A era do carro elétrico está para ficar. Os automóveis de passageiros são responsáveis por quase um terço das emissões de CO2, o que faz deles um dos principais instrumentos para o combate às alterações climáticas. Muitas marcas já anunciaram que irão deixar de produzir motores a combustão e várias cidades garantiram que vão banir os carros poluentes das suas ruas dentro de poucos anos.
Esta revolução, num dos setores mais conservadores em todo o mundo, está a criar uma nova onda de inovação e criatividade. Os primeiros carros elétricos fabricados em série, como o Nissan Leaf, quiseram trazer uma imagem renovada para o mercado, um romper com o passado. O design tornou-se mais futurista e tecnológico. O mesmo aconteceu com a Tesla, a primeira marca de automóveis criada para produzir apenas veículos elétricos.
Foi assim que começou, mas, à medida que estes veículos se foram massificando, outras ideias ganharam forma. Muitos fabricantes vão ao passado buscar inspiração para conquistar o futuro. Um dos exemplos vem da Renault, uma das empresas pioneiras nesta revolução da mobilidade elétrica. A casa francesa decidiu relançar o mítico Renault 5, descontinuado há mais de três décadas, em versão exclusivamente elétrica. O mesmo já aconteceu com o Citroën Mehari, o tal do “sem capota, com capota, ele é jipe, é camião”, slogan que já não era ouvido desde 1987. Também a Chevrolet apresentou, esta semana, uma versão elétrica do Project X, de 1957.
O regresso da FAMEL
A Fábrica de Produtos Metálicos (FAMEL), o maior produtor de motorizadas em Portugal nas décadas de 1970 e 1980, teve como seu ex-líbris a XF-17, modelo que cativou dezenas de milhares de jovens portugueses a partir de 1978, ano em que foi lançada. O impacto foi tão grande que depressa o acrónimo FAMEL passou a significar “F***-** A Mota É Linda”. Com a chegada massiva das grandes marcas internacionais, nomeadamente as japonesas Honda e Yamaha, mais modernas e seguras, na década de 1980, a fábrica de Águeda acabaria por abrir falência. Passados quase 40 anos, um grupo de engenheiros decidiu adquirir o projeto para fazer renascer a mítica motorizada. Mais adaptada aos tempos modernos, a XF-17 passará a designar-se e-XF e será totalmente eletrificada. Dotada de um motor elétrico de 5 KW capaz de debitar 7 cavalos, terá a velocidade máxima limitada a 45 km/h. As baterias podem ser carregadas em casa, necessitando de quatro horas para abastecer dos 0 aos 100%. A autonomia é de aproximadamente 70 quilómetros.
Mas há quem vá mais longe. A Ford desenvolveu um kit para modificação dos carros antigos em veículos amigos do ambiente. E não são apenas os construtores que agarraram esta tendência. Para aqueles que têm carros de coleção ou, pura e simplesmente, não querem vender o bólide que têm em casa, começaram a surgir empresas especializadas em modificar marcas de luxo, como a Aston Martin. Assim, se tiver um modelo usado num dos filmes do James Bond, não será obrigado a deixá-lo na garagem sempre que quiser entrar numa cidade que proíba motores a combustão.
Muitas oficinas, um pouco por todo o mundo, estão também a adaptar motores elétricos e as respetivas baterias em veículos antigos. De Porsches a Rolls-Royce, há cada vez mais carros que anteriormente não respeitavam os limites de emissões e que agora não poluem a atmosfera. Um dos casos mais emblemáticos é o do dono da London Electric Cars, uma empresa que se dedica apenas a estas transformações. E tudo começou quando Matthew Quitter pensou adaptar o seu velho Morris Minor, dos anos 50, aos tempos modernos. Hoje, cobra cerca de 40 mil libras (cerca de 47 mil euros) por cada modificação de um veículo antigo e não tem tido mãos a medir para tanto trabalho.
O controverso E
Honda E
Inspirado na primeira geração do Civic, de 1973, o Honda E tornou-se, em termos de design, um carro que não reúne consenso. Ou se ama ou se odeia. Está a ser comercializado por 37 mil euros e tem uma autonomia de 210 quilómetros
“Ele é jipe, é camião”
Citroën Mehari EV
Desde 1987 que já não se ouve o famoso slogan que marcou o pequeno Citroën, utilizável nos mais variados propósitos. O Mehari está de volta em versão elétrica, mas a casa francesa não o disponibilizou para o mercado nacional
O icónico citadino
Fiat 500e
Foi durante anos um dos citadinos mais conhecidos em toda a Europa. Deixou de ser fabricado em 1975. Entretanto, a marca italiana decidiu recuperá-lo, e o carro acabou por ter uma boa aceitação. Agora, está a ser vendido em versão 100% elétrica