A Tesla, montadora de veículos elétricos, foi, ao longo dos anos, ganhando respeito no setor automotivo e, em algumas formas, até superando rivais tradicionais com mais de um século de história.

No encerramento do terceiro trimestre de 2021, a Tesla anunciou que atingiu o marco de 2 milhões de unidades comercializadas, fato inédito até então. Somente entre junho e setembro, a empresa teria vendido mais de 241.000 unidades. Com isso, a marca teria chegado à comercialização de 1 milhão de unidades em 12 meses.

Apesar do crescimento de 72,30% na comparação do acumulado de 2020 até setembro, a companhia afirmou que também enfrenta alguns atrasos por conta da crise de semicondutores, além da demora de alguns fornecedores na entrega de componentes, o que estaria afetando as vendas.

Com atrasos ou não, por ter se concentrado no desenvolvimento de veículos totalmente elétricos desde o início das operações, a Tesla é hoje vista como referência para o segmento de veículos movidos por baterias. Alguns dos componentes da empresa norte-americana já são adquiridos por montadoras tradicionais, como Daimler (dona da Mercedes-Benz) e Toyota.

Mais recentemente, a empresa teve uma grande valorização de mercado. Hoje, está cotada na bolsa em cerca de US$ 1,042 trilhões. Isso representa um valor que chega a ser quatro vezes maior que o de marcas como a Toyota no mercado, por exemplo. A Tesla passou a marca de US$ 1 trilhão, após a Hertz, gigante da locação de veículos, ter anunciado o pedido de compra para 100 mil unidades do Model 3, o carro elétrico mais barato —e mais vendido— da marca.

Hoje, a Tesla tem 2 linhas de montagem ao redor do mundo focadas somente na produção de veículos.

A mais antiga é a de Freemont, Califórnia, nos Estados Unidos. Ela foi fundada em 2010 e produz os atuais quatro modelos que a marca oferece: Model S, Model X, Model Y e Model 3. Em 2019, foi inaugurada a planta de Xangai, na China, focada na produção dos dois últimos modelos, mais recentes e acessíveis.

Uma terceira unidade, que também produzirá Model Y e Model 3, está nas fases finais de construção nos arredores de Berlim, na Alemanha.

Tesla nem sempre foi sinônimo de Elon Musk

O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk / Foto: Mike Blake – 13.jun.2019 / Reuters

Apesar de haver a crença de que a história da Tesla está intimamente ligada ao nome do empresário norte-americano, sua história começou antes. Como companhia, ela foi fundada em 2003 por Martin Eberhard e Marc Tarpenning. A primeira rodada de investimentos foi liderada por Elon Musk, que se juntou ao conselho administrativo da então Tesla Motors apenas em 2004, como presidente. O nome da empresa é uma homenagem ao engenheiro sérvio Nikola Tesla.

O primeiro veículo da marca, porém, foi apresentado somente em 2008. Era o Tesla Roadster, um modelo de proposta esportiva que tomava por base o chassi do britânico Lotus Elise. No lugar do motor convencional, tinha um motor elétrico de corrente alternada. Com ele, era capaz de rodar até 350 km sem recargas, de acordo com a empresa.

Por se tratar de uma das poucas opções de veículos elétricos da época, uma das principais críticas feitas ao Roadster era que ele parecia ter chegado ao mercado ainda não finalizado. Ele enfrentou problemas de acabamento, e os proprietários raramente conseguiam atingir os números de autonomia anunciados pela empresa.

A vida do Tesla Roadster foi relativamente curta, sendo produzido até o final de 2011. No entanto, a marca já anunciou planos para o lançamento de uma segunda geração do esportivo para o curto prazo, incluindo algumas soluções polêmicas. Elon Musk teria sinalizado que o carro usaria até impulsores similares aos usados nos foguetes da SpaceX (empresa aeroespacial de Musk).

Em 2012, a Tesla apresentou o Model S. O sedã mostrou que era possível se fazer um carro elétrico sem necessariamente se comprometer com um visual futurista.

O carro continua em produção e recentemente ganhou uma nova versão, a Plaid, mais potente da linha. Ele é capaz de entregar 1.020 cv de potência e 144,8 kgfm de torque graças ao uso de três motores elétricos. Com isso, a marca promete uma aceleração de 0 a 100 km/h em 1,99 segundos. A nova configuração também oferece um manche, que cumpre a função de volante.

