Pela primeira vez, em 2020, os elétricos tiveram participação de 1% no mercado de vendas brasileiro. Estamos falando de um segmento que está no país há menos de dez anos. Por isso ainda há muitas dúvidas relacionadas ao tema. 

Por ainda compreender um baixo número de vendas, não é fácil encontrar um dono de carro 100% elétrico para recomendá-lo. Mesmo quando isso acontece, os preços elevados e proibitivos restringem a opção a poucos consumidores

Para ajudar nossos leitores a sanarem suas dúvidas, vamos fazer aqui a ponte entre os interessados com os donos de carros elétricos. A Mobiauto entrevistou seis proprietários para saber se, na visão deles, valeu a pena comprar um carro elétrico. 

Eles elencaram os principais pontos positivos e negativos, as dificuldades para recarregar e explicaram as dificuldades de se fazer longas viagens em um carro 100% elétrico. Seriam automóveis apenas para uso urbano? Vamos desmistificar se é loucura ou não comprar um carro movido só a eletricidade no Brasil.

Carro elétrico vale a pena?

Como já citado, todos os proprietários entrevistados pela nossa reportagem responderam que sim. Mas por quê? Baixo custo de manutenção, custo de recarga, zero emissão de poluentes, silêncio a bordo e menor desvalorização na comparação com modelos a combustão foram as principais respostas.

Quando questionamos se eles comprariam outro carro 100% elétrico quando fossem trocar, ou se indicariam um veículo eletrificados a amigos, o coro foi unânime: com certeza. E todos foram enfáticos ao afirmar que não voltariam para carros a combustão. 

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Alguns deles já estão no segundo ou terceiro carro elétrico, como o empresário Rodrigo de Almeida (49), de Brasília (DF). Ele se aventurou com um carro elétrico pela primeira vez em 2016. De lá para cá, teve três elétricos na garagem: dois BMW i3 e, mais recentemente, um Chevrolet Bolt.

A advogada Glaucia Savin (56), de São Paulo (SP), comprou o primeiro carro elétrico em 2017 e já está com o terceiro modelo em vista. Sua primeira experiência foi com o BMW i3. Depois, ela migrou para o BMW i3 REX. Fiel ao segmento e à marca, irá comprar outro i3 REX, só que mais novo. 

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O cientista social Keffin Gracher (37), morador de Cachoeira Paulista (SP), comprou outro BMW i3 em 2018, mas a sua experiência não foi das melhores. Não pelo carro em si, mas com o pós-venda da marca. Gracher chamou atenção para o fato de as peças para manutenção demorarem mais de três meses para chegar.

Esse foi o motivo para o cientista social dar uma chance ao Chevrolet Bolt. Agora ele diz estar muito satisfeito, e afirma que só voltaria para os carros a combustão se tivesse algum imprevisto financeiro.

Quais os pontos positivos e negativos?

Pontos positivos 

Baixo custo de recarga: essa foi uma qualidade citada por todos os entrevistados. Rodrigo contou que o seu custo com recarga equivale a 20% a 25% do gasto que teria com combustível. Ultimamente, nem esse gasto ele tem mais, já que vem optando por recarregar seu carro em carregadores públicos.

O empresário ainda cita a possibilidade de colocar painéis solares fotovoltaicos em casa para gerar o próprio “combustível” do veículo e, assim, diminuir os custos a médio e longo prazo. 

O agricultor Pablo Sotomayor (41), de Brasília, concorda com Rodrigo e explica que no Brasil a capacidade de produção de energia solar fotovoltaica é muito grande: “Eu tenho painéis no meu telhado. Então, posso dizer que tenho autonomia sobre a energia que eu produzo e minha mobilidade”.

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Sotomayor comprou um Nissan Leaf em 2020. O agricultor diz ter escolhido o Leaf por já ser adepto de carros de fabricantes japoneses e também pelo fato de o Leaf ter um dos melhores custo-benefício do mercado.

Pablo se mostra satisfeito em não precisar mais ir ao posto de combustível e ficar preso a um único sistema. 

“Se de repente eu acordar e tiver uma inflação ou variação cambial muito alta, como a da gasolina que está aumentando todo mês, ou se tiver outra greve dos caminhoneiros e faltar gasolina no posto, eu não fico refém disso”. E completou: “Quem tem carro elétrico encontra um posto em cada tomada”.

O bancário Tiago Garcia (36), de São Paulo (SP), tem um JAC iEV40 desde 2019 também compartilha da mesma opinião que Almeida e Sotomayor. E ainda acrescenta a facilidade de poder carregar o carro enquanto trabalha, faz compras no supermercado, ou até mesmo enquanto dorme.

Menor custo de manutenção: este foi outro ponto muito citado pelos entrevistados. O custo de manutenção de um elétrico cai bastante, devido ao fato de ele ter muito menos peças que um carro a combustão, já que seu trem de força é muito mais simples, dispensando embreagem, velas de ignição, óleo lubrificante, fluidos de arrefecimento do motor, entre outros componentes.

