Corria o ano de 1997 quando a Toyota teve a ousadia de passar para um carro de produção uma tecnologia que há muito se testava em protótipos. O resultado foi o Toyota Prius, o primeiro híbrido de produção em série e um modelo que lançou as bases para a eletrificação da indústria automóvel numa altura em que… ninguém falava do assunto.
Volvidos 20 anos, o Toyota Prius vai na sua quarta geração e com um visual tão controverso como na primeira. O que mudou também (e muito) foi o panorama da indústria automóvel durante este período de tempo e a concorrência ao pioneiro não podia ser mais feroz.
E ela vem, sobretudo, de dentro de casa — já contaram o número de modelos híbridos que a Toyota tem para oferecer em 2020? Apenas o Aygo, GT86, Supra, Hilux e Land Cruiser não contam com uma versão híbrida.
VÊ TAMBÉM: Testámos o Hyundai Kauai Hybrid. É esta a escolha ideal?
A questão que colocamos é: será que faz sentido o pioneiro dos híbridos ainda existir? Aproveitando o restyling recentemente recebido e a novidade de agora poder ter tração integral, pusemos à prova o Toyota Prius AWD-i.
No interior do Toyota Prius
Tal como acontece no exterior, o interior do Prius é típico de um… Prius. Seja pelo painel de instrumentos digital central, que se revela bastante completo, mas exige um considerável tempo de habituação; até ao facto de o travão de mão ser acionado com o pé, tudo no interior do Prius não poderia ser mais… japonês.
Por falar nisso, também a qualidade segue a bitola nipónica, com o Prius a contar com uma assinalável robustez. Ainda assim, não posso deixar de considerar que a escolha dos materiais usados no interior do seu irmão, o Corolla, foi um pouco mais feliz.
Quanto ao sistema de infotainment, este tem as mesmas qualidades (e defeitos) normalmente reconhecidos aos sistemas usados pela Toyota. Fácil de utilizar (as teclas de atalho ajudam neste aspeto) e bastante completo. Peca apenas por contar com um visual datado face àquilo que a maior parte dos concorrentes apresenta.
VÊ TAMBÉM: Testámos o Jeep Compass Night Eagle. É um Jeep mas será um bom SUV?
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
Já ao nível do espaço, o Prius tira proveito da plataforma TNGA (a mesma do Corolla e do RAV4) para oferecer boas cotas de habitabilidade. Assim sendo, contamos com uma bagageira generosa, com 502 litros de capacidade, e espaço mais que suficiente para quatro adultos viajarem com conforto.
VÊ TAMBÉM: Testámos o Lexus ES 300h, o automóvel mais Zen do segmento
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
O curioso posicionamento da manete da caixa e-CVT traz à memória o slogan escrito por Fernando Pessoa para a Coca-Cola: “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Ao volante do Toyota Prius
Tal como te disse, o Toyota Prius recorre à mesma plataforma que o Corolla (aliás, foi o Prius que a estreou). Ora, só esse simples facto garante ao híbrido da Toyota um comportamento competente e até divertido, principalmente quando temos em conta que o Prius tem como principal objetivo a eficiência e a economia.
VÊ TAMBÉM: Toyota Mirai 2020. O primeiro carro a hidrogénio em Portugal
A direção é direta e comunicativa e o chassis responde bem às solicitações do condutor. Ainda assim, nota-se um acerto mais focado no conforto face ao Corolla. Já o sistema de tração integral, revela uma atuação rápida e eficaz.
Quanto às prestações, os 122 cv de potência combinada impulsionam o Prius com agradável celeridade na maioria das situações, principalmente se escolhermos o modo de condução “Sport”.
Como é óbvio, é impossível falar do Prius sem mencionar o seu sistema híbrido, a sua razão de ser. Bastante suave, este privilegia o modo elétrico. Tal como no Corolla, também no Prius o trabalho feito pela Toyota no campo do refinamento é notável, permitindo reduzir consideravelmente o incómodo que habitualmente associamos à caixa CVT .
VÊ TAMBÉM: Já testámos o Toyota C-HR mais potente e eficiente de sempre (vídeo)
Por fim, no que diz respeito aos consumos, o Prius não deixa créditos por mãos alheias, fazendo um muito bom uso do seu sistema híbrido para conseguir excelentes resultados.
Ao longo do teste, e numa condução despreocupada e com um considerável uso do modo “Sport” estes ficaram-se pelos 5 l/100 km. Já com o modo “Eco” ativo, consegui médias tão baixas como 3,9 l/100 km em estrada nacional e 4,7 l/100 km em cidade, contando para tal com um considerável uso do modo elétrico.
NÃO PERCAS: Porque é que não há mais híbridos Diesel?
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
A versão com tração integral do Toyota Prius conta com jantes em liga leve de 15″ com tampão aerodinâmico.
É o carro certo para mim?
Comecei este texto com a pergunta “será que o Prius ainda faz sentido?” e, ao final de alguns dias ao volante do modelo nipónico a verdade é que não te consigo dar uma resposta concreta.
Por um lado, o ícone híbrido que é o Toyota Prius está hoje melhor que nunca. O sistema híbrido é o espelho de mais de 20 anos de desenvolvimento e impressiona pela suavidade e eficácia, o comportamento dinâmico surpreende e os consumos continuam a ser notáveis.
Mantém um design e estilo nada consensual — uma das suas imagens de marca —, mas continua a ser imensamente eficaz ao nível aerodinâmico. É (muito) económico, espaçoso, bem equipado e confortável, pelo que o Prius continua a ser uma opção a ter em conta.
VÊ TAMBÉM: Lembras-te deste? Daihatsu Charade GTti, o mil mais temido
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
Por outro lado, ao contrário do que acontecia em 1997, hoje o Prius tem muito mais concorrência, sobretudo interna, como referimos. Objetivamente, é impossível não referir aquele que considero o seu o maior rival interno, o Corolla.
Disponibiliza a mesma motorização híbrida 1.8 de 122 cv do Prius, só que por um preço de aquisição inferior, mesmo quando a escolha recai na Corolla Touring Sports Exclusive, a carrinha da gama com o nível mais elevado de equipamento. Porquê a carrinha? A capacidade da bagageira é ainda maior (598 l).
É verdade que o Prius lidera ainda em eficiência absoluta, mas será que justifica os quase três mil euros a mais (versão standard, com duas rodas motrizes) para o Corolla?
O novo Toyota Prius AWD-i adiciona ainda a tração integral, o que acarreta um aumento ainda considerável relativamente ao Prius de duas rodas motrizes, pelo menos nesta versão Premium — o seu preço é de 40 594 euros. Uma opção a ter em conta para alguns, não duvidamos, mas desnecessária para um uso urbano/suburbano, que é onde encontramos a maioria dos Prius.