Apresentado também em 2012, o Tesla Model X foi o primeiro SUV da marca, mirando nos segmentos premium e de sete lugares. O modelo tinha “Falcon Doors”, portas traseiras articuladas que se abriam para cima, não para os lados. Sua operação era complexa e foi um dos motivos do grande atraso para o início da produção, que ocorreu somente em 2015.

Até então com produtos de luxo, a empresa de Elon Musk já se via pressionada por investidores para dar lucro. E a Tesla fez o que a maior parte das montadoras já havia feito no passado: investiu em um carro mais acessível. Foi assim que nasceu o Model 3 em 2017, sedã de porte médio e que hoje pode ser adquirido nos Estados Unidos por a partir de US$ 41.990. Apesar de ser o mais barato da Tesla, mesmo a versão básica, com as menores baterias, é capaz de rodar 422 km com uma carga.

A Tesla também não está imune às tendências de mercado e um pequeno SUV se fez necessário da mesma forma que para as montadoras tradicionais. Essa foi a motivação para o lançamento do Model Y, em 2019, utilizando a base do sedã de entrada. As entregas tiveram início em março do ano passado.

Junto ao Model 3, o SUV foi um dos responsáveis pelo aumento exponencial das vendas da Tesla, assim como seu faturamento. Das 241.300 unidades que a empresa comercializou globalmente no terceiro trimestre, 235.025 correspondiam a um dos dois modelos. O sedã, inclusive, conseguiu o feito de se tornar o carro mais vendido de sua categoria na Alemanha, superando as gigantes locais Audi, BMW e Mercedes-Benz em setembro.

Promessas e polêmicas

A história da Tesla desde o envolvimento de Elon Musk com a empresa sempre esteve envolto em controvérsias.

Nos primeiros anos, os carros não faziam necessariamente o que montadora afirmava. Depois, a montadora foi acusada de entregar veículos com sérios defeitos de montagem, como portas que não se alinhavam propriamente, por exemplo. A marca vem desde então resolvendo tais questionamentos aos poucos.

A Tesla também sempre investiu muito na tecnologia. O Model 3, para se ter ideia, nem tem um painel de instrumentos convencional à frente do motorista. Todas as informações e a maior parte dos comandos do carro ficam concentrados em uma imensa tela digital que ocupa a porção central da cabine. A Tesla chama a solução de minimalista, mas nem todos os consumidores a aprovam.

Os carros da marca também contam com uma série de câmeras. Além de visão de 360 graus para auxiliar manobras, também fazem parte do sistema “Sentry Mode”. Quando um Tesla está estacionado, quaisquer movimentos ao redor do veículo podem ser registrados em vídeo.

Mas as câmeras têm um papel bem mais relevante na estratégia de Musk.

Em 2016, a Tesla afirmou que seus veículos seriam dotados de hardware e software capazes de oferecer condução autônoma de nível 2, onde o motorista poderia, em tese, deixar o carro se guiar sozinho. Hoje, o sistema é envolto em polêmicas.

Usuários já o encaram como um carro 100% autônomo e é comum relatos de acidentes envolvendo os carros da Tesla onde os motoristas estavam dormindo ou sequer ao volante. A acusação é que a marca estaria vendendo um sistema com uma promessa que ainda não pode ser cumprida.

A mais recente polêmica envolvendo a Tesla foi o lançamento da Cybertruck, primeira picape elétrica da marca. Na apresentação, Elon Musk afirmou que os vidros do carro deveriam aguentar altos impactos, como uma espécie de película anti-vandalismo. No entanto, ao vivo, as janelas não aguentaram o arremesso de uma peça de aço de tamanho similar ao de uma bola de tênis.

O visual, pra lá de futurista, também levantou questionamentos. Com carroceria sem pintura e ângulos agudos que parecem ter saído de um jogo, a Cybertruck não estaria mirando o comprador tradicional de picapes nos Estados Unidos, mas sim consumidores mais jovens e de outros modelos.

Todos os lançamentos da Tesla sofreram atrasos nas entregas e o mercado passou a desconfiar das promessas de Musk. Mas os números da empresa, tanto de vendas quanto de valor de mercado, mostraram que, apesar das excentricidades do CEO e de seus carros, já é uma companhia estabelecida.

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