A eletrificação é um caminho sem volta. Se por um lado o fim dos motores a combustão já está anunciado, por outro as fabricantes já mostraram que carros elétricos podem ser divertidos sim. Basta olhar os exemplos recentes de Tesla Model S, Porsche Taycan e Ford Mustang Mach-E. Porém, alguns carros deveriam ter o direito à vida eterna.
O Shelby GT350R é um desses. Leigos podem achar que estamos diante apenas de um Mustang “tunado”. Ledo engano. Todo carro que carrega o nome Shelby precisa ser respeitado. Afinal, estamos falando da mais conceituada preparadora de Mustangs do planeta. Neste caso, o cupê ganhou um motor 5.2 V8 de 553 cv e torque máximo de 59,3 kgfm. Parece pouco a mais diante dos 466 cv e 56,7 kgfm do Mustang GT vendido no Brasil. Mas, acredite: não é.
Existe um “pequeno” detalhe que faz toda a diferença a favor do GT350R: câmbio manual. A caixa de seis marchas é feita pela Tremec, empresa famosa por suas transmissões altamente eficientes para motores potentes. Os engates são curtos e precisos, exatamente do jeito que a gente espera em um esportivo.
Até o preço é relativamente acessível para o bolso dos americanos. O Shelby GT350R parte de US$ 59.140. Claro, existe uma diferença significativa para os US$ 36.475 cobrados pelo GT V8 nos Estados Unidos. Mas, mesmo assim, o GT350R ainda não é uma diversão para poucos.
Estilo matador
O visual externo deixa claro que não estamos diante de um Mustang comum. A tradicional serpente que identifica os carros da Shelby está discretamente posicionada pela carroceria, algo que não acontece com os acessórios da preparadora. O para-choque dianteiro tem um difusor bem vistoso e as tomadas de ar foram desenhadas para refrigerar o V8 debaixo do capô. As rodas de 19 polegadas são feitas de fibra de carbono, material ultraleve do qual também é feita a asa traseira.
A cabine traz Alcantara por todos os lados, inclusive no volante de base achatada com indicador central no topo do aro. Os bancos do tipo concha são da Recaro e até a manopla do câmbio é exclusiva. E nem adianta tentar levar mais dois passageiros, até porque não há banco traseiro. Afinal, se estamos falando de um veículo feito para as pistas, qualquer alívio de peso é bem-vindo.
Ajuste fino
A suspensão adaptativa MagneRide também está presente no GT, e contribui para uma condução mais prazerosa no GT350R. Os amortecedores têm um fluido viscoso eletromagnético e sensores que ajustam instantaneamente o comportamento da suspensão.
A fabricante diz que são realizados até 1.000 ajustes por segundo de acordo com as condições do piso, ajudando a entregar uma melhor absorção de impactos e melhorando o comportamento do veículo em curvas. E de fato a carroceria pouco rola mesmo se passarmos um pouco do limite.
O sistema de freios da Brembo é altamente eficiente, dotado de discos maiores e pinças com seis pistões na frente e quatro atrás. O pedal do freio tem sensibilidade na medida certa, estancando o veículo rapidamente se assim o motorista precisar.
Convite para o pecado
Da saída dupla de escapamento sai um ronco grave e discreto, pelo menos antes de apertar o botão que muda completamente o som do motor. Aí, meu amigo, prepare-se para uma trilha sonora que é um convite irrecusável para acelerar forte. Não há como resistir ao ronco incorpado que faz até o Mustang GT parecer pacato.
Assim como um Porsche 911, o Mustang não se incomoda em ser dirigido de maneira pacata. E isso também acontece com o Shelby: você consegue ir tranquilamente para o supermercado ou dirigir em um autódromo como se estivesse fazendo tempo de classificação. Apesar de ser um carro feito para andar rápido, o cupê não é desconfortável no dia-a-dia – muito menos no trânsito extremamente caótico de Los Angeles.
Pelas estradas sinuosas nos arredores da badalada cidade hollywoodiana é que percebemos todo o potencial do GT350R. Ele contraria com gosto a “regra” de que muscle cars não fazem curvas, entregando um comportamento bastante próximo ao de um 911.
Existe, porém, aquela pequena pitada de falta de juízo que tanto apreciamos nos esportivos americanos. Parece que o Shelby está pronto para quebrar as leis de trânsito, especialmente porque ele precisa de apenas 3,7 segundos para ir de 0 a 100 km/h.
Rapidamente estamos a 120 km/h, e aí preciso lembrar que o velocímetro do modelo avaliado por UOL Carros está em milhas por hora. Até porque logo depois de pensar nisso vejo no retrovisor uma daquelas motocicletas gigantes da polícia norte-americana vigiando cada movimento meu.
Felizmente não tive problemas com os policiais norte-americanos, e fui muito bem recebido por motoristas de outros carros, que buzinavam e acenavam para nós. É, acho que não sou o único que gostaria de ver o Shelby GT350R nas ruas por mais algumas décadas.