O compartilhamento de veículos elétricos tende a ser, principalmente no Brasil, uma relevante porta de entrada ao consumidor. Com preços a partir de R$ 155 mil e tendo os exemplares mais vendidos custando na faixa dos R$ 300 mil, são praticamente inacessíveis, a não ser que o comprador tenha o perfil de early adopter (aqueles que estão abertos à experimentação de novidades, antes de elas virarem consumo em massa) e, obviamente, endinheirado.
Desde 21 de junho, os paulistanos já podem ver carros do VEC (sigla de veículo elétrico compartilhado) Itaú, serviço de compartilhamento de carros elétricos, circulando pelas ruas da capital. A operação começou como projeto-piloto e com sistema semelhante ao do já consolidado serviço de bicicletas Bike Itaú.
Nesta etapa inicial, cerca de 500 colaboradores do banco têm acesso aos veículos nos modelos Jaguar I-Pace, BMW i3 e JAC iEV40, que já estavam previstos desde o anúncio de lançamento do serviço, no fim de 2020, além do modelo Nissan Leaf, que chega para complementar a frota de compartilhamento.
Como funcionará
As primeiras estações de carregamento ficarão alocadas em unidades administrativas que o banco mantém na cidade de São Paulo, em uma parceria com a Enel X. A expectativa é que no segundo semestre o serviço seja ampliado e conte também com mais veículos e estações disponíveis. Salvador está nos planos do projeto, mas o Itaú não tem previsão de quando inicia essa operação por aqui.
Quando abrir para o público em geral, já foi definido que funcionará no sistema One Way, no qual o usuário retira o carro numa estação e pode devolver em outra. Por meio de um aplicativo, o interessado encontra as estações, quais modelos estão disponíveis e a carga da bateria dos carros à disposição.
Ainda não há definição de valores, que devem variar conforme o veículo – a expectativa é ter dez modelos. Mas a ideia da empresa é que custe entre uma corrida de transporte por aplicativo e um táxi. Não será preciso ter conta no Itaú. Bastará fazer um cadastro com dados na plataforma, ter cartão de crédito e CNH válidos, sujeitos a aprovação.
Além de ter a experiência de dirigir um carro elétrico, que tem entre outras particularidades torque alto e ausência de ruído, o usuário poderá entender sobre sua autonomia e carregamento.
Leaf em ação
A adesão da Nissan não é inédita. Em 2012, a montadora participou de uma frota experimental de táxis no Rio de Janeiro e em São Paulo, até evoluir para o início da comercialização da nova geração do Leaf em 2019. “Como a melhor maneira de entender e desmistificar mitos do carro elétrico é usando ele no dia a dia, buscamos sempre oportunidades para permitir que mais brasileiros experimentem o nosso Nissan Leaf”, afirma Tiago Castro, diretor sênior de vendas e marketing da Nissan do Brasil.
“Para viabilizar o serviço, estamos utilizando modelos de negócio em que contamos com parcerias estratégicas com empresas especializadas, em diferentes vertentes do ecossistema de mobilidade, como montadoras e locadoras, além de empresas de energia e de tecnologia, com o objetivo de oferecer a melhor experiência de locomoção para as pessoas. É com muita alegria que vemos a chegada da Nissan, para impulsionar ainda mais o conceito de compartilhamento de veículos elétricos no Brasil”, celebra Rodnei Bernardino de Souza, diretor do Itaú Unibanco.
Em novembro do ano passado, a Nissan e a locadora Movida fecharam uma parceria para disponibilizar o Leaf para o aluguel, desde o eventual até o de longo prazo.
Soluções inovadoras
Antes da pandemia, havia projetos sobre compartilhamento de veículos elétricos por todo o país, alguns com parcerias de montadoras. A pandemia cancelou alguns e freou outros. “Existiram algumas iniciativas, mas eram projetos experimentais, com tecnologia importada e pouco pensada para nossa realidade local. A pandemia foi um dos fatores para terminarem, mas o principal foi a moeda, o dólar e o euro nas alturas inviabilizaram muitas operações que precisam escalar. Cito o exemplo positivo do Tembici, que apostou em tecnologia própria e pensada para escalar o negócio de bike sharing no Brasil. A mobilidade eficiente depende de um ecossistema colaborativo de aprendizados e modelos de sucesso”, explica Guilherme Cavalcante, CEO e fundador da Ucorp.app, startup de tecnologia e soluções de mobilidade corporativa.
Para ele, o cenário atual é superpositivo. “A mobilidade compartilhada virou pauta ESG global para redução de emissões e transição energético. E aqui no Brasil cresceu muito a procura por soluções inovadoras de mobilidade. Hoje já existem iniciativas como o VEC Itaú, desenvolvido e operado pela Ucorp.app, onde o conceito de eletrificação e compartilhamento aliados à tecnologia de ponta e 100% nacional promete digitalizar a jornada de uso e aquisição de veículos elétricos. Além do impacto na vida de milhões de pessoas, no meio ambiente e na qualidade das ruas da cidade, tem o impacto financeiro em redução de custos, e otimização de processos e burocracias”, avalia Cavalcante.
O CEO enxerga um ecossistema com grande potencial nos projetos de assinatura e compartilhamento em condomínios comerciais e residenciais. As construtoras e montadoras estão se unido a startups e empresas de tecnologia para popularizar o serviço. “Um bom exemplo é a Zmatch, que aposta na expansão de eletropostos e vagas de sharing residenciais. Além de investir em startups como a 77Sol, que financia e instala placas solares, e a Ucorp.app, referência em tecnologia para mobilidade elétrica”.
Cavalcante concorda que o compartilhamento de veículos elétricos é uma das formas de democratizar o uso de veículos limpos pela cidade e uma boa vitrine para as montadoras. “A sustentabilidade e a experimentação são os dois principais benefícios da mobilidade elétrica e compartilhada. Em 2019, com o boom das bikes compartilhadas, houve um crescimento de 240% em vendas de bicicletas no varejo. E essa tendência se repetirá no segmento de veículos”, aposta o empresário.