A busca por economia e alternativas de mobilidade sustentáveis geram maior demanda pela eletrificação veicular. Embora a participação de motores elétricos seja tímida frente aos veículos à combustão, as perspectivas de crescimento motivam investimentos na infraestrutura.

Com nove pontos de recarga em funcionamento e outros três previstos, o Vale se prepara para um novo momento do setor automotivo que dá os primeiros sinais de evolução. Levantamento com base nos dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) indicam que o número de veículos elétricos ou híbridos dobrou de 2020 para 2022.

Em dois anos, a frota passou de 116 para 232 e Lajeado ocupa a 7ª posição no ranking estadual da eletromobilidade. Embora seja um número distante dos mais de 288,7 mil automóveis convencionais em circulação no Vale, segue uma tendência global.

A adoção do novo modelo de transporte só não é maior, segundo especialistas, diante do custo elevado dos veículos e da autonomia considerada baixa. Os modelos de entrada no mercado custam a partir de R$ 150 mil e oferecem em média 300 quilômetros com uma carga completa.

Além disso, há uma preocupação com a durabilidade das baterias. As montadoras estimam vida útil de oito a dez anos. Com o avanço da tecnologia, aumenta a expectativa por dispositivos mais eficientes e de menor preço ao consumidor.

Economia e mobilidade

O uso de motocicletas é uma prática comum para quem busca economia e praticidade na locomoção. Além dos tradicionais modelos à combustão, surge um novo segmento que conquista cada vez mais adeptos. Sem emissão de poluentes, os motores elétricos representam um custo ainda menor por quilômetro.

Esse tipo de veículo, com recente regulamentação nos órgãos de trânsito, tem público de todas as idades e perfis. A limitação de velocidade e autonomia ainda fazem com que tenham mais adesão para o trânsito urbano.

O aumento de procura pelas motos elétricas fez o empresário Thiago Avila investir em uma revenda em Lajeado. A loja no bairro Universitário foi aberta em dezembro do ano passado e destaca que as vendas atendem a expectativa.

Thiago Avila investiu em loja de motos elétricas. Veículos têm autonomia de 35 km. Crédito: Felipe Neitzke

“Com investimento a partir de R$ 12,6 mil, o condutor garante uma economia significativa. Se tiver geração própria de energia o custo é quase zero”, observa. Ao considerar uma carga completa com autonomia de 35 quilômetros o custo médio é de R$ 1,50. “Se comparar com uma moto a gasolina o valor supera os R$ 5.”

Conforme Avila, os veículos elétricos são uma tendência global e o futuro da mobilidade. Além da economia, observa o benefício ambiental por não haver emissão de CO2 com esse tipo de motor. Outra vantagem destacada é a baixa despesa com manutenção.

Inventor projeta montadora na região

Conhecido por criar seu próprio carro elétrico, João Alfredo Dresch, de Lajeado, também leva os créditos por emplacar o primeiro veículo deste segmento no país. Após mais de um ano para montar o automóvel e quase dois anos para o registro no Detran/RS, começou a rodar em 2012.

O inventor e autodidata percebeu durante viagem para Itália, em 2009, que poderia desenvolver um veículo econômico e que não poluísse. “Fui desafiado por um amigo e fiz o primeiro modelo a partir de moldes em papelão. Muitos me questionaram sobre essa iniciativa e poucos de fato acreditaram que fosse conseguir.”

Sem uma legislação específica para registrar o automóvel, recorreu ao serviço federal de trânsito e foram várias etapas até obter o emplacamento. “Esse primeiro modelo tem autonomia de 70 quilômetros e leva em média 1h30min para a carga”, conta o inventor.

Em 2016, Dresch recebeu o apoio da Universidade de Passo Fundo (UPF) para desenvolver a segunda versão. Esse com novos recursos e remodelado, tem autonomia de 100 quilômetros e atinge até 120km/h. “O maior problema desde o início foi conseguir as baterias. Além do custo elevado no mercado interno, a importação é muito burocrática.”

