No #ABX22, marcas falaram das tecnologias que pretendem trazer ao mercado local e reforçaram que o consumidor brasileiro está preparado para novas propulsões
Ainda não há consenso entre os fabricantes sobre qual solução será a melhor para desenvolver o mercado de carros eletrificados no Brasil. São diferentes opções, sendo que algumas se tornaram mais populares, como os elétricos puros, enquanto diferentes de hibridização avançam em paralelo.
O tema foi discutido em profundidade no #ABX22 – Automotive Business Experience, principal encontro de negócios do ecossistema automotivo e da mobilidade, realizado no São Paulo Expo no dia 8 de setembro. Apesar dos diferentes caminhos adotados pelas empresas, painel com os presidentes da Renault, Nissan, Audi e Siemens Digital Industry Software chegou a uma conclusão: a eletromobilidade é o futuro do negócio e avança a passos largos localmente.
Nissan quer ir do elétrico puro ao híbrido
A viabilidade dos elétricos puros foi ressaltada pelo painelista Airton Cousseau, presidente da Nissan Mercosul. O executivo aponta que não apenas os elétricos puros fazem parte da solução, mas que há outra tecnologia híbrida a ser aplicada em breve no país. A marca fez história com o Nissan Leaf, um carro compacto – médio para os padrões brasileiros – capaz de cobrir com facilidade os deslocamentos diários dos brasileiros. Embora a questão da autonomia ainda seja um impeditivo para muitos consumidores, o presidente ressalta um dado para ajudar a desmistificar o temor. Segundo ele, um típico motorista brasileiro roda, em média, 40 km por dia.
Para aqueles que desejam um híbrido, a Nissan trará em breve modelos equipados com a tecnologia E-Power, solução que surgiu antes no Note e já se espalhou pela gama do fabricante. Embora não tenha sido confirmado pela marca, o Kicks pode ser o primeiro carro nacional a adotar o sistema; e a oferta também deve ser complementada por modelos importados. A data de lançamento é prevista para 2023.
“É basicamente um carro que vai funcionar na eletricidade o tempo inteiro, então a sensação sempre será de dirigir um elétrico puro. Só que a carga da bateria não é feita na tomada, ela é feita por um motor a combustão, uma unidade pequena que pode ser a gasolina, etanol ou flex. O motor gera a carga na bateria e, por sua vez, a unidade de tração é elétrica, o que garante economia de combustível e a entrega que se espera de um elétrico, como potência e torque instantâneos, mas com a vantagem de que não é necessário parar para carregar”, explica Cousseau.
A Nissan tem ainda uma tecnologia de células de combustível que usam etanol, mas ela está em fase de desenvolvimento e promete ser aplicada em uma gama variada de veículos ao longo da próxima década.
Consumidor final populariza os carros elétricos
A popularização dos carros elétricos no Brasil está muito ligada ao segmento de pessoas jurídicas, com vendas importantes a grandes empresas e a locadoras. A própria Renault, no entanto, notou que não são apenas os clientes comerciais que fizeram a conta do custo total de operação dos seus veículos antes de optar por um elétrico. Recém lançado no Brasil, o Kwid E-Tech concentrou suas vendas nas pessoas físicas, grupo de consumidores que comprou 80% do primeiro lote de 750 unidades. A marca tem ainda o Zoe e já confirmou o Mégane E-Tech e outros dois modelos para 2023.
“Anunciamos a chegada do Mégane E-Tech para maio do ano que vem, um carro do segmento superior aos que temos hoje. Ele é maior em tamanho, tem uma tecnologia super avançada e conta com um design atraente”, afirma Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil. Será uma alternativa aos carros elétricos de fabricantes premium.
O presidente reforçou ainda a gama extensa de elétricos da Renault, uma oferta que inclui o Kangoo Z.E Maxi e o futuro furgão Master, ambos projetados para a missão de “last mile” – ou última milha -, a última ponta da entrega urbana de carga e produtos.
Os lançamentos têm ajudado a mudar uma tendência que era restrita, em sua grande parte, aos consumidor de luxo. “O segmento premium ainda representa 65% das vendas de elétricos no Brasil. Cerca de 10% dos emplacamentos totais do segmento já são de elétricos”, conta Daniel Rojas, CEO da Audi do Brasil.
Desenvolvimento local de carros eletrificados
A preocupação com a virada de chave da indústria passa por múltiplos fatores. O tema foi abordado por Daniel Scuzzarello, diretor presidente da Siemens Digital Industry Software. “É necessário criar todo um ecossistema de eletrificação. Tem a questão da necessidade de aumentar a demanda e, com isso, garantir os fornecedores. Além disso, o ecossistema pode facilitar a nacionalização de diferentes etapas da produção. O Brasil tem uma matriz de lítio, nióbio e outros componentes necessários para a produção de baterias”, afirma.
O executivo lembra que o Brasil tem o desafio de produzir e, inclusive, nacionalizar parte do desenvolvimento desses modelos, investindo em pesquisa e desenvolvimento.