Para tornar a eletromobilidade cada vez mais viável, Brasil precisa passar por diversos desafios como a ampliação de pontos de abastecimento para veículos com novas propulsões
Posto de gasolina? Talvez não por muito tempo. A recarga de veículos elétricos começa a ganhar espaço como uma nova possibilidade de negócios para esses estabelecimentos. O tema foi debatido na 15ª edição da ExpoPostos & Conveniência, evento oficial do mercado na América Latina ocorrido nesta semana em São Paulo. Postos de combustíveis e distribuidores de energia elétrica e de venda de equipamentos como carregadores mostraram suas novidades e tendências para a eletromobilidade.
Os carros eletrificados devem responder por mais de 60% das vendas a partir de 2035. É o que indicam dados de pesquisa feita pelo BCG a pedido da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Segundo o mesmo estudo, para dar conta dessa participação, o país precisa instalar 150 mil carregadores elétricos, o que demanda expressivo investimento de R$ 14 bilhões. E já tem uma série de empresas de olho nesse novo mercado.
Expositora da ExpoPostos, a startup E-Wolf mostrou exemplos de suas soluções para recarga normal e rápida para veículos leves e pesados. É considerado rápido um carregamento que leva aproximadamente 20 minutos para ser concluído.
No Brasil, a empresa possui 1.500 estações públicas de recarga e vem registrando um crescimento de 5% a 6% mensalmente. Para cumprir a meta de ter 10 carregadores para cada carro elétrico, o cofundador Thiago Castilha mira nos postos de combustíveis para a ampliação dos serviços.
“Na questão da recarga, o maior desafio é aumentar a disponibilidade dos pontos para os clientes. Nossa ideia é levar propostas para donos de postos”, conta o empresário.
Oportunidade de rentabilidade para os postos
Castilha conta que a E-Wolf montou um modelo de negócio em que os postos de combustíveis podem rentabilizar a recarga de carros elétricos, assim como já acontece com estacionamentos e shoppings. Apesar da oferta energia elétrica para a recarga de veículos ainda não ter um modelo de monetização no Brasil, há outros ganhos potenciais envolvidos.
“É uma tendência mundial. O dono do posto terá de ter o ponto de recarga de carro elétrico e o maior ganho dele será ao fidelizar o cliente na conveniência. Nos EUA, as conveniências são gigantes e o faturamento é muito maior do que com o próprio abastecimento. O grande diferencial é esse, ganhar mais nos agregados do que na própria recarga”, explica o CEO da E-Wolf Mario Panelli.
Desafios para a transição energética
Embora as vendas de carros elétricos tenham registrado um aumento de 78% no primeiro quadrimestre de 2022, na ExpoPostos & Conveniência empresários do setor automobilístico reclamaram da ausência de políticas públicas de estímulo desse mercado.
Até o momento, os ministérios da Economia e de Minas e Energia têm propostas restritas ao aumento da eficiência energética dos veículos, sem tratar diretamente da eletrificação. Nesse sentido, especialistas também apontam dificuldades.
“Não é a primeira vez que o mundo passa por uma transição energética. Houve transferência da lenha para o carvão e do carvão para o petróleo. Essas transições foram feitas olhando apenas para eficiência energética e o preço. Dessa vez, tem um outro elemento importante e complicado que é o meio ambiente”, destaca o diretor técnico da Anfavea, Henry Joseph Junior.
Segundo o especialista, um grande desafio nessa transição está nos veículos pesados. Ele projeta que o diesel não será substituído com facilidade em trajetos de média e longa distâncias. “A transição energética não é algo simples. Nos transportes urbanos pode até acontecer, pois são veículos que rodam a cidade e podem ser recarregados até mesmo nas garagens, mas nos transportes de média e longa distâncias é mais complexo”, avalia o diretor técnico.
Vibra aposta em recarga nas rodovias
No fim de junho, a Vibra deu início ao serviço de recarga de carros elétricos em postos da Petrobras. A meta é a instalação de 70 eletropostos até o fim de 2023 – 50 deles em rodovias. O primeiro posto a receber o empreendimento está localizado na altura do km 82 da Rodovia Presidente Dutra, na cidade de Roseira, no interior de São Paulo. No espaço, foi instalado um carregador ultrarápido com três pontos de abastecimento.
De acordo com a capacidade de cada carro, até 80% da bateria é carregada em 20 minutos, o que permite que a maioria dos veículos chegue ao Rio de Janeiro sem a necessidade de uma nova parada.
O vice-presidente executivo da área comercial da Vibra, Bernardo Kos Winik, revela que até o momento a companhia, que detém a licença da marca Petrobras, não cobra pela recarga dos carros elétricos.
Segundo ele, o projeto prevê retorno financeiro a longo prazo e atende a uma demanda dos clientes que têm migrado para carros elétricos ou híbridos.
“Uma das principais reclamações dos clientes de carros elétricos é que eles conseguem andar muito bem nos centros urbanos, com carros que têm capacidade de até 400 km, o que é mais que suficiente para carregar uma vez por semana. Mas na estrada para ir para o litoral, por exemplo, esse motorista não quer ficar preocupado de encontrar um eletroposto”.