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Falsear as estatísticas e
manipular dados são apenas duas formas muito usadas pelo mecanismo de
desinformação. No Brasil, onde as montadoras cobram os maiores preços do mundo
por automóveis em descompasso tecnológico com os ofertados por elas mesmas nos mercados
de Primeiro Mundo, é lucrativo que o consumidor se mantenha fiel aos motores a
combustão.
Mas, nos Estados Unidos,
onde o Tio Sam acaba de quadruplicar o imposto de importação para EVs “made in
China”, a virada da eletromobilidade não será contida nem pela intervenção
estatal na economia. “O interesse por veículos elétricos tende a crescer no
longo prazo e, até 2028, quase 80% dos norte-americanos considerarão a compra
um EV, na hora de trocar seu automóvel”, conta a diretora de insights da
consultoria Cox Automotive, maior empresa do mundo em soluções para o mercado
automotivo, Stephanie Valdez Streaty.
Ela apresentou o estudo
‘Path to EV Adoption Study de 2024’, na última semana, que entrevistou 2.557
consumidores, e o “dado mais relevante é que 55% dos pesquisados consideram a
compra de um EV, já nos próximos dois anos”, destacou ela.
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A estratégia das grandes montadoras, de
cozinharem o brasileiro em banho-maria, empurrando produtos datados por aqui ao
mesmo tempo em que aderem à virada da eletromobilidade na China, Europa e
Estados Unidos, gera um incômodo desafino como, por exemplo, o que sai da “orquestra”
da Honda.
Enquanto o
presidente-executivo (CEO) da marca japonesa, Toshihiro Mibe, anuncia que vai
dobrar o investimento global em EVs, para a casa de US$ 64 bilhões (o
equivalente a R$ 326,6 bilhões), lançando sete novos veículos elétricos, até
2030, o presidente para a América do Sul, Arata Ichinose, promete um aporte 77
(setenta e sete) vezes menor para o Brasil, de R$ 4,2 bilhões, com foco nos
modelos híbridos.
Não é preciso ser
matemático para notar que o valor investido aqui dá para, apenas e tão somente,
embarcar uma tecnologia em desuso num navio, no Japão, e desembarcá-la em “Vera
Cruz”, estendendo seu uso.
“Nos Estados Unidos, mais da metade dos ouvidos
em nossa pesquisa se diz pronta para comprar um EV dentro de, no máximo, cinco
anos, mas que isso dependerá do crescimento da infraestrutura de recarga das
baterias e da percepção de que os veículos elétricos têm alcance cada vez
maior. Hoje, um grupo de céticos, que não chega a 20%, segue afirmando que
‘jamais’ comprará um EV”, disse Stephanie Valdez Streaty, da Cox Automotive.
Um fato curioso é que, no
primeiro quadrimestre deste ano, as vendas de veículos elétricos cresceram
mais, no Brasil (+ 1.087%), do que no mercado norte-americano (+5,2%), em
relação ao mesmo período de 2023. Lá como cá, o preço é o fator que mais distancia
o comprador de seu primeiro EV:
“Nos EUA, mesmo os
entrevistados que não pretendem comprar um veículo elétrico, nos próximos 24
meses, reconsiderariam a decisão se, nos próximos dois anos, um EV passasse a
custar o mesmo que um modelo equipado com motor a combustão”, pontua Stephanie.
Adequação à eletromobilidade
No país da democracia liberal, o estado intervém
na economia não apenas para taxar os produtos chineses, mas também para
impulsionar uma adequação dos setores primário, secundário e terciário à virada
da eletromobilidade. O governo do presidente Joe Biden estabeleceu a meta
de disponibilizar 500 mil carregadores públicos em todo o país, até 2030 –
hoje, de acordo com o Departamento de Energia (DOE), existem 174 mil pontos.
Mas o próprio
financiamento federal, por meio do programa Nacional de Infraestrutura de
Veículos Elétricos, não é bem compreendido pelos norte-americanos: “De fato,
40% dos consumidores não sabem como os incentivos governamentais os
beneficiam”, afirma o diretor executivo de inteligência da JD Power, Steart
Stropp, citando novo estudo da consultoria, divulgado na semana passada.
Para ele, priorizar iniciativas e esforços para
educar os norte-americanos sobre os EVs, incluindo os incentivos disponíveis e
como funcionam, é vital para acelerar a virada da eletromobilidade.
“Basta ver que cerca de
40% dos ouvidos não conhecem ninguém que possuiu um veículo elétrico e nem sabe
quais, dentre as marcas tradicionais, trazem este tipo de produto em seu
portfólio. Note que apenas um 1/3 dos consumidores pesquisados disseram ter ciência
de que a Nissan oferece um EV, nos Estados Unidos, sendo que a marca vende o
Leaf – seu modelo 100% elétrico – nos EUA, desde 2010”, exemplifica Stropp.
“Ninguém sabe, por exemplo, que leis federais obrigam os fabricantes a
garantirem uma vida útil das baterias automotivas de, no mínimo, 160 mil
quilômetros”.
Se, no “país da liberdade”, o problema é fazer a
informação qualificada chegar às pessoas, no país da piada pronta o desafio é
bem maior, na medida em que a desinformação não se contenta em barrar o
conhecimento, mas em distorcer os fatos para beneficiar econômica e
politicamente grupos até pequenos, levando o incauto brasileiro a pagar preços
escorchantes por automóveis em final de carreira, com a satisfação de quem
adquire a quintessência da tecnologia.
Por aqui, os EVs ainda
são vistos – até mesmo por gente graduada, que frequentou ou ainda frequenta
boas escolas – como algo que “nunca dará certo”, um descrédito que segue sendo
alimentado enquanto um paupérrimo Renault Kwid parte de R$ 73 mil e um ultrapassadíssimo
Honda City não sai por menos de R$ 120 mil. É como diz o ditado, que não me
canso de repetir: “enquanto houver cavalo, São Jorge não andará a pé’.
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Fonte: Nos EUA, 80% dos consumidores pretendem comprar um elétrico