Apenas dois dos 399 municípios do Paraná ainda não tiveram mortes por Covid-19: Santo Antônio do Paraíso, no Norte Pioneiro, e Boa Esperança do Iguaçu, no Sudoeste. Já Nova Aliança do Ivaí, no Noroeste, entrou para o triste grupo de municípios com perdas de vida na pandemia somente nesta semana, quando faleceu quarta-feira (5) a primeira vítima do coronavírus.

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As três cidades, distantes umas das outras e sem hospital, praticamente enfrentaram da mesma forma a pandemia, com monitoramento diário de casos suspeitos e confirmados, comunicação direta com a população, medidas restritivas e multas. Mas o principal fator que facilitou a execução dessas ações que salvaram vidas é o mesmo que mais preocupa as três prefeituras: a população muito pequena de cada uma.

“A gente tem que se precaver, porque a cidade é muito pequena. Como todo mundo tem contato com todo mundo, temos que estar sempre à frente da doença”, afirma Viviani Mara Rosa Souza, secretária de Saúde de Santo Antônio do Paraíso, município de apenas 2.068 habitantes cujo prefeito, Devanir Martelli (PV), está justamente na fase final de recuperação da Covid-19, em isolamento domiciliar.

Mesmo ainda sem um novo decreto estadual, que geralmente é acatado por municípios pequenos, a prefeitura da cidade no Norte Pioneiro vai aplicar na próxima segunda-feira (10) novas medidas restritivas. Para prevenir o contágio, o único mercado da cidade só vai funcionar até as 18h e com limitação de 50% de sua capacidade. O toque de recolher será retomado, com proibição de circulação de pessoas das 20h às 5h do dia seguinte. Além disso, restaurantes e lanchonetes só poderão atender no salão até 20h – depois desse horário, o atendimento será apenas por delivery. O novo decreto municipal vai valer por 15 dias.

“Vamos tomar essas medidas porque já observamos o aumento no número de casos de Covid-19. Estávamos com oito pessoas infectadas e de quarta para quinta-feira esse número dobrou, com mais oito pessoas doentes”, justifica Viviani.

Com isso, volta a circular também por Santo Antônio do Paraíso o carro de som, sempre acompanhando de viaturas da Polícia Militar, Vigilância Sanitária e uma ambulância de sirene ligada, pedindo às pessoas para que se cuidem, além de mais postagens no Facebook alertando a população.

“Vamos pedir para as pessoas seguirem as medidas preventivas, não receberem pessoas em casa e nem irem para as cidades vizinhas, pelo risco de trazerem o vírus para cá”, aponta a secretária de Saúde. “A gente também costuma alertar no carro de som que os hospitais das cidades vizinhas para aonde encaminhamos os pacientes não têm vagas, na tentativa de as pessoas se conscientizarem e não culparem a prefeitura de que não está fazendo a sua parte”, completa a secretária.

Pulseiras

Já em Boa Esperança do Iguaçu, de somente 2.470 moradores, as medidas restritivas tomadas ao longo da pandemia encontraram resistência por parte dos moradores, em especial os comerciantes. Mas, segundo o prefeito Givanildo Trumi (PP), foram determinantes para que a cidade não tivesse nenhuma morte.

“Quando anunciamos lockdown, arrumamos muita briga, mas tivemos resultado. Ainda tem gente que não acredita que a Covid é muito perigosa. Mas cada vez que aumentam os casos, fechamos a cidade”, ressalta o prefeito, que autorizou a volta às aulas no sistema híbrido na próxima semana, com parte dos alunos com aulas on-line e parte presencial.

Com aprovação dos vereadores, a prefeitura chegou a adotar nesse ano um sistema de pulseiras para identificar os moradores suspeitos de infecção (na cor azul) e com Covid-19 confirmada (na cor vermelha). Porém, o município abandonou o sistema nessa semana após se consultar o Ministério Público do Paraná (M-PR), que orientou que as pulseiras não fossem utilizadas. “Mesmo assim, as pulseiras serviram para conscientizar as pessoas”, acredita o prefeito.

