A Jaguar é conhecida como uma das mais refinadas marcas do segmento de luxo. Mas tem uma faceta nem sempre lembrada. Clássicos como o XK 120 ou XJ220 foram os carros mais rápidos do mundo em suas épocas.
A esportividade sempre foi uma característica intrínseca à marca, tanto que a britânica resistiu bravamente a criar um SUV, mesmo em meio à febre do segmento.
A rendição ocorreu apenas em 2017, com o F-Pace. Será que o pesado utilitário conseguiria carregar toda a tradição que a Jaguar sempre teve ao longo dos anos?
Luxo o F-Pace já tinha, requinte também. Restava apenas dar aquela preparada. Sem perder tempo, a Jaguar levou o grandalhão para receber um tratamento de sua divisão de alta performance, a Special Vehicle Operations (SVO) — ou Operação de Veículos Especiais —, que funciona para os modelos da marca da mesma forma que a AMG para os Mercedes-Benz, a M para a BMW ou a RS para a Audi.
E os engenheiros não estavam para brincadeira, criando uma versão para o SUV que deixa muito esportivo no chinelo. O F-Pace recebeu o badge SVR — o R representa Racing, em uma preparação que aliou um desempenho poderoso à praticidade e ao conforto próprios dessa categoria de veículos.
Vamos ao monstrão, mais mau-encarado que sua versão civil, mas sem descaracterizar o belíssimo design. Para resfriar o motor V8, a dianteira tem entradas de ar maiores, reposicionadas para melhorar o arrefecimento.
Freios também mudam. Na frente, os discos têm 395 mm; atrás, 396 mm, com as pinças pintadas de vermelho. Arcos de rodas são mais amplos para abrigar as rodas forjadas de 21 polegadas — como opcional, há um jogo aro 22. O aerofólio gruda a traseira no chão e dá aquele ar mais invocado.
Para finalizar, o escapamento, inspirado no do F-Type, é 6,6 kg mais leve, tem variação de abertura da válvula (com acionamento por botão) e quatro ponteiras de alumínio.
Como o compressor do motor é acionado pela correia e não depende de roubar os gases do escapamento, como ocorre em um turbo, o ronco é mais brutal, quase um rugido.
Ao entrar no veículo, muitas coisas agradam logo de cara. O acabamento, impecável, é repleto de couro e materiais dignos das melhores grifes, mas há também uns toques moderninhos.
O que mais chama a atenção, porém, são os bancos esportivos inteiriços, que, além de belos, com costuras em forma de losangos e o logotipo SVR, são extremamente confortáveis. Mas os comandos dos vidros, na moldura da janela, não são lá tão ergonômicos.
Ao apertar o botão de partida, a diversão começa. Inicialmente rodamos no modo Conforto, mais amigável na cidade, apesar de revelar uma ligeireza impressionante para um carro de mais de duas toneladas. A suspensão tem ajuste macio e não maltrata os passageiros ao rodar por ruas esburacadas. Esqueça o modo Eco (ou o Neve), por razões óbvias: quem tem cacife para comprar e manter um carro desse nível não vai se preocupar em economizar combustível, já que o desempenho fica bem mais letárgico, especialmente nas saídas.
Agora… é no modo Dinâmico que o bicho pega. Você até pode configurar a direção e a suspensão conforme sua preferência, mas os ajustes de fábrica já são afinadíssimos.
Com torque máximo de 69,3 kgfm logo a 2.500 giros, o 5.0 V8 de impressionantes 550 cv move o SUV com extrema facilidade. O câmbio automático de oito marchas é rápido e casa bem com o motor e a direção precisa, tornando toda a experiência de condução superlativa.
Na pista, o F-Pace chegou aos 100 km/h em apenas 4,6 segundos, além de registrar outros números admiráveis para um carro desse porte, como a retomada de 40 km/h a 80 km/h em 2 segundos e a distância de menos de 40 metros na frenagem de 100 km/h a zero.
Sabe aquela história de o centro de gravidade alto dos SUVs atrapalhar na hora da curva? Não é o caso aqui. O SVR gruda no asfalto e oferece uma estabilidade fora do comum. Mal chega a entortar a carroceria em curvas fechadas feitas em alta velocidade.
Mas nem tudo são flores: o consumo é bem alto, especialmente na cidade — o carro roda 5,7 km/l. Na estrada até que o V8 bebe razoavelmente menos, fazendo 9,8 km/l. A boa notícia é que, com um tanque de 82 litros, você vai demorar para passar no posto; contudo, uma vez lá, vai deixar quase R$ 400 para completá-lo.
Como não poderia deixar de ser, muito luxo e segurança estão presentes no F-Pace SVR. A vida a bordo é bastante agradável. Com 10 polegadas, a central multimídia é fácil de mexer, mas a sensibilidade ao toque não é são sutil, sendo algumas vezes preciso pressionar com mais força para que o sistema “entenda” qual comando você deseja ver na tela.
A vida não é tão ruim também para quem viaja atrás. O túnel central é alto, o que prejudica o conforto de um eventual quinto passageiro, mas duas pessoas têm espaço razoável para pernas e cabeça. Além disso, há saídas de ar-condicionado, entrada USB e até aquecimento dos assentos traseiros. O porta-malas tem ótimos 650 litros, que podem chegar a 1.731 litros com o rebatimento do banco.
A lista de série traz teto panorâmico, faróis de LED automáticos e adaptativos, bancos com aquecimento e resfriamento, volante aquecido (e com logo SVR), paddle shifts de alumínio, câmera de ré, controles de tração e estabilidade, chave presencial e head-up display, mas equipamentos como alerta de ponto cego, assistente de estacionamento, controle de cruzeiro adaptativo, câmera 360 graus e frenagem automática de emergência são opcionais.
Com preparação especial, não é surpresa que o SVR tenha um preço condizente: R$ 539.100. Curiosamente, o modelo não tem concorrente direto que seja equivalente em preço e performance. O recém-lançado Mercedes-AMG GLE 53 até se aproxima no valor, mas possui sistema híbrido e traz uma proposta menos agressiva. A briga mesmo se dará quando o Porsche Macan Turbo desembarcar aqui.
Jaguar F-Pace SVR
Preço: R$ 539.100
Números
0 – 40: 1,5 s
0 – 80: 3,3 s
0 – 100: 4,6 s
0 – 120: 6 s
0 – 400 m: 12,6 s
0 – 1.000 m: 22,8 s
Veloc. a 1.000 m: 235 km/h
Vel. real a 100 km/h: 95 km/h
Retomada
40 – 80 km/h (Drive): 2 s
60 – 100 km/h (D): 2,4 s
80 – 120 km/h (D): 2,7 s
Frenagem
100 – 0 km/h: 39,8 m
80 – 0 km/h: 25,4 m
60 – 0 km/h: 14,9 m
Consumo
Urbano: 5,7 km/l
Rodoviário: 9,8 km/l
Média: 7,7 km/l
Aut. em estrada: 803,6 km
Motor: Dianteiro, longitudinal, 8 cil. em “V”, 5.0, 32 V, compressor, injeção direta de gasolina
Potência: 550 cv a 6.000 rpm
Torque: 69,3 kgfm a 2.500 rpm
Câmbio: Automático de oito marchas, tração integral sob demanda
Direção: Elétrica
Suspensão: McPherson (diant.) e multilink (tras.)
Freios: Discos ventilados (diant.) e discos sólidos (tras.)
Pneus e rodas: 265/40 R22 (diant.) e 295/35 R22 (tras.)
Tanque: 82 litros
Porta-malas: 650 litros
Peso: 2.070 kg
O que mais importa
• O modelo é fabricado na unidade da Jaguar em Solihull, na Inglaterra, mas a preparação feita pela divisão SVO é feita em Warwickshire
• Desde 2017 (SVR lançado em 2018)
• Primeira geração
• Foi o primeiro SUV criado pela marca
•Versão SVR chegou ao mercado brasileiro em outubro do ano passado
Curiosidades
• As rodas são 2,4 kg mais leves na frente e 1,7 kg na traseira em relação às demais versões do F-Pace e foram projetadas para fornecer um fluxo de ar maior aos discos de freio.
• O escapamento é ativo, com variação de abertura da válvula para aumentar o ronco do V8.
Multimídia
• 10 polegadas e sensível ao toque
A central possibilita controlar funções de entretenimento, o navegador GPS e a conectividade via Apple CarPlay e Android Auto. Há ainda comandos para ajuste de suspensão e direção no modo Dinâmico
Emissões de CO2: 272g/km
O que é SVO: A Special Vehicle Operations (SVO) é a divisão de performance da Jaguar, onde são desenvolvidos veículos de alto desempenho e edições limitadas. Além do F-Pace, o F-Type já recebeu o badge SVR. A divisão também foi responsável pelo XE SV Project 8, o sedã de produção mais rápido do mundo hoje.
Gastos de Manutenção
Revisões
10 mil km – R$ 10.789
20 mil km – R$ 10.789
30 mil km – R$ 10.789
Cesta de peças*: R$ 55.895
Garantia: 3 anos
Projeção de gastos para 1 ano
Consumo (média urbana de 30 km diários percorridos)
Gasolina: R$ 8.655
Troca de óleo (incluindo a troca dos filtros de ar e óleo): ND
Seguro**: R$ 9.620
Pontos positivos: O desempenho forte é o ponto alto, com suspensão bem ajustada, direção precisa e agilidade de sobra, além de um belíssimo ronco do V8
Pontos negativos: Consumo nas alturas e manutenção absurdamente cara são compatíveis com o preço proibitivo do SVR, um SUV para pouquíssimos bolsos
*Cesta: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível.
**Seguro: A cotação foi feita pela Limiar Seguros (11-2506-9242) com base no perfil de um homem de 40 anos, casado, morador da zona sul de São Paulo, sem bônus.