, foram mais rápidos em adotar os híbridos “plug-in”, que têm baterias menores apoiadas por um motor a gasolina. Incluindo esses, o mundo acaba de ultrapassar 20 milhões de veículos elétricos nas estradas, e esse número dobrará novamente até o fim do próximo ano, de acordo com um relatório recente de analistas da BloombergNEF.

Como o uso de um híbrido plug-in, cuja bateria utilizada para alimentar o motor elétrico pode ser carregada diretamente por meio de uma tomada, não exige o mesmo nível de infraestrutura ou conscientização do consumidor, a fase inicial de adoção foi menos consistente. Um ponto de inflexão consistente para essa categoria mais ampla de veículos elétricos não foi alcançado até que 10% dos novos veículos tivessem uma tomada.

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Os EUA e a China pularam principalmente os híbridos plug-in e foram direto para veículos totalmente elétricos, e os EUA ainda não ultrapassaram o limite de 10%.

Capacidade das montadoras

O crescimento contínuo também depende da capacidade das montadoras e seus fornecedores de aumentar a produção com rapidez suficiente. Volkswagen, Ford e BMW pretendem que 50% ou mais de suas vendas globais sejam totalmente elétricas até o fim da década.

Acontece que as montadoras também têm pontos de inflexão. As fábricas devem ser reequipadas e as cadeias de suprimentos reconfiguradas. Para obter a maior economia de custos, todo o veículo deve ser redesenhado com a eletrificação em mente. Na Europa, quando 10% das vendas trimestrais de uma montadora são elétricas, a participação triplica em menos de dois anos.

A gigante Toyota não atingiu o limite de 10% de veículos elétricos na Europa. A meta da montadora japonesa de 3,5 milhões de vendas anuais de veículos elétricos até 2030, como parte de suas vendas anuais de 10 milhões de veículos, está entre as menos agressivas das principais montadoras. No caso da Tesla, a maior fabricante de veículos elétricos do mundo, as vendas são totalmente elétricas.

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A transição para os veículos elétricos é inevitável?

Até agora, 90% das vendas de veículos elétricos do mundo vieram dos EUA, China e Europa. Isso significa que os países responsáveis por cerca de um terço das vendas anuais globais de automóveis não passaram do ponto de inflexão. Nenhum dos países da América Latina, África ou Sudeste Asiático deu o salto. Se o fizerem, é incerto se as mineradoras globais serão capazes de acompanhar a demanda por metais de bateria.

Ainda assim, as vendas globais de veículos elétricos triplicaram nos últimos dois anos, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Todo o crescimento líquido nas vendas globais de carros em 2021 veio de carros elétricos, e essa é uma tendência que as previsões da BloobmergNEF sugerem que continuará indefinidamente. Este ano pode ser o ponto alto para veículos na estrada sem tomada.

Aplicando a análise do ponto de inflexão a todo o mundo, a parcela de veículos totalmente elétricos ultrapassou o limite de 5% pela primeira vez no ano passado. Incluindo híbridos plug-in, o ponto de inflexão de 10% será ultrapassado em algum momento deste ano. Se as tendências forem verdadeiras, pode-se esperar uma demanda acelerada.

Tom Randall
Com apoio de Samuel Dodge

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