Se você é daqueles que não perde um meme, certamente deve se lembrar de um carro autônomo que atropelou a apresentadora Ana Maria Braga em 2013. Em meio a uma apresentação do veículo, uma falha humana causou o acidente que, felizmente, não deixou sequelas.
Oito anos depois, fomos atrás dos coordenadores do projeto e tivemos uma grata surpresa: a pesquisa deslanchou e deu origem ao primeiro carro elétrico autônomo do Brasil, entre outras aplicações.
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O projeto nada mais é do que um kit de softwares e hardwares capaz de transformar um veículo comum em um carro autônomo, ou seja, que dispensa o motorista.
A Iara (sigla para Intelligent Autonomous Robotic Automobile) começou a ser desenvolvida em 2009 por alunos e professores do Departamento de Informática da Universidade Federal do Espírito Santo e serve de base para outros meios de transporte autônomos. Na versão mais atual, ela equipa um Ford Escape, um SUV maior do que o Ecosport que nunca foi vendido no Brasil.
“Pouco tempo depois do acidente, em 2014, a Iara deu a primeira volta na Ufes sem intervenção. Foram 3,7 km. Em 2017, outro objetivo foi alcançado: fomos de Vitória a Guarapari no modo autônomo, um percurso de 74 km. Nesse trajeto, o veículo parou no pedágio, percorreu uma rodovia e estacionou sozinho”, conta o professor Alberto Ferreira de Souza, coordenador do projeto.
Com o sucesso e exposição do veículo de passeio, surgiram novas parcerias, que levaram à primeira aeronave a jato do mundo a realizar o taxiamento de forma autônoma. “Em 2019 fizemos uma parceria com a Embraer. O avião é um veículo autônomo há muito tempo, mas durante o voo, nunca em solo, pois o espaço é limitado. Com nosso sistema, fizemos o primeiro taxiamento autônomo, sem nenhuma interferência humana”, conta o professor Alberto.
No projeto mais novo, em parceria com a Vale, foi criado um caminhão de umectação – responsável por lançar água sobre o material particulado para que ele não se espalhe pelo meio ambiente – completamente autônomo. “Esse projeto está em fase final de desenvolvimento para ser utilizado full time no pátio da empresa, sem necessidade de motorista”, informa o coordenador.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o veículo autônomo não é dirigido à distância por controle remoto. O veículo, sozinho, cria um mapa complexo para operar de forma autônoma, sem interferência humana. Ele é capaz de navegar, obedecer à sinalização e aos semáforos, desviar de obstáculos, como se imitasse o cérebro humano.
O professor destaca que os veículos autônomos são excelentes alternativas para propiciar maior eficiência, economicidade, sustentabilidade e segurança nos transportes.
“A automação possibilita uma sociedade mais rica, com redução dos preços de transporte e sem desperdício de tempo e de recursos limitados. É muito importante para reduzir custos e ampliar a segurança. Os sistemas de inteligência artificial, por exemplo, não perdem o foco ao volante e não olham o celular. Mais de 50 mil pessoas morrem de acidentes de trânsito no Brasil e 1,3 milhão no mundo, todos os anos. Veículos autônomos ajudariam a reduzir esses números”, pondera Ferreira.
Primeiro elétrico autônomo do Brasil
O grupo de pesquisa responsável por criar a Iara deu origem a uma startup incubada pela Ufes, a Lume Robotic, que, em parceria com a HighTech Electric, criou o primeiro carro elétrico autônomo do Brasil. Trata-se de um veículo que carrega quatro pessoas, controlado por aplicativo, com autonomia de 150 km e velocidade máxima de 50 km/h, ideal para o transporte de pessoas e cargas dentro de plantas industriais, parques e aeroportos. A proposta da HighTech Electric é disponibilizar o E.cotech4 para contratos de locação de 24 ou 36 meses, mas não divulgam o preço.
Meme trouxe exposição
Apesar da repercussão nacional, o professor Alberto Ferreira afirma que, em nenhum momento, a apresentação no programa “Mais Você” foi negativa. “O acidente foi um erro humano. Por reflexo, na hora que o carro terminou o percurso de apresentação, retirei do modo autônomo e passei para o manual, sem puxar o freio de mão. O problema é que estava em um terreno inclinado e o veículo acabou descendo. Mas a Ana Maria foi um anjo com a gente, em nenhum momento se chateou. Foi uma exposição e tanto para nosso projeto”, relembra.
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