Na matéria Carro elétrico: 12 dúvidas muito comuns que todo mundo tem sobre ele, um bom exemplo é citado: enquanto o custo de manutenção de um JAC T40 Plus 1.6 CVT (R$ 100.990) nas revisões até 60.000 km é de R$ 5.740, o do elétrico iEV40 (R$ 189.990) é de R$ 739,40.

Poluição zero: silêncio a bordo e sem emitir poluentes, essa é uma boa combinação para os entrevistados que destacaram este fator. Embora o ronco do motor mexa com o coração de muita gente, o silêncio a bordo de um carro 100% elétrico, casado com um eficiente isolamento acústico, é um refrigério diante do caos de uma grande metrópole.

Um carro que não emite poluentes é outro incentivador para as pessoas que querem adotar um estilo de vida mais ecológico, Pablo Sotomayor explica que é preciso pensar além da economia de combustível. 

Enquanto seus amigos mostram resistência ao carro elétrico, alegando que o custo de aquisição é quase o dobro de um a combustão, e que com esse valor dá para abastecer o carro a vida inteira, o brasiliense tem uma mentalidade diferente. 

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“É preciso olhar para todos os materiais que podem ser reciclados em um carro, o custo ambiental, o fato de não emitir poluentes, de ser um carro silencioso, não ter queima de combustível e nem cheiro”, defende.

Pontos negativos

Valor dos carros: o preço alto foi um dos pontos citados pela maioria dos entrevistados como ponto negativo. Para se ter ideia, os três carros 100% elétricos mais barato à venda no Brasil são os JAC e-JS1 (R$ 154.990), iEV20 (R$ 159.900) e iEV40 (R$ 189.900). Depois deles, apenas modelos acima de R$ 200.000. 

Para Tiago Garcia faltam incentivos e políticas públicas para que os carros elétricos sejam comercializados de uma forma mais acessível para o brasileiro. 

Donos de carros 100% elétricos em território brasileiro contam como é a rotina e não querem voltar para os veículos a combustão

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O empresário Rodrigo Almeida também crítica o fato de todos os automóveis 100% eletrificados disponíveis no Brasil serem importados, o que encarece ainda mais o produto.

Pontos e tempo de recarga: Glaucia Savin reclama da falta de infraestrutura nas estradas do país, como pontos de carregamento rápido. É a mesma queixa de Gracher: ele diz que nas rodovias nas regiões Sul e Sudeste é possível encontrar opções de recarga, mas a coisa piora ao subir o mapa rumo a Centro-Oeste, Norte e Nordeste. 

Rodrigo, que viaja pelas regiões de Brasília, São Paulo e Santa Catarina, conta que até encontra carregadores rápidos disponíveis pelas estradas, mas concorda que este é um ponto que precisa ser melhorado, principalmente em cidades do interior. 

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Dá para viajar de carro elétrico?

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Os pontos de carregamento e o tempo de recarga são características do carro elétrico que ainda precisam ser melhoradas. Porém, mesmo longe de um cenário perfeito, os donos de elétricos têm se aventurado mundo afora com seus carros.

Rodrigo contou que faz o trecho Brasília-São Paulo todos os meses e, desde que comprou o carro elétrico, já viajou mais de 15 vezes. O empresário conta com mais detalhes suas experiências de viagem através do seu blog Eletrizante.

O gestor hospitalar Edgar Escobar (54), de São Paulo (SP), possui um BMW i3 desde 2016 e já fez três viagens internacionais a bordo dele. Paraguai, Uruguai e Argentina foram os destinos escolhidos. Além disso, Escobar já se aventurou com o elétrico pelas estradas de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. 

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Keffin Gracher compartilhou sua experiência de ir de São Paulo para o Rio de Janeiro a bordo do Chevrolet Bolt: “Moro na região do Vale do Paraíba (SP). Com os 470 km de autonomia que meu carro oferece, consegui ir até o Rio sem precisar recarregá-lo”. 

No entanto, o cientista social fez uma observação sobre o desempenho. “Quando o carro está com pouca carga, acaba sendo mais lento. Nesse caso, paro em um posto para tomar um café e em 30 minutos na tomada ganho uns 200 km de autonomia”, diz. 

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Vale lembrar que a rodovia Presidente Dutra, que liga as duas maiores cidades do Brasil, é uma das poucas no país já munidas de postos de recarga rápida em pontos estratégicos. Gracher também já foi para Foz do Iguaçu e Porto Alegre, e diz não sentir diferença no desempenho de um elétrico para um a combustão. 

Já o bancário Garcia é mais cauteloso e não se arrisca nas estradas antes de conferir os pontos de carregamento disponíveis pelo trajeto. Ainda assim, prefere ir de avião para destinos mais distantes. Mesmo assim, ele brinca que, de tão satisfeito com seu elétrico, passa boa parte dos dias “evangelizando” conhecidos para convencê-los a se livrar de seus carros a combustão. 

Fotos: Claúdio Gatte e arquivo pessoal dos entrevistados. 

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