A Toyota conta com uma ampla gama de utilitários esportivos no exterior. Só nos Estados Unidos, a marca japonesa oferece seis modelos, além de duas picapes grandes. Entretanto, a montadora ainda não dispõe no mercado brasileiro de um SUV compacto para disputar a categoria que mais cresceu nesta década. No acumulado de 2019, os utilitários já respondem por 25,7%, ¼ das vendas totais.
Durante o lançamento do novo Corolla, Autoesporte conversou com Miguel Fonseca, vice-presidente executivo da Toyota do Brasil, para entender porque a montadora japonesa ainda não lançou o seu SUV compacto. A empresa estuda apostar em uma derivação do conceito Daihatsu DN Trek, mostrado no Salão de Tóquio de 2017. Mas o SUV deve ficar para 2021.
“Isso não é segredo. Nós consideramos este projeto. Ainda estamos considerando e avaliando as opções que existem. É um tema para mais adiante, não é algo para curto ou médio prazos. Nós temos de considerar as questões industriais, estamos investindo pesado nos novos projetos e temos que observar o retorno desses investimentos”, explica o executivo da Toyota.
Para Miguel, o momento da economia global não favorece — e foi por isso que a montadora decidiu priorizar segmentos tradicionais em que é forte. Há fatores “muito complexos” que pairam sobre o projeto do SUV, como questões técnicas e até aspectos macroeconômicos — os recentes conflitos alfandegários entre Estados Unidos e China, e o livre-comércio na Europa com o Brexit, a crise aguda na Argentina…
“Neste momento, há uma desestabilidade (no projeto do SUV da Daihatsu) em torno de muitas dessas questões. Por isso, ainda não tomamos nenhuma decisão sobre esses futuros projetos”, diz. Um dos pontos mais sensíveis é a exportação. “Tem de ser um produto pensado para o nosso mercado, mas também competitivo na região. Sem exportação, nenhum projeto é viável hoje”, reforça.
Até aspectos legais podem retardar a chegada do SUV da Toyota. “Muitas vezes, a nossa regulamentação coloca um produto em um patamar que excede as necessidades de outros mercados. Aí, o custo sobe e o preço se torna inadequado nesses países”, pontua. No fim, a montadora pode optar por desenvolver um novo SUV específico para a região da América Latina.
“É por isso que, quando pensamos no SUV, temos de considerar toda essa equação. Não é simples. Depende de decisões macroeconômicas, do Estado, da regulamentação daqui e de outros países… Mas em algum momento nós teremos de responder ao mercado. Algum dia nós estaremos aí. O fato é que o segmento de SUVs está crescendo claramente”, reconhece o VP da Toyota.
SUV do Yaris?
Os números de 2019 mostram que a Toyota não sente mesmo a falta de um SUV em sua gama. A japonesa tem obtido grandes resultados neste ano — em alguns meses foi a quarta colocada no ranking geral, posição que historicamente é da Ford. O momento da empresa é melhor que o de rivais como Honda e Nissan, que já possuem seus SUVs compactos (HR-V e Kicks, respectivamente).
Porém, todavia, contudo, a marca terá seu SUV em algum momento no futuro. E quando chegar a hora, uma coisa é certa: o utilitário ficará abaixo do Corolla na gama da montadora. O sedã médio detém 45% das vendas do seu segmento, é o líder absoluto há cinco anos e vende por mês tanto quanto os SUVs mais emplacados. Ou seja, não faz sentido ter um utilitário que rivalize com o seu campeão. Cabe ao mais caro RAV4 ocupar o espaço de SUV acima do Corolla. Confira o teste do utilitário híbrido no vídeo abaixo.
“O Corolla tem muitos rivais à volta, mas isso não reduziu a sua expressão no mercado brasileiro. A geração anterior manteve a competitividade até o último dia. Então, acreditamos que o novo Corolla vai nos manter ativos, embora todo esse ecossistema ao redor dele seja agressivo. E o nosso próprio SUV será outro modelo a mais quando chegar ao mercado”, minimiza Miguel.
O SUV da Toyota, portanto, deverá nascer do Yaris e terá uma versão híbrida flex.
“A nossa visão global é sempre eletrificar quando vem um veículo de nova geração. A tecnologia chegará em alguns modelos primeiro, em outros depois, mas a direção é sempre eletrificar”, reforça.
E por que a Toyota não traz o C-HR? “É um crossover que foge ao tipo de utilização que se dá aos SUVs no Brasil, sobretudo aqueles da zona de preços mais popular, de maior acessibilidade”, comenta.
*Errata: Inicialmente publicamos que o SUV da Toyota seria lançado em 2022, porém a montadora confirmou o utilitário para 2021 alguns dias depois. Além disso, consideramos a possibilidade de o modelo nascer de uma nova plataforma para compactos apresentada na Europa. Porém, embora a Toyota não tenha divulgado detalhes do veículo que irá produzir, o SUV derivará do atual Yaris, feito sobre a plataforma EFC compartilhada com o Etios.