Ter um carro elétrico é hoje um desejo de muitos. “Um elétrico chamado desejo” era um título de um filme antigo e esta minha crónica de hoje tenta relatar uma versão atualizada de um “filme” por que passou uma família que rumou à Costa Vicentina para umas férias em finais de agosto, a bordo de um desses carros elétricos.
Para este “filme” moderno também é obrigatório mudar o título. Escolhi para título “Um elétrico chamado aventura”, mas poderia ter optado por uma versão menos delicodoce que seria então, “Um elétrico chamado desastre”. Ou catástrofe.
Ainda sou do tempo em que se chamava carro elétrico aos elétricos propriamente ditos, daqueles como o 7, com traço ou sem traço, que me transportavam do Amial até à Praça da República, a caminho do Liceu D. Manuel II, hoje Rodrigues de Freitas. Mas não é desses carros elétricos que trata esta crónica. É dos carros elétricos da moda, dos Tesla e de muitos outros de muitas outras marcas que tentam impor a moda aos consumidores, muitos atrelados a uma certa ideia de sustentabilidade, que por acaso acho que ainda está verde, com muito por provar. Tenho um amigo que até fala de mais um embuste da modernidade, mas não tenho conhecimentos bastantes para ir mais longe nesta teoria.
Do que eu tenho conhecimento direto é de uma família que resolveu ir de férias do Porto até à Costa Vicentina num carro elétrico e já me garantiu que não se mete noutra. Foram mais de 12 horas de viagem e aqueles que se queixam de ir de férias com crianças ou com animais “porque eles é que mandam”, experimentem ir de férias com um carro elétrico para verem mesmo quem é que manda.
Mesmo andando à velocidade da lesma para poupar a bateria, arranjar carregadores, superfast, com vaga e que não estejam avariados, em pleno mês de agosto, é entrar numa longa-metragem de grande suspense. Nem sempre com um final feliz.
“Como há um carregador em Odemira, podemos até dar lá uma volta enquanto o carro carrega”. Avariado. “Vamos então a Santarém, àquele hipermercado onde temos mais e almoçamos por lá durante o carregamento. “Sem vaga!”. E agora não chega ao Porto? Melhor ficarmos aqui a dormir, não? Assim o carro pode recarregar baterias durante a noite, coitado.
O elétrico chamado aventura é que manda. Há quem goste de ser mandado. E quem prefira continuar a mandar na sua vida. A escolha é sua.
*Empresário