Calma, a Toyota não pretende lançar o Mirai no Brasil – longe disso! A marca japonesa sabe do potencial da célula de combustível (vamos explicar já já), mas entende que essa tecnologia é complicada e muito custosa (muito mesmo!) até nos países desenvolvidos. Mas isso não impediu que uma unidade fosse importada do Japão para testes aqui no país.

Mirai significa “futuro” em japonês. Uma excelente escolha para um carro que aparenta ter viajado no tempo. E depois de algumas voltinhas, lamentei pelo fato dele usar hidrogênio como combustível. Uma versão elétrica convencional (que pluga na tomada) daria um excelente carro para o nosso mercado.

Vamos por partes. Antes de explicar as vantagens e desvantagens deste novo tipo de carro, é válido ter uma breve aula de eletroquímica para entender como o hidrogênio se converte em eletricidade.

De volta ao colégio

Enquanto elétricos convencionais são abastecidos com eletricidade diretamente na tomada, o Mirai é abastecido com gás hidrogênio. A Toyota instalou três tanques na parte inferior do veículo, onde estariam as baterias de um carro elétrico. Ali fica armazenado o combustível do sedã de luxo.

O hidrogênio é pressurizado em um catalisador, onde seus íons e elétrons são separados. Os elétrons formam a corrente elétrica que é enviada ao motor, fazendo as rodas do carro girarem e os sistemas eletrônicos funcionarem. As moléculas de oxigênio se juntam aos íons de hidrogênio residuais, formando água.

Em outras palavras: no lugar da gasolina, temos hidrogênio. E no lugar dos gases tóxicos de escape, apenas água. Caso você esteja curioso, é possível beber essa água, mas ela não carrega sais minerais ou qualquer propriedade nutritiva.

Toyota Mirai 2023 tem três tanques de hidrogênio e autonomia para rodar 600 km — Foto: Divulgação

Vantagens e desvantagens

Carros movidos a hidrogênio resolvem um problemão dos elétricos: o tempo de espera para carregar. Enquanto o dono de um elétrico a bateria terá que buscar uma estação de recarga e esperar vários minutos (ou até horas) pelo carregamento, o proprietário de um Mirai terá apenas que procurar uma bomba de hidrogênio e encher os tanques. Este processo leva menos de cinco minutos, segundo a Toyota.

A autonomia é outro ponto forte dos carros movidos a células de hidrogênio. Enquanto dá para contar nos dedos (de uma mão) os carros elétricos capazes de rodar mais de 600 km atualmente, o Toyota Mirai ultrapassa esse número. Dá para dirigir de São Paulo (SP) a Uberlândia (MG) com apenas um tanque.

O MIrai é um sonho distante para o mercado brasileiro — Foto: Divulgação

Infraestrutura inexistente

Agora vamos à parte chata, que torna o Toyota Mirai totalmente inviável para 2022. A infraestrutura para carros movidos a célula de hidrogênio ainda é caríssima, até como consequência da baixa oferta de veículos na categoria. Além do Mirai, só os novos Hyundai Nexo e Honda Clarity compartilham a tecnologia.

Para você ter uma noção de quanto é caro, a fabricante até chegou a orçar a instalação de uma estrutura de abastecimento, importada da Europa, para a fábrica de Sorocaba (SP). O valor final do “posto” ficaria em 800 mil euros – R$ 4,2 milhões na conversão simples. Ou seja…

Como não dá para rasgar dinheiro, o jeito foi procurar uma alternativa com algumas empresas aqui no Brasil. A Toyota adquiriu alguns cilindros de hidrogênio e improvisou uma válvula para abastecer o Mirai. O problema é que essa estrutura não atinge a pressão de 700 bar que é necessária para encher os tanques – fica apenas em torno de 105 bar. Logo, o Mirai tem que ficar vários dias conectado para recuperar sua autonomia.

Antes de partir para a pista, um engenheiro da Toyota fez um pedido um tanto quanto informal: “não senta o pé no Mirai”. Ao entrar no veículo, vi que o painel marcava apenas 50 km de autonomia restantes. As chances do sedã sofrer uma “pane seca” eram reais, então decidi andar na boa.

Na versão XLE (US$ 49 mil, ou R$ 250 mil), a única que a Toyota importou, o Mirai desenvolve 182 cv de potência e 22 kgfm de torque. A tração é traseira – e como qualquer carro elétrico, o Mirai não tem transmissão.

Fiquei surpreso com o conforto. O motor não faz barulho e o som do vento no para-brisa também é quase nulo. Isso se deve ao design aerodinâmico que faz o ar passar com mais suavidade para reduzir o arrasto e melhorar o consumo. Os pneus nas medidas 235/55 R19 também são bem silenciosos.

Interior do Mirai tem um botão que elimina a água gerada pela separação dos íons e elétrons — Foto: Divulgação

O balanço da suspensão é excelente. A sensação é de estar velejando, sem trepidações ou rebotes sentidos na cabine. Nas curvas, a rolagem da carroceria é firme, mostrando-se adequada para um sedã desse patamar. O Mirai lembra o Camry, priorizando o conforto como um bom carro executivo. Segundo a Toyota, o carro elétrico leva em torno de 9,1 segundos para atingir 100 km/h. O número está longe de impressionar, mas é condizente com a proposta.

Apesar do test-drive curtíssimo, deu para perceber que o Toyota Mirai é uma ótima ideia em termos de mobilidade e sustentabilidade – infelizmente, não para o Brasil. A tendência é que o sedã continue ganhando as ruas nas grandes metrópoles, como Los Angeles (EUA) e Tóquio (Japão), seus principais mercados no mundo. Se por aqui ainda estamos engatinhando na infraestrutura de estações de recarga para carros elétricos, imagine abastecer um carro a hidrogênio. Sem falar no preço…

As informações são do Autoesporte.

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