Apresentado pela JAC Motors ao mercado brasileiro no início de agosto, o E-JS4 tem potencial para enterrar de uma vez por todas o preconceito que alguns ainda carregam contra carros fabricados na China. A reportagem do Canaltech passou quatro dias rodando com o SUV 100% elétrico e comprovou que o modelo alia design, tecnologia e desempenho dignos dos modelos das marcas mais badaladas.

Logo de início, ao chegar à concessionária para ratificar o empréstimo, a primeira impressão foi marcante: o carro se aproximou deste repórter que aqui relata sua experiência sem fazer qualquer barulho, o que chegou a causar estranheza, e até um certo susto. Não à toa, a União Europeia vem demonstrando preocupação com o assunto desde 2019 e criou uma lei para exigir uma espécie de “barulho fake” dos veículos elétricos para evitar acidentes.

Passado o susto, passamos a apreciar o design exterior do JAC E-JS4. O conjunto óptico é belíssimo e chama a atenção quando os faróis em LED são acesos. A semelhança com a Fiat Toro, ao menos na dianteira, não passou despercebida e certamente será notada pelos mais atentos. No quesito dimensões, no entanto, o SUV 100% elétrico da marca chinesa mostrou mais semelhanças com o Jeep Compass e o Nissan Kicks.

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Foto: Paulo Amaral/Canaltech

O E-JS4 mede 4,41 metros de comprimento, 1,80 metro de largura e 1,66 metro de altura, apresentando 2,62 metros de entre-eixos. Dimensões suficientes para garantir conforto tanto para o motorista quanto para os passageiros, seja no banco dianteiro, seja no traseiro. Se a ideia for encarar uma viagem, o porta-malas também é bem generoso, acomodando 520 litros — maior do que o do Jeep Compass e o do Volkswagen Taos, por exemplo.

Desempenho de esportivo

“Apresentado” oficialmente ao imponente SUV branco e brilhante, que foi entregue à reportagem com 85% da carga das baterias (falaremos sobre o “perrengue” que enfrentamos para tentar recarregar o carro mais à frente), chegou a esperada hora de encarar os mais de 20 quilômetros do percurso entre a concessionária e o condomínio em que ele ficaria “hospedado” pelos próximos dias. E a surpresa não poderia ter sido mais agradável.

Os 150 cavalos de potência e o torque de 34,7 kgfm do motor elétrico, alimentado pela bateria de fosfato de ferro-lítio de 55 kWh, têm força suficiente para fazer o SUV de 1.680 quilos arrancar de forma imediata, fazendo a força G empurrar a cabeça para trás e colar no banco (a mesma que é comum ao dirigir carros esportivos a combustão — e muito mais potentes). De acordo com as informações oficiais da montadora, a sensação não foi à toa, já que o JAC E-JS4 vai de 0 a 100 km/h em apenas 7,5 segundos. A velocidade máxima prometida é de 150 km/h.

O trânsito pesado da Marginal Tietê e os incontáveis radares de velocidade impediram que os números divulgados a respeito do SUV elétrico fossem comprovados na prática, mas foram fundamentais para mostrar um outro ponto: o quanto ele é ágil, quando necessário, e prazeroso de dirigir. Os mais de 65 minutos levados pela reportagem para cruzar da zona oeste para a leste da capital paulista passaram em um piscar de olhos, tamanha a satisfação que a experiência a bordo do E-JS4 proporcionou.

O bem-estar também se deve muito à leveza da direção elétrica, ao conforto do câmbio automático de uma única marcha e à suspensão, bem ajustada para encarar a buraqueira que insiste em dividir espaço com os carros e motos nas ruas e avenidas de São Paulo.

Acabamento e conforto

Foto: Paulo Amaral/Canaltech

O tempo voou a bordo do SUV elétrico, não apenas pela boa sensação ao volante, mas também por todo o pacote que a JAC Motors preparou para equipar a versão única do E-JS4. Os bancos em couro são confortáveis, assim como a ergonomia e a pegada do volante. Os ajustes de altura e distância para o assento do motorista são elétricos, algo ainda raro em carros por aqui, e o acabamento, de uma forma geral, é digno de elogios, principalmente pela pouca presença de material plástico.

Ainda em termos de acabamento, o SUV da marca chinesa tem um charme especial quando o teto solar, elétrico e panorâmico, é acionado. Embora o acessório não seja um “deal breaker” se não estiver presente na lista de itens disponíveis de fábrica, sem dúvidas, é um “mimo” que faz o E-JS4 ganhar pontos em quem está disposto a entrar para o (ainda) seleto grupo dos carros elétricos à venda no Brasil.

Tecnologia e segurança

Os itens de tecnologia e segurança que estão inclusos no pacote da JAC para a versão única do E-JS4 não podiam ficar abaixo dos níveis apresentados pelo desempenho e pelo acabamento interno. A fabricante chinesa caprichou na lista de atrações que o consumidor disposto a pagar o preço (que falaremos logo mais) terá à disposição.

O SUV 100% elétrico tem um quadro de instrumentos digital com três modos diferentes de visualização, central multimídia de 10,25 polegadas compatível com Apple CarPlay e Android Auto (mas só via cabo) e um painel digital bastante luxuoso, com comandos touch para o ar-condicionado. Nesse pequeno ponto, me reservo o direito de abrir um parênteses e apontar o primeiro ponto negativo na experiência vivida com o E-JS4.

Apesar da rápida resposta ao toque, foi necessário um jogo de tentativa e erro até descobrir que a função “MODE” do painel fazia referência ao ajuste da ventilação do ar-condicionado. Este, por sinal, não pareceu suficientemente potente para dar conta da cabine em um dia ensolarado. Apesar de o vento das saídas de ar ser bem forte, o “gelo”, em si, ficou aquém do esperado. Pouco a reclamar, perto de tanta coisa boa, não acham?

Foto: Paulo Amaral/Canaltech

O SUV conta também com partida sem chave, start-stop, freio de mão elétrico, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, um charmoso seletor de marchas circular e giratório (similar ao do Ford Territory) e um sistema de câmeras 360º, que torna a missão de estacionar o esguio E-JS4 sem medo, até mesmo nas vagas aparentemente mais justas. Um ponto bem legal, e que chamou a atenção, ocorreu quando liguei a seta para mudar de faixa na Marginal Tietê pela primeira vez.

Um E-JS4 “miniatura” surgiu na central multimídia em meio ao trânsito, mostrando que a troca de pista poderia ser feita com segurança. Ponto para a JAC pelo gracejo em favor da segurança. E, por falar nela, é importante citar que o modelo sai de fábrica equipado com seis airbags, controle eletrônico de tração e estabilidade, monitoramento eletrônico da pressão dos pneus e isofix para fixar a cadeirinha infantil e ficar dentro da lei ao carregar crianças pequenas.

Autonomia… e “o som do silêncio”

E o que podemos dizer em relação ao consumo do SUV 100% elétrico da JAC? A promessa da montadora é que, em condições ideais de pilotagem, ele rode até 420 quilômetros. Condições ideais, para quem não se lembra, foi o que o presidente da montadora, Sérgio Habib, estabeleceu durante a apresentação do E-JS1, em que o Canaltech também esteve presente.

Segundo o executivo, o E-JS4 pode ir de São Paulo a Curitiba com uma única carga (416 quilômetros separam as duas capitais), mas com uma condição: “Coloca um ovo debaixo do acelerador e vai a 80 km/h. Se o ovo quebrar, você não chega”, brincou, mandando um alerta para quem costuma ter o pé um pouco mais pesado.

Durante os testes com a reportagem, todos em perímetro urbano, os números não pareceram muito fora da realidade. Apesar de termos guiado o SUV longe das condições ideais, pois passamos mais tempo no famoso “acelera, para” do trânsito paulistano, o consumo ficou bem perto do que a JAC estipulou.

A reportagem rodou aproximadamente 105 quilômetros com o E-JS4 e devolveu o veículo à concessionária com 61% de bateria. Como ele chegou em nossas mãos com 85%, gastou cerca de 24%. Em uma regrinha de três básica, é possível dizer que a autonomia total é mesmo de cerca de 420 quilômetros.

O “som do silêncio”, que assustou a reportagem ao retirar o carro na concessionária, também causou alguns sustos aos pedestres, principalmente nos estacionamentos do shopping e do supermercado em que o SUV esteve para buscar um ponto de recarga. É realmente impressionante o quanto o E-JS4 é “discreto” ao se aproximar das pessoas. 

A saga do carregamento

A autonomia do JAC durante o período em que esteve nas mãos da reportagem foi satisfatória… e AINDA BEM. Apenas para sentir a experiência de recarregar um carro elétrico, saímos à caça de um local apropriado para espetar o E-JS4 na tomada. E essa foi a pior parte da divertida convivência da reportagem do Canaltech com o SUV elétrico.

O primeiro passo para descobrir onde existiam pontos disponíveis para carregamento foi fazer o download do aplicativo da ELEV e checar os postos de recarga disponíveis na região da Vila Prudente. E aí começou a saga (e a dor de cabeça) em busca ao menos de uma foto com o carro ligado ao Wall Box.

Os dois primeiros endereços fornecidos — um posto da Porto Seguro e uma loja na Regente Feijó — estavam fechados, um deles com placa de aluga-se. O terceiro ponto, localizado no estacionamento do Shopping Anália Franco, existia, mas, neste caso, a sorte jogou contra. Quando chegamos ao local, apenas um carro estava sendo recarregado, e os outros dois pontos disponíveis estavam vazios (um deles, no entanto, estava quebrado).

Ao tentarmos encaixar o conector nas entradas disponíveis do E-JS4, apareceu outro problema: não encaixava. A reportagem só localizou o adaptador, muito bem guardado no porta-malas, depois de deixar o shopping e tentar, mais uma vez sem sucesso, recarregar a bateria em um supermercado na avenida Ricardo Jafet. A persistência, pelo menos atrás de uma boa foto, foi a marca dessa longa saga.

Após finalmente encontrar o adaptador, resolvemos voltar ao shopping, já que lá havia mais carregadores disponíveis. Novamente, faltou sorte. Desta vez, apenas o quebrado estava disponível. Para não perder a viagem (e as fotos), no entanto, estacionamos o carro, encaixamos o conector no adaptador e fizemos os cliques (inclusive com um carro sendo recarregado ao lado).

Missão (quase) cumprida, mas, nesse ponto específico, fica um sinal de alerta para o quão precária ainda se mostra a infraestrutura de uma cidade grande como São Paulo, que se propõe a receber a tecnologia dos carros elétricos de braços abertos (até por força da lei, se o projeto for aprovado), a partir de 2040. Imagine em outras cidades e metrópoles, que não têm tamanha pretensão.

Ah… Para completar a saga, um complemento rapidinho: ao chegar na JAC Motors para devolver o E-JS4, uma nova e desagradável surpresa. Uma descarga elétrica havia danificado o Wall Box da loja, e o desejo de ver o SUV carregando de perto acabou mesmo em frustração para este repórter. Pelo menos mais uma foto entrou para o registro.

Foto: Paulo Amaral/Canaltech

Veredito

Bom, resumindo tudo o que foi dito a respeito do SUV 100% elétrico da JAC Motors, a conclusão é bem simples: há muito mais pontos positivos do que negativos em torno do E-JS4, e ele tem tudo para incomodar os rivais, elétricos ou a combustão, inclusive pelo preço.

A marca chinesa cobra R $249.900 pela versão única disponível do E-JS4. O SUV está longe de ser barato, mas é mais em conta que o Leaf, da Nissan (R$ 277 mil) e que a nova geração do Bolt (R$ 317 mil), carros menores e que se enquadram em uma outra categoria de clientes. Talvez ainda falte algo para brigar com os elétricos de marcas mais luxuosas, como BMW, Porsche e Jaguar, mas, certamente tem tudo para incomodar até mesmo o futuro Jeep Compass elétrico, que em breve pode dar as caras no Brasil.

O E-JS4 foi analisado graças a um exemplar do modelo cedido gentilmente ao Canaltech pela JAC Motors.

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