Rodrigo Ferreira da Silva tem 43 e é, desde maio, o presidente da Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN). Ligado aos automóveis desde bem novo, tem uma perspetiva bem clara daquilo que pensa estar reservado para o futuro do setor: A maximização da utilização.

Notícias Maia (NM): Como é que começa a sua ligação ao setor automóvel?

Rodrigo Silva (RS): A minha ligação ao setor automóvel começa há muitos anos. O meu pai fundou e era o proprietário da Maiauto, que foi o primeiro concessionário oficial automóvel no Concelho da Maia. Esta empresa foi fundada em 1972. Portanto, eu nasci já no meio automóvel. É uma ligação umbilical, digamos assim.

NM: Em maio deste ano assumiu a presidência da ARAN. Como é que surge esta oportunidade?

RS: Eu sou dos órgãos sociais da ARAN já há 14 anos. O meu pai também já era sócio da ARAN. Fiz parte de duas direções, estive na Assembleia Geral e também no Conselho Fiscal. Este ano foram feitas eleições e havia um apoio dos associados e da direção anterior para eu me candidatar. Foi um desafio que aceitei com responsabilidade mas, também, com muito gosto. É algo que me motiva nesta fase até porque considero que o trabalho das associações é cada vez mais importante.

NM: Qual é exatamente a área de atividade desta associação?

RS: A ARAN nasceu em 1940, faz 80 anos no próximo ano. Somos uma das poucas associações nacionais que nasceu no Porto e continua no Porto. Temos mais de 2300 sócios espalhados por Portugal. Estamos divididos em várias frentes e gostamos de considerar que representamos o setor automóvel como um todo. Temos os concessionários, alguns históricos no Porto; As oficinas independentes, que representam o maior número de associados; As garagens de recolha de veículos automóveis; As casas de peças e acessórios; As carroçarias, que são uma parte muito importante, apesar de ter poucos sócios; Os rebocadores, que são uma parte essencial; E até empresas ligadas aos clássicos e aos carros de corrida. Temos um bocadinho o espelho do setor. Só não temos fábricas de automóveis.

NM: Falando agora do panorama do automóvel para o futuro. No Plano Nacional de Energia e Clima o Governo ambiciona que, já em 2030, cerca de 30% dos carros, sejam elétricos. Acha possível?

RS: O tema do elétrico e do ecológico é muito popular mas o país não está preparado para nenhum tipo de meta ambiciosa sem pensar noutras coisas. Quantas corporações de bombeiros estão preparadas para desencarcerar um carro elétrico? É que se cortar no sítio errado apanha um choque de alta voltagem que morre no local. Não basta por uma meta e esperar que aconteça um milagre. A rede elétrica nacional, por exemplo, está muito atrasada. Ainda há muito poucos sítios onde carregar veículos elétricos. A meta, por si, tem que ser explicada. Nós temos um parque automóvel com 12 anos de média. A meta deveria ser tirar os carros mais poluentes e incentivar o abate. Nós até já estamos numa ótima posição a nível de carros elétricos na Europa. Os 30% a mim dizem-me pouco ou nada. O que eu gostava de ver era uma política nacional pensada e estudada.

NM: O que pensa da política fiscal para a venda de carros em Portugal?

RS: Mais de 25% das receitas fiscais totais em Portugal vêm do automóvel. 1/4 de todos os impostos que são cobrados em Portugal têm o automóvel envolvido. Tradicionalmente, Portugal devia ter uma política contrária à política fiscal que tem hoje sobre o automóvel. Porque nós produzimos automóveis, temos fábricas. Se os países produzem automóveis, faz sentido, para incentivar, que a carga fiscal seja baixa. Em Portugal a nossa carga fiscal e alta, o que não faz sentido absolutamente nenhum. Há uma injustiça enorme na política fiscal.

NM: Os carros a diesel estão a perder espaço para os carros a gasolina. Esta tendência será para continuar?

RS: Sim, eu acho que a tendência vai ser para haver um mix maior de diferentes tipologias. Acho que o diesel não volta a ter o peso no mercado que já teve mas também acho que não vai desaparecer.

NM: Numa época onde cada vez mais se fala de mobilidade sustentável qual pensa ser o futuro dos automóveis?

RS: Penso que o futuro trará a maximização da utilização do automóvel. Isto é, pensando na evolução natural e atirando para o futuro, isto andará um bocadinho no sentido dos veículos autónomos e das novas tecnologias. Se calhar o carro que me leva ao trabalho depois vai buscar o meu filho e leva-o à escola. Uma maximização, seja pelo uso de uma família ou pelo car-sharing. Acho que independentemente do que vai acontecer, e aqui é sempre futurologia, talvez a noção de propriedade do automóvel vá desaparecendo e a noção que vai imperar é a noção de utilização.

NM: Para terminar, por curiosidade, se comprasse um carro neste momento, que tipo de carro seria?

RS: Acho que comprava a tecnologia intermédia, um híbrido plug-in. Tem o motor elétrico que vai funcionando nas deslocações mais curtas mas com o recurso a meter gasolina.



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