Hoje, a cidade está com nove pessoas infectadas pelo coronavírus, todas de duas famílias, que estão isoladas. Por ter população pequena, Trumi enfatiza que é relativamente fácil para a Secretaria Municipal de Saúde identificar e isolar os casos suspeitos e confirmados.

O prefeito elogia o comportamento dos moradores até aqui em acatar as medidas individuais de prevenção, como o uso de máscara e o distanciamento social. Tanto que, mesmo aprovada no começo do ano no valor de R$ 700, a fiscalização não precisou aplicar nenhuma multa por descumprimento das regras sanitárias.

Mesmo assim, o prefeito teme que a população baixe a guarda, o que pode colocar Boa Esperança do Iguaçu na triste realidade da maior parte dos municípios paranaenses que já perdeu habitantes para o coronavírus. “Agora o desafio é maior, porque as pessoas estão querendo voltar ao normal. Muitos se esquecem de que o vírus continua sendo muito cruel. E o fato de ninguém ter morrido na nossa cidade pode colaborar com essa falsa sensação”, teme Trumi.

“As pessoas estão se cuidando menos e a gente não sabe como é a reação do vírus no organismo de cada um. Por isso estamos enfatizando isso ainda mais agora, mas não é fácil. Estou preocupado”, admite o prefeito de Boa Esperança do Iguaçu.

Primeira morte

Já o município de Nova Aliança do Ivaí faz parte desde quarta-feira (5) da maioria dos municípios paranaenses que já perderam vidas para a Covid-19. A primeira vítima fatal da cidade com a segunda menor população do Paraná, de apenas 1.551 moradores, foi uma mulher de 41 anos que tinha comorbidades.

O primeiro óbito no pequeno município no Noroeste do estado assustou e ligou o alerta na população. “Estamos todos muito tristes aqui. O clima está bem pesado, mas esperamos que essa perda sirva para conscientizar as pessoas dos riscos do coronavírus para que ninguém baixe a guarda nas medidas preventivas”, ressalta a secretária de Saúde de Nova Aliança do Ivaí, Eliane Aparecida Padovan.

Uma equipe, formada por médico, enfermeira e auxiliar de enfermagem, visita os moradores da cidade todos os dias. Assim que um caso suspeito é detectado, imediatamente a pessoa e a família são isolados. A prefeitura de Nova Aliança do Ivaí também fornece termômetro, para verificar a presença de febre, e oxímetro, para medir a saturação do organismo.

“As pessoas isoladas têm o telefone da nossa central e assim que algum dos sintomas se agrava, entram em contato para que a gente envie uma equipe de saúde à residência ou, em casos mais sérios, para que venham ao posto de saúde”, explica Eliane.

O Comitê Municipal de Enfrentamento da Pandemia também se reúne semanalmente para avaliar os índices de infecção. Assim que os casos aumentam, a prefeitura toma medidas restritivas no comércio e reforça as orientações aos moradores com o carro de som.

“O comércio tem limite de apenas quatro pessoas por vez em seu interior. Temos só dois mercadinhos e um açougue, que não podemos fechar completamente porque aí as pessoas vão para as cidades vizinhas, principalmente Paranavaí, o que aumenta a chance de elas trazerem o vírus para nossa cidade”, diz a secretária de Saúde.

Eliane afirma que a máscara é acessório comum de toda a população nas ruas de Nova Aliança do Ivaí. Porém o distanciamento ainda é difícil. “Cidade pequena, todo mundo quer se abraçar, se beijar. Além disso, muita gente acha que só com a máscara já está protegida do coronavírus”, aponta a secretária.

“Tivemos a primeira morte por Covid essa semana, mas se não fossem as medidas restritivas, o acompanhamento dos casos e a constante informação da população, teríamos muito mais”, compara a secretária de Saúde de Nova Aliança do Iguaçu.

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