Lembra daquele comercial de refrigerante que ficou famoso nos anos 1990? Se a peça publicitária fosse feita nos dias atuais, o carro daquele homem do elevador seria um Toyota Corolla GR-S — a marca afirma que o típico dono tem 47 anos. A menina teria o perfil do consumidor moderno: nem aí para hatches e sedãs médios e de olho nos SUVs. Tio, aperta 21 para mim?

Em sua 12ª geração, o veterano carro está na sua melhor forma e tenta ficar ainda mais descolado para atrair a atenção daqueles que estão de olho nos utilitários. E a versão preparada pela Gazoo Racing, divisão de competição da Toyota — que recentemente vem se aventurando nos veículos de rua —, pode ser a pedida. Só vou adiantar que o preço não é tão doce quanto o refrigerante de laranja.

O sedã já tentou se pavonear outras vezes; as antigas variantes S e XRS não me deixam mentir. O Corolla GR-S ou GR Sport vai pelo mesmo caminho: é todo pimpão.

O visual chama a atenção nas ruas, e no quesito segurança o Corolla é referência — Foto: Divulgação

Tem para-choques diferenciados, saias laterais, bonitas rodas exclusivas de 17 polegadas e até um spoiler integrado à tampa do porta-malas com o intuito de parecer cool. O resultado é alcançado nas ruas, pois o Corolla GR-S recebe olhares cobiçosos. Faróis, lanternas e luzes diurnas são todos de LED, e os retrovisores e o teto são pintados de preto para completar o visual despojado. Sem falar nas plaquetas GR Sport espalhadas pela carroceria, a chancela da divisão esportiva.

Só que as mudanças não são apenas visuais. A Gazoo Racing instalou novos amortecedores e molas, que deixam o ajuste mais rígido. Dá para sentir, definitivamente, o acerto enrijecido, o apoio melhor da rolagem da carroceria, mas não dá para dizer que o Corolla se tornou um carro esportivo que vira tempo nas pistas de corrida.

O preço é mais alto que o cobrado pelos rivais e pelo inédito Corolla Cross, que traz o mesmo motor — Foto: Divulgação

O sedã ainda tem a pegada de conforto para o dia a dia, absorve bem as imperfeições do asfalto e não deixa o interior chacoalhar muito. A falta de ímpeto também está na mecânica. Apesar de o 2.0 flex ter uma proposta melhor que a do híbrido para ostentar a sigla GR-S, o quatro cilindros aspirado de até 177 cv e 21,6 kgfm é o mesmo, por exemplo, da versão de entrada, a GLi.

Os números parecem superlativos, mas são entregues de forma pacata. É como se o tiozão comprasse um tênis para correr e se cansasse nos primeiros metros. O torque total só aparece a elevados 4.400 rpm. Nessa faixa o Corolla dá uma estilingada, mas o barulho passa a sensação de que o motor está sendo esganado.

O nível de equipamentos é bom, mas o multimídia precisa melhorar — Foto: Divulgação

Na nossa pista de testes, o GR-S, que tem peso e rodas iguais aos da versão XEi, precisou de 9,8 segundos para chegar aos 100 km/h — é o mesmo tempo do Honda Civic 2.0. O Chevrolet Cruze, por sua vez, leva 8,8 s. Se for pela faixa de preço, o Civic Touring é outro patamar: 7,5 s. Já o consumo é razoável; com etanol no tanque, são 7,3 km/l na cidade e 11,6 km/l na estrada.

A sobriedade do interior é quebrada com detalhes vermelhos nas costuras do volante, painel e alavanca do câmbio. O acabamento e os materiais são bons. Entre os itens de série, destaque para a segurança, com frenagem de emergência, alerta de mudança de faixa que faz correções no volante e controle de cruzeiro adaptativo. A central está longe de ser a ideal, com interface simples e morosidade nas respostas. Ainda bem que tem Apple CarPlay e Android Auto.

As costuras vermelhas quebram a sobriedade do interior dominado pela cor preta — Foto: Divulgação

Além da crise de meia-idade e do fato de o conjunto mecânico não fazer jus à aparência, o GR-S tem outro inconveniente: o preço. Por R$ 159.290, é o Corolla 2.0 flex mais caro da linha — supera ainda a versão híbrida de “entrada”, Altis, de R$ 158.290.

Em comparação aos rivais, fica mais discrepante. O adversário histórico, Honda Civic EXL (2.0 flex de 155 cv), custa R$ 133.600 — são mais de R$ 25 mil de diferença. A Chevrolet pede R$ 144.740 pelo Cruze Premier (1.4 turbo de 153 cv), quase R$ 15 mil a menos. Civic Touring (1.5 turbo de 173 cv)? R$ 2 mil mais barato. Esses concorrentes turbinados ainda levam vantagem no desempenho e no consumo.

O Corolla GR-S também tem de lidar com a briga interna. É mais caro que o irmão Corolla Cross, de R$ 146.590 (XR) ou R$ 157.090 (XRE). Tudo bem que o sedã tem o quesito segurança a seu favor, mas o SUV é um… SUV! Tanto que, em junho, o Cross vendeu mais: 4.710 unidades contra 3.544. Tal cenário deve se repetir mais vezes até o final do ano. Tio, aperta o 21 de novo para mim?

Toyota Corolla GR Sport

TESTE
ACELERAÇÃO
0 – 100 km/h: 9,8 s
0 – 400 m: 17 s
0 – 1.000 m: 30,5 s
Veloc. a 1.000 m: 178,2 km/h
Vel. real a 100 km/h: 94 km/h
RETOMADA
40 – 80 km/h (Drive): 4,1 s
60 – 100 km/h (D): 5,2 s
80 – 120 km/h (D): 6,2 s
FRENAGEM
100 – 0 km/h: 40,3 m
80 – 0 km/h: 26,2 m
60 – 0 km/h: 14,6 m
CONSUMO
Urbano: 7,3 km/l
Rodoviário: 11,6 km/l
Média: 9,4 km/l
Aut. em estrada: 580 km

Toyota Corolla GR Sport

FICHA TÉCNICA
Motor: Dianteiro, transversal, 4 cil. em linha, 2.0, 16V, comando duplo, injeção direta e indireta, flex
Potência: 177/169 cv a 6.600 rpm
Torque: 21,4 kgfm a 4.400 rpm
Câmbio: Automático, CVT, tração dianteira
Direção: Elétrica
Suspensão: Indep. McPherson (diant.) e multilink (tras.)
Freios: Discos ventilados (diant.) e sólidos (tras.)
Pneus: 225/45 R17
Tanque: 50 litros
Porta-malas: 470 litros (fabricante)
Peso: 1.405 kg
Central multimídia: 8 pol., sensível ao toque, Apple CarPlay e Android Auto
DIMENSÕES
Comprimento: 4,63 metros
Largura: 1,78 m
Altura: 1,45 m
Entre-eixos: 2,70 m

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