O Rio Grande do Norte larga na frente na produção de buggy elétrico. De olho no “mercado do futuro”, o Estado será o primeiro da região Nordeste a desenvolver o tradicional veículo, que passeia pelas dunas potiguares, com motor 100% elétrico. Na quinta-feira (9), foi assinado um acordo de cooperação entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai/RN) e Indústria Selvagem para a produção do veículo. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) também participa do processo. A ideia é utilizar a expertise da Selvagem — pioneira no setor, com 45 anos de atuação, e principal responsável pela frota de buggies do RN — para iniciar o novo modelo de produção.
Segundo Rodrigo Mello, diretor regional do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ES), o objetivo é aproveitar a tradição do Rio Grande do Norte na produção de energia limpa — atualmente, o Estado é o maior produtor de energia eólica do País — para explorar a produção de veículos que não emitem gases poluentes. “Todo mundo enxerga que o turismo é a cara de Natal, do Rio Grande do Norte, em especial o turismo das praias, de ar puro. E a Selvagem, que é uma indústria potiguar e faz o principal veículo que anda pelas dunas, procurou o Senai para que a gente pudesse fazer um carro elétrico, mas com o perfil do Rio Grande do Norte. Esse é o mercado do futuro”, coloca.
A autonomia do modelo, ou seja, a distância que conseguirá percorrer com baterias cheias, antes de precisar de recarga, é estimada em 200 quilômetros, de acordo com o professor de automação e eletrotécnica do CTGAS-ER, Davinson Rangel. Seria suficiente, por exemplo, para dois passeios ida e volta entre as praias de Ponta Negra e Muriú, uma das principais rotas turísticas no litoral potiguar.
Como a utilização do veículo em dunas exigiria mais das baterias e do motor do que o tráfego somente em asfalto e estradas de terra, essa autonomia, entretanto, pode variar. “Iremos desenvolver um produto inicialmente 100% potiguar que certamente será referência, propiciando uma fonte de energia limpa para um produto que agrega ao turismo a preocupação com o meio ambiente”, diz o Emerson Batista, diretor do Senai.
O investimento da pesquisa, bem como o custo para o usuário final ainda não podem ser calculados porque dependem de uma série de fatores que variam no decorrer dos trabalhos de produção. Apesar da projeção de conclusão do primeiro veículo em 2022, os desenvolvedores não estimam data para início da fabricação em escala comercial. Mas a demanda em potencial já é notada. “Todos os dias alguém nos procura em busca desse buggy”, diz o fundador da Selvagem, Marcos Neves.
RN já tem 105 carros elétricos em circulação
Em meio a preocupações com o meio ambiente e com a finitude de reservas de combustíveis fósseis como petróleo, gás natural e carvão mineral, o mundo volta as atenções para os carros elétricos, vistos como o futuro do setor. A União Europeia (UE), por exemplo, quer proibir o uso de carros à combustão até 2035. Na esteira global, o Rio Grande do Norte dá um passo importante para entrar de vez no chamado mercado do futuro, a avalia o professor e chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da UFRN, Diomadson Belfort.
“Essa é uma demanda da sociedade como um todo. Em alguns locais há uma legislação específica para que os carros sejam elétricos, que não possuam poluentes, como é o caso de Fernando Noronha, que até 2030 vai ter que estar com todos os carros convertidos. Todo mundo vai ser beneficiado com isso, seja a sociedade, que usufrui do produto, o turista, o bugueiro, até os mecânicos”, acrescenta. Atualmente, o Rio Grande do Norte tem 105 carros elétricos em circulação, segundo o Departamento de Trânsito do Estado (Detran/RN).
Além das vantagens ambientais e sustentáveis, o eletricista montador Geovane Barbosa conta que o processo de montagem do buggy elétrico será facilitado em relação ao buggy tradicional devido ao número de peças. “A gente elimina mais de 300 peças, com o buggy elétrico vão ser basicamente o motor, o estator e os fusíveis. São as principais partes. Com isso, depois de toda a capacitação, preparo, a gente vai poder montar mais e em menos tempo. A manutenção também é menos complexa porque não tem tantas peças como os carros normais”, explica o funcionário que trabalha na Selvagem há nove anos.
Outro fator que poderá alavancar a adesão ao motor movido a eletricidade, no futuro, por parte dos donos de buggies é a possibilidade da conversão de um veículo comum para o sistema elétrico. “Já existe uma quantidade de veículos elétricos no mercado, principalmente na ilha de Fernando de Noronha. A vantagem é que a nossa estrutura inicial de conversão já é a estrutura do veículo à combustão. Então a gente vai ter essa facilidade de pegar o veículo convencional e poder transformar ele em elétrico. A caixa de marcha, por exemplo, toda a parte mecânica do carro elétrico é similar ao do modelo atual”, detalha José Henrique, colaborador da Indústria Selvagem.
Economia
De acordo com o professor Diomadson Belfort, o turismo com buggies poderá ficar mais limpo e econômico em decorrência de soluções que serão desenvolvidas no projeto. Dados levantados pela universidade apontam que 715 bugueiros estão credenciados pela Secretaria de Estado do Turismo (Setur) e atuando nos municípios de Baía Formosa, Tibau do Sul, Natal e Extremoz. Entre os custos operacionais da atividade estão gastos com combustível, que giram em torno de R$ 80 a R$ 100 por passeio, que poderão ficar para trás com os veículos elétricos.
Projeto
O buggy elétrico em desenvolvimento no RN é um veículo planejado para usar eletricidade para se locomover, por meio de baterias que alimentam o motor. O Senai ficará responsável pelo desenvolvimento do uso da tecnologia e a integração dos componentes elétricos e mecânicos do veículo. À UFRN caberá a parte de “inteligência do buggy”, o que inclui toda a parte de controle, acionamento de motor, verificação da vida útil da bateria, análise do ambiente e detecção de falhas.
Já a EIC/Trier vai fornecer a tecnologia e promover o treinamento necessário. Um curso de mecatrônica automotiva de 180 horas será ministrado para a equipe envolvida, por especialistas da Alemanha. O país é o maior produtor europeu de veículos elétricos. “É uma enorme satisfação contribuir para a concepção e construção do primeiro buggy elétrico do Nordeste do Brasil e a gente fica ainda mais feliz por esse buggy ter surgido no Rio Grande do Norte, que normalmente é um estado que todos conhecem pelo turismo mas também é um lugar onde se constrói tecnologia de ponta para um Brasil melhor e para um mundo cada vez mais sustentável”, afirma Andreas Dohle, consultor alemão da EIC/Trier.
Fonte: Tribuna do Norte