Se você está lendo este texto, provavelmente em algum momento da sua semana precisou ou irá precisar de um motor movido à combustão, seja para se locomover até o trabalho, esperar a entrega de alguma compra ou serviço.
Apesar dos combustíveis de origens fósseis ainda estarem muito presentes no nosso dia a dia, o compromisso com consumos sustentáveis é pauta em vários países. O Reino Unido tomou os holofotes e o primeiro-ministro Boris Johnson, afirmou que a partir de 2030 a venda de carros movidos a gasolina ou diesel será proibida.
No Brasil, há um projeto de lei de 2017, ainda sem previsão de votação, que institui medidas semelhantes, proibindo a venda de veículos movidos a combustão também em dez anos e que proíbe a circulação de qualquer automóvel movido por motor a combustão em 2040, com algumas exceções para colecionadores, veículos oficiais, diplomáticos ou de visitantes estrangeiros.
A grande aposta para essas mudanças em quase todo o mundo são os veículos movidos por eletricidade, híbridos (combustão e eletricidade) e movidos a etanol.
Pensando na realidade brasileira, Ecoa conversou com especialistas para tentar entender até onde esse é um caminho possível para o Brasil, quais questionamentos têm respostas e até que ponto algumas soluções ainda parecem estar em uma zona cinzenta.
SIM
Redução no consumo de fontes fósseis
As fontes fósseis são esgotáveis, sendo assim, tanto os modelos elétricos quantos os híbridos plug-in (com tomada para recarga e motor a combustão de apoio) diminuem a queima de combustíveis de origens fósseis.
Menos emissão de CO2
Em média, a emissão de gás carbônico para produção de um carro movido a combustão é de 25 toneladas enquanto a de um carro elétrico é de 18 toneladas. Lembrando que o movido a combustível fóssil continuará a emitir gás carbônico depois de sua produção por tempo indeterminado.
Economia em combustível
O preço é interessante, em comparação com a gasolina. O custo para abastecer um “tanque completo”, pode ser de até 80% mais barato nos carros elétricos.
Menos manutenção
Não levando em conta o coração do carro, que é justamente a bateria com grande composição de lítio, o custo da manutenção preventiva e outras peças como suspensões podem ser mais baratas nos carros elétricos, a depender do modelo.
Melhora na qualidade do ar
A frota de ônibus na capital de São Paulo é de mais de 15 mil veículos. Hipoteticamente, se no futuro essa mesma quantidade for movida por energia elétrica, os índices de gás carbônico e outros materiais provenientes da queima de combustível irão diminuir consideravelmente. Hoje, passar uma hora no trânsito equivale a fumar cerca de cinco cigarros por dia, de acordo com estudo feito pela USP (Universidade de São Paulo).
Brasil tem energia elétrica verde
A energia elétrica depende de sua matriz, e nesse quesito o Brasil está muito bem, 83% das fontes são de origem renovável, de acordo com dados publicados no site do Governo Federal. As mais usadas são hidrelétricas, eólicas, biomassa, solar e biogás, na respectiva ordem. Por tanto, os carros elétricos realmente usariam uma matriz renovável.
Não
Altos preços irão elitizar veículos particulares
Atualmente, os automóveis elétricos partem de preços acima de R$ 100 mil reais. Se pensarmos que o mercado de carros populares e crédito facilitado abriu uma janela para que pessoas com menor renda pudessem comprar veículos, essa não será uma realidade, pelo menos não com os preços praticados atualmente. Embora haja um movimento de jovens que não visam comprar carros, ainda há os que precisam e desejam em todas as faixas etárias, sobretudo na periferia.
Frota de carros usados pode ser ‘descartável’ e com baixa revenda
A bateria dos carros elétricos tem garantia de cerca de oito anos, o reparo completo da bateria pode chegar a custar até 60% do valor dos veículos. Depois desse tempo, o que faremos com os carros? Ainda não há uma resposta para isso. Se o reparo é caro, a adaptação também. Fontes ouvidas por Ecoa, afirmaram que o “retrofit” de combustão para elétrico é totalmente inviável financeiramente para a maior parte da população.
Baterias de lítio são uma faca de dois gumes
A extração do lítio, principal componente das baterias de carros elétricos, também não é algo que possa ser chamado de “energia verde. O Chile possui 52% das reservas mundiais do elemento, mas no entanto, sua extração está causando impactos no meio ambiente e trazendo danos irreversíveis ao deserto do Atacama. Reciclar uma bateria de lítio é uma tarefa árdua e ainda não há uma estratégia para produção de maneira que possa ser reaproveitada facilmente.
Grande geração de resíduos
Se levarmos em conta que a partir de 2040 os carros a gasolina não mais poderão ser usados, será preciso produzir mais carros elétricos, aumentando a demanda e também gerando resíduos nessa produção de novos veículos.
Você pode ficar descarregado
O Brasil tem cerca de 45 mil carros elétricos e híbridos rodando em suