Publicado originalmente em julho de 2011
Se você pensa que carros de alto desempenho só deveriam ter tração traseira, é melhor começar a rever seus conceitos. O Ford Focus RS mostrado aqui é um carro que anda muito, tem motor de 305 cv de potência e despeja sua força nas rodas dianteiras.
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Nós dirigimos este RS – único do Brasil e que foi trazido pela importadora paulista Automotriz – e nos surpreendemos com sua capacidade de acelerar a pleno vapor sem se importar com o risco de perda de aderência nas arrancadas e nas saídas de curvas.
O palco de nosso test-drive foi o seletivo circuito do Autódromo de Interlagos, em São Paulo.
O segredo para o comportamento equilibrado do Focus RS está justamente no eixo dianteiro com um diferencial autoblocante, que distribui a força – enviando até 60% do torque para a roda com maior tração, e uma suspensão bem projetada, que mantém o carro em contato com o piso.
Ao fazer o Focus RS (Rallye Sport), a Ford se inspirou no Focus WRX que disputa o Campeonato Mundial de Rali. Seu objetivo era construir um modelo de passeio capaz de trazer para as ruas um pouco do conhecimento acumulado pela marca nas corridas de rali, muitas vezes disputadas em pisos irregulares e de baixa aderência, como o asfalto molhado ou em roteiros com neve ou lama.
O Focus WRX tem tração integral, mas o RS não precisava de tanto. O ideal seria partir da plataforma do Focus produzido em série, que tem tração dianteira. A solução foi instalar um diferencial de escorregamento limitado no eixo dianteiro e desenvolver uma suspensão que conservasse a geometria original mesmo nas arrancadas, quando a frente do carro tende a levantar e desalinhar as rodas.
A estrutura usada foi a mesma McPherson dos Focus de rua, com o acréscimo de duas novas articulações que aumentaram sua mobilidade e eficiência. O diferencial dianteiro foi fornecido pela britânica Quaife, reconhecida nas pistas de rali, mas a suspensão dianteira, batizada de Revo Knuckle, algo como “Articulação Revolucionária”, foi desenvolvida pela engenharia da própria Ford.
Na traseira, a suspensão é multilink, como nos Focus de rua, mas traz uma barra estabilizadora mais robusta, para deixar o carro mais neutro.
Autorama
Ao volante, ou mesmo para quem vê de fora, o Focus RS parece um carrinho de autorama, acelerando sem perdas e contornando as curvas como se andasse sobre trilhos.
O último carro que dirigi com essas características foi a Ferrari F430, que tem tração traseira e um diferencial controlado eletronicamente. A impressão é de que, por mais que se abuse, não há nada que faça o carro sair da trajetória. E cometer excessos não é difícil quando se tem 305 cv sob as ordens do pé direito.
O RS é equipado com motor 2.5 de cinco cilindros e 20 válvulas, com turbocompressor e intercooler, que gera 305 cv de potência a 6.500 rpm e torque de 44,9 kgfm entre 2.300 e 4.500 rpm.
Ao menor deslocamento do pedal o RS responde com um movimento vertiginosamente acelerado, capaz de provocar uma sensação de vazio no estômago, que aumenta ainda mais o prazer de estar no controle da máquina. Segundo a fábrica, o RS vai de 0 a 100 km/h em 5,9 segundos e pode atingir os 263 km/h.
O câmbio do RS é manual de seis marchas, com engates suaves, tal qual o de um Focus de rua qualquer. É curioso saber que, apesar de estar adaptado às condições de uma prova de rali, o RS tem comandos tão amigáveis quanto qualquer outro automóvel fabricado pela Ford. A direção eletro-hidráulica é leve, mas não faz concessões à precisão. Os pedais são bem posicionados e não exigem esforço do motorista. E a suspensão assegura a maciez típica dos Focus convencionais.
Como carro de passeio, o RS é bonito e bem acabado. Por fora, há vários detalhes interessantes, como as entradas de ar no capô e nos para-lamas, com a inscrição RS; as rodas raiadas, aro 19; e o aerofólio traseiro. Por dentro, os bancos Recaro, revestidos de couro sintético Alcantara e tecido, enchem os olhos e suprem a carência de outros signos de esportividade.
Sem os mostradores no alto do console (com pressão e temperatura do óleo e pressão do turbo), a sigla RS no volante e a costura azul na coifa do câmbio, o RS é igual a um Focus comum, inclusive no que se refere aos apliques que imitam fibra de carbono.No que diz respeito aos equipamentos, o RS conta com seis airbags, freios ABS, ESP, sistema de som, ar-condicionado, computador de bordo, faróis de xenônio e sensores de chuva e luz.
Se você pensa que carro de alto desempenho tem de ser bruto e espartano, as fotos do RS vão ajudá-lo a desfazer essa impressão. Mais um conceito que o RS ajuda a derrubar.
Focus RS – R$ 240.000 (R$ 463.387 em 2020 – IGP-M)
Este preço pode baixar 30% se a importação for em nome de pessoa física, evitando custos do importador.
Híbrido
A nova geração do Focus, esperada para o fim de 2012, na Europa, terá a versão RS renovada. Publicações estrangeiras dão conta de que o esportivo será híbrido, equipado com dois motores, um 2.0 a gasolina e outro elétrico, gerando juntos mais de 300 cv.
Ficha técnica
- Motor: dianteiro, transversal, 5 cilindros em linha, 20V, turbo
- Cilindrada: 2522 cm3
- Taxa de compressão: 8,5:1 Diâmetro x curso: 83 x 93,2 mm
- Potência: 305 cv a 6 500 rpm
- Torque: 44,9 mkgf a 2 300-4500 rpm
- Câmbio: manual de 6 marchas, tração dianteira
- Suspensão: McPherson na dianteira e multilink na traseira
- Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira
- Direção: eletro-hidráulica
- Dimensões: comprimento, 440 cm; largura, 184 cm; altura, 149 cm; entre-eixos, 264 cm Porta-malas: 385 litros Tanque de combustível: 62 litros Peso: 1 468 kg
- Pneus: 235/35 R19
Veredicto
O RS tem as conhecidas qualidades do Focus, acrescidas de desempenho de superesportivo e dirigibilidade de carro de rali. Sem importação regular, no Brasil, ele ainda tem a aura de modelo exclusivo.
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