O próximo desafio de Dresch é atrair investidores para abrir uma montadora e desenvolver os veículos em série. Ele recebeu uma oferta de área e aguarda tratativas com fabricante de motores e baterias. O inventor acredita que sejam necessários R$ 100 milhões para viabilizar o negócio. Se conseguir colocar em prática seu projeto, espera vender os modelos elétricos ao valor médio de R$ 60 mil.

João Alfredo Dresch, inventor de carro elétrico em Lajeado, projeta fábrica na região. Crédito: Divulgação

Elétricos de carga

Há um ano a Fruki adicionou caminhões elétricos na frota. Os três veículos atuam na distribuição de bebidas em áreas urbanas do Vale do Taquari, Serra e região metropolitana de Porto Alegre.

Os caminhões elétricos contam com autonomia de 120 quilômetros e a recarga total leva entre 8 e 10 horas. De acordo com o diretor comercial, João Miranda, entre as vantagens estão o aspecto sustentável, baixo custo de manutenção e economia de combustível.

“O investimento é mais elevado em comparação com um veículo convencional, mas percebemos uma maior eficiência energética frente aos custos do diesel. Outro ponto positivo é o fato da manutenção se tornar até sete vezes mais barata”, avalia o diretor comercial.

Hoje, os caminhões elétricos representam apenas 5% da frota da Fruki e conforme Miranda, algumas situações ainda dificultam que esse percentual seja maior. “O custo do investimento ainda é muito elevado, além de que a autonomia é baixa e faltam pontos de recarga.”

Novos pontos de recarga

Um dos desafios para ampliar a frota de elétricos na região é a disponibilidade de eletropostos. A instalação dos pontos de recarga no Vale do Taquari também é recente. Um dos primeiros equipamentos instalados foi em Teutônia na sede da Certel.

O dispositivo em funcionamento desde o ano passado oferece o serviço de forma gratuita, e conforme o vice-presidente da cooperativa, Daniel Luis Sechi, outros dois serão inaugurados nos próximos dias. Um deles passa a funcionar no bairro Moinhos e outro na nova loja do bairro Conventos, ambos em Lajeado.

“É uma forma de se antecipar ao aumento das vendas de carros elétricos no país. Muitas montadoras querem reduzir de forma drástica a fabricação de motores à combustão a partir de 2030”, observa Sechi.

Além disso, o vice-presidente da Certel também ressalta o compromisso ambiental em proporcionar alternativas sustentáveis à comunidade da qual faz parte. Sechi lembra que além das hidrelétricas que geram energia limpa, há as usinas fotovoltaicas para aproveitar a energia gerada pelo sol.

Modelos no mercado

HÍBRIDO

A bateria é recarregada com regeneração de energia a partir da frenagem do veículo. Conta com motor à combustão e outro elétrico. Não possui conector para carregamento em tomada.

HÍBRIDO PLUG-IN

Conta também com sistema de recarga por regeneração de energia na frenagem e motor à combustão, além da conexão que permite a recarga das baterias por fonte elétrica externa.

ELÉTRICO

Dispõe apenas de motor elétrico e recarregado a partir de tomadas comuns ou pontos de abastecimento rápido.

Frota de carros elétricos/híbridos

Anta Gorda  – 2
Arroio do Meio –  13
Arvorezinha  2
Bom Retiro do Sul –  4
Boqueirão do Leão – 2
Coqueiro Baixo – 1
Cruzeiro do Sul – 7
Dois Lajeados – 1
Encantado – 17
Estrela – 19
Forquetinha – 2
Lajeado – 123
Marques de Souza – 2
Mato Leitão – 3
Nova Bréscia – 1
Progresso – 1
Putinga – 2
Roca Sales – 2
Santa Clara do Sul – 2
Tabaí – 1
Taquari – 6
Teutônia – 17
Westfália – 2

TOTAL NO VALE: 232

Ranking estadual

Porto Alegre –  1.672
Caxias do Sul  – 382
Novo Hamburgo  – 226
Santa Maria – 177
Canoas – 142
Pelotas – 142
LAJEADO – 123
Bento Gonçalves – 113
Passo Fundo  – 113
São Leopoldo – 101



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