Até ao 2030, o objetivo da fabricante francesa de automóveis é que os veículos elétricos ocupem 90% das suas linhas de produção na Europa. Inevitavelmente, esses planos da Renault, mexem com as metas para o Brasil.
“Muitos projetos estão sendo discutidos para localização no Brasil. Nenhuma decisão foi tomada ainda, mas, sim, é possível. Vamos ver. Primeiro veremos se somos capazes de integrar todos os nossos produtos. Também vamos importar (carros elétricos e híbridos) para ver como vai o mercado. Pessoalmente acho que há potencial”, confirma o CEO da empresa, Lucca de Meo.
O executivo chegou ao comando da Renault no “momento mais duro de toda a história da companhia”, ou seja, em julho de 2020. Nessa altura aconteceu o escândalo de corrupção em que o seu antecessor Carlos Ghosn foi preso no Japão e acabou por fugir. Além disso, ainda se juntou os efeitos da pandemia de Covid-19.
Crise dos semicondutores atinge produção de veículos elétricos
“Vamos deixar de produzir neste ano entre 450 mil e 500 mil carros por causa dessa crise dos semicondutores. É muita coisa… Montar uma fábrica dessas (de semicondutores) leva quatro a cinco anos, custa bilhões de dólares. Isso não se resolve facilmente”, avalia Lucca de Meo.
Por sua vez, estima que o problema permaneça até 2022, embora com uma menor intensidade. Perante este cenário da crise dos semicondutores, a Renault viu-se obrigada a mudar “muitas coisas, nossa direção, nossa estratégia, tivemos que tomar decisões muito duras que há anos não tomávamos”.
Aliás, a empresa francesa chegou a demitir mais de 700 colaboradores em julho de 2020 na região de Curitiba mas, após um acordo com o sindicato, houve lugar a um programa de demissão voluntária que atraiu 500 trabalhadores.
Entre muitas estratégicas encontra-se o reposicionamento global da marca e a aposta em veículos mais espaçosos que possam resultar em mais lucros. “Creio que a Renault se concentrou demais em carros pequenos, e 70% dos volumes está nesse segmento. Queremos subir de nível no Brasil”, admite.
A estratégia da Renault não é inovadora no mercado, avalia o ex-CEO da Jaguar Land Rover , Flávio Padovan. “Existe uma tendência hoje, não só da Renault, mas de todas as montadoras, de maximizar o mix de produção e vendas.
Quando você tem escassez de componentes, como acontece hoje, de semicondutores, você tem restrição de produção. E daí procura direcionar sua produção para os carros mais rentáveis. Todas as montadoras estão fazendo hoje a mesma coisa”, revela.
Lucca de Meo confirma que a Renault está concentrada em veículos híbridos e elétricos e em otimizar as suas plataformas de produção. “Queremos o mesmo nível de qualidade e tecnologia em todo o mundo.
Não vamos ter países de primeira divisão e segunda divisão. Vamos ter produtos globais” e ressalva que há algumas diferenças, nomeadamente no Brasil em que “faz sentido um carro híbrido com etanol”.
Turbulência nos mercados mundiais
De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a marca Renault ocupa o 7º lugar no Brasil, com 6,8% de participação no mercado. “Essa turbulência não é só no Brasil, é no mundo. A América Latina é um mercado muito volátil, tem que ter muita paciência para superar as ondas e os desafios.
Temos que tomar decisões que permitam nos proteger das mudanças a nível económico. Localizar autopeças, por exemplo, é uma operação que nos permite ser mais independentes das taxas de câmbio. O Brasil é uma das regiões mais voláteis do mundo. No entanto, estamos aqui para ficar. Não estamos planejando para os próximos 18 meses, mas para daqui a dez anos”, avança o executivo.
O próximo veículo elétrico a ser lançado no Brasil é o Kwid E-Tech Electric no próximo ano. Recorde-se que, em abril, chegou o Zoe E-tech Electric.