O carro flexível, que pode rodar com etanol e gasolina, afetou em cheio a autonomia dos veículos. O combustível vegetal, apesar de bem mais em conta que o derivado do petróleo, tem também uma queima mais rápida
Em tempos de alta nos combustíveis, boa autonomia ganha ainda mais evidência. Significa menos paradas no posto. Porém, nem sempre é sinônimo de economia. A média dos tanques de combustíveis de carros como hatches, sedãs e SUVs compactos é de 50 km.
Por isso, um Renegade 1.8 Flex, com 60 litros, acaba chamando a atenção pelo longo alcance. No entanto, o carro não se destaca pelo baixo consumo em seu segmento. Pelo contrário: pesado e com um motor já bastante defasado (haverá um propulsor mais moderno a partir do ano que vem), é considerado muito gastão.
Ou seja: o Renegade Flex oferece a comodidade de menos paradas nos postos de combustível, mas não representa economia ao bolso do cliente. Quando um carro reúne esses dois fatores, tem tudo para conquistar o coração do consumidor.
E esse é o caso de dois modelos que testei recentemente. Ironicamente, um deles é o Jeep Renegade, mas na configuração a diesel (versão Trailhawk). O outro é o Toyota Corolla Cross híbrido (opção topo de linha, XRX).
Preferidos do consumidor
Desde 2018, o Renegade vem sendo o carro a ser batido em seu segmento. Já chegou a perder a liderança – para o T-Cross e o Creta, eventualmente. Mas, no decorrer dos meses, ele sempre é o modelo que os rivais precisam superar em vendas para obter o primeiro lugar.
O concorrente a correr atrás muda. O Renegade está sempre na disputa. E uma das principais razões para isso é o fato de o Jeep ser o único SUV compacto do Brasil a ter versão a diesel e tração 4×4 – um forte apelo também.
Aliás, o Renegade é o carro a diesel mais em conta à venda no mercado brasileiro. No caso do Corollla Cross, o Compass foi por anos e anos imbatível entre os SUVs médios. Tiguan, Tiggo 8 e outros vieram. Até marcaram boa presença no ranking de vendas, mas sem sequer ameaçar o Jeep – que, aliás, também se destaca em sua categoria por ter versão a diesel.
Até a chegada do Corollla Cross. O Compass ainda é líder com folgas, mas o modelo da Toyota faz uma média de 3 mil unidades por mês, ante as cerca de 5 mil do Jeep. Porém, os outros rivais dificilmente passaram, em seus melhores momentos, dos mil exemplares.
Além disso, o Corolla Cross vende tudo o que tem. É difícil encontrar um exemplar desse carro em estoque, dando sopa por aí. É claro que a autonomia não é a única explicação para o sucesso dos dois modelos, mas é um fator importante, e até determinante para a compra.
No caso do Renegade, a Jeep é uma marca que ganhou muita credibilidade no Brasil nos últimos anos, e a tração 4×4 também tem apelo. O Corolla Cross é o SUV da Toyota que os consumidores fiéis da marca esperaram por anos. Está, inclusive, levando clientes do sedã Corolla.
Na prática
Minha experiência recente com o Renegade Trailhawk foi na estrada. Porém, não em uma via rápida, e sim em uma situação na qual o consumo se assemelha mais ao obtido na cidade. Viajei com o carro pela Rio-Santos, de São Paulo a Paraty, acessando a rodovia um pouco antes da chegada ao Guarujá.
A Rio-Santos, um trecho da BR-101, percorre os litorais de São Paulo e Rio de Janeiro e tem velocidades entre 40 e 100 km/h, diversos trechos urbanos e muitas subidas e descidas de serra. Essas situações tendem a aumentar o consumo médio de combustível.
Com o Renegade Trailhawk a diesel, nessas condições, consegui rodar nada menos do que 650 km com um tanque de combustível. O gasto total nesse trecho ficou em R$ 200 – o consumo médio foi de quase 11 km/l.
Com a versão flex, usando etanol, o gasto ficaria em torno de R$ 340. E, em vez de 60 litros, nas mesmas condições ele consumiria 85 l de combustível. Ou seja: exigiria parada para reabastecimento que não foi necessária com o Trailhwak.
Claro que o preço mais alto das versões a diesel exigem que, para a decisão de compra ser racional e represente economia, o usuário viaje muitos quilômetros por ano. Mas, para quem não coloca só economia na balança, a comodidade de fazer menos paradas no posto é um apelo forte.
No caso do Corolla Cross, o teste foi na cidade. Usando o carro com o modo de regeneração acionado, consegui fazer cerca de 500 km apenas em trecho urbano com o SUV híbrido flex, que registrou uma média de 12 km/l de etanol. Isso com um tanque de combustível de apenas 36 litros.
O Corolla Cross não é híbrido plug-in. A bateria que alimenta o motor elétrico é recarregada por regeneração de energia em frenagens e acelerações. E, diferentemente do Renegade, o Toyota é mais amigo do meio ambiente – uma vez que o diesel emite muitos gases poluentes que se concentram em locais como centros urbanos.