UOL – Aumentou muito a procura pelo do seguro de vida?

Roberto Santos – Aumentou sim [17% entre janeiro e setembro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado]. Quem está empregado, geralmente, tem uma cobertura de seguro de vida muitas vezes limitada. Na grande maioria das vezes, o beneficiário desconhece o valor da cobertura e sua abrangência. Às vezes, o seguro cobre morte acidental, mas não morte natural, por exemplo.

Diante de uma situação de pandemia, as pessoas começam a procurar e entender a cobertura que têm. Quando percebem a limitação, procuram o seu corretor de seguro para fazer um reforço. Acredito que nos próximos anos o seguro de vida no Brasil deve alcançar um outro patamar.

Na sua projeção, quanto irá crescer?

Acredito que o seguro de vida atualmente não atinge 15% da população. Há um grande espaço para crescimento.

O modo como as pessoas se deslocam nas cidades mudou. Isso impactou nos seguros de automóveis?

Percebemos há alguns anos uma mudança do comportamento das pessoas. Na minha época de jovem, todo mundo queria ter um carro. Lavava o carro sábado de manhã para à noite sair com ele brilhando. Agora os jovens não são mais assim.

Pensando neste consumidor, lançamos um produto, há uns três anos, que é o carro por assinatura, com seguro, manutenção e IPVA pago. Se escangalhar, damos outro. É preciso apenas colocar combustível e pagar eventuais multas. É o que chamamos de carro fácil.

Há duas questões que precisamos observar também: diferente de outros países do mundo, o Brasil possui uma infraestrutura de transportes muito carente, mesmo nas grandes cidades como São Paulo, Rio, Belo Horizonte. O sistema não atende todo mundo e o jovem, muitas vezes, precisa do carro para se deslocar até o centro.

A outra questão é em relação à pandemia. Muita gente deixou de usar o transporte público e mesmo táxi e carros por aplicativo por medo do contágio. É uma mudança de comportamento que deve ficar por conta da pandemia.

Esses fatores influenciam diretamente o nosso business, que é o de seguro especificamente de automóveis.

Como funciona o seguro de vida em uma epidemia ou pandemia?

O seguro em todo o mundo não cobre riscos de pandemia porque é algo que não conseguimos precificar, foge das estatísticas. Não é um processo frequente. A última pandemia ocorreu há décadas. Quando acontece uma situação dessas, quem tem seguro de vida não entende que não há cobertura.

No Brasil, porém, praticamente 100% das seguradoras decidiram, excepcionalmente fazer a cobertura do seguro. Isso porque uma das particularidades para definir se a pessoa morreu por causa da pandemia é que a certidão de óbito tenha escrito morte exclusivamente por covid-19. Isso é muito difícil porque a maioria das mortes é por insuficiência respiratória. Às vezes, aparece covid-19 associado a outro fator.

Diante deste quadro, mas também por uma questão de futuro do seguro de vida, as seguradoras optaram por fazer a cobertura. Depois, entrou em trâmite um projeto de lei no Senado Federal para fazer com que as seguradoras fizessem a cobertura de vida, mas tínhamos feito.

O que percebemos agora é que o impacto nas contas da seguradora não foi tão grande.

O cenário foi melhor do que vocês esperavam?

Exatamente. Quando tomamos a decisão de pagar os sinistros, calculamos o pior cenário, mas felizmente ele não aconteceu. Desta forma, o seguro de vida deve avançar muito nos próximos anos. As pessoas devem perceber a importância de ter uma proteção para a sua vida, para a sua família.

Especialistas alertam para novas pandemias. As seguradoras irão cobrir as pandemias?

Agora temos experiência, sabemos como calcular, como precificar os seguros de vida para pandemia. Estou falando pela minha seguradora. Iremos incluir em uma cobertura existente.

A pandemia provocará aumento nos seguros no geral?

O mercado de seguros é livre. O seguro de vida é relativamente barato no país. Dificilmente percebemos um grande aumento nessa modalidade. No seguro de automóveis, nos dois primeiros meses de isolamento, percebemos uma queda de 10% na procura e isso se refletiu no preço. Mas agora a frequência [quantidade de carros segurados e a quantidade de batidas e roubos] está voltando praticamente ao mesmo patamar anterior ao isolamento.

Ainda sobre a pandemia, houve diminuição nos roubos e colisões?

O roubo durante os dois primeiros meses do isolamento caiu e essa redução também ajudou em um desconto médio do seguro, mas isso não é linear. Há carros que roubam mais, outros menos. A partir de maio percebemos que a realidade foi voltando aos poucos.

Que oportunidades a crise trouxe para o negócio Porto Seguro?

O maior aprendizado, o maior legado, foi o trabalho remoto. Trabalharemos com o modelo híbrido, em que pessoas farão rodízios para trabalhar no escritório. Com isso, vamos diminuir espaço e, sendo muito pragmático, teremos um custo administrativo menor para manter a companhia.

Mesmo com as viagens em que era muito comum fazer um bate e volta, pegar um avião para ter uma reunião no Rio, esquece. Bate e volta já era. Mas acredito que o contato físico, o olho no olho, o toque na pessoa, isso é insubstituível. Por isso, vamos trabalhar com o modelo híbrido, não 100% remoto nem 100% físico.

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