Após alguns anos sem colocar os pés nos EUA, fiz uma rápida viagem pelo norte daquele país, o suficiente para me surpreender com o que vi nas ruas: o crescimento de carros eletrificados.
A gelada Seattle, no estado de Washington, não é referência em turismo, mas se destaca como importante centro comercial e financeiro da região Noroeste Pacífico e é uma das cidades que mais crescem nos EUA.
Para facilitar os deslocamentos em um curto período que estive em Seattle, preferi utilizar os serviços da Uber. Basta usar o aplicativo que temos aqui no Brasil. Lá também é bastante popular o Lyft, mas os preços da Uber estavam mais vantajosos.
De 11 viagens pelo transporte por aplicativo, pelo menos 9 foram em veículos eletrificados: Toyota Prius e RAV4 híbridos, Honda Accord híbrido e um cobiçado elétrico Tesla Model 3. Sim, um Tesla de Uber!
O motorista disse que conseguia rodar um dia todo com seu elétrico e gastava uma fração com a energia (em eletropostos pagos) do que se usasse gasolina, que também sofreu aumentos de preços por lá.
Governo americano incentiva
Desde o ano passado, o presidente dos EUA, Joe Biden, promove um ousado plano para reduzir a emissão de gases poluentes, com a meta de que até 2030 metade das vendas em todo o país seja de carros elétricos e híbridos.
A indústria local recebe incentivos (em uma clara disputa com fabricantes chineses e europeus) para que lidere a eletrificação e há massivos investimentos na infraestrutura.
Compradores recebem créditos fiscais e se sentem mais seguros com a ampliação de redes de recarga. Biden ainda pretende eletrificar toda a frota federal, num total de 645 mil veículos.
Em 2021, as vendas de eletrificados superaram 500 mil unidades e o segmento viu sua participação dobrar de 2 para 4,5%. Pouco, mas expressiva.
Se a mudança não ocorre de forma espontânea, porque os consumidores norte-americanos ainda apreciam acelerar seus enormes SUVs e picapes V8, os benefícios podem fisgar aqueles que vivem do transporte (no caso dos motoristas de Uber) e ou poucos preocupados com o meio ambiente.
E no Brasil?
As vendas de elétricos e híbridos crescem no Brasil, mas por puro interesse do consumidor. Alguns modelos começam a ficar mais acessíveis – caso do Renault Kwid E-Tech – mas são os Porsches, Audis, BMWs, Mercedes e Teslas que realmente fazem a diferença pelo que agregam em inovação.
O caso da Tesla é ainda mais emblemático. Os poucos e cultuados elétricos que desfilam por aqui (cerca de 120 unidades rodam no Brasil) são trazidos por importação independente e chegam custando a partir de R$ 600 mil. Nos EUA não são baratos, mas partem de US$ 48 mil. A Osten, concessionária paulista que importa Teslas, tem planos de assinatura que partem de R$ 16 mil por mês.
Tesla não tem interesse, por enquanto, de estar aqui
Segundo Milad Kalume Neto, gerente de Desenvolvimento de Negócios da consultoria Jato Dynamics, o Brasil tem dois problemas: “Não existe qualquer incentivo fiscal para importar veículos elétricos (exceto IPVA e isenção de rodízio) e há o gargalo da infraestrutura, que melhora, mas ainda falta muito”, avalia.
De acordo com o especialista, dois de seus clientes tentaram trazer a representação da Tesla para cá e a resposta oficial foi a de que a marca não estava interessada no mercado brasileiro. “Existem outros mercados mais relevantes, leia-se, mais atrativos economicamente do que o nosso”, afirma o Kalume.
Ou seja, se você quiser conhecer um Tesla, como passageiro mesmo… te sugiro ir para os EUA e tentar um Uber. Quem sabe você dá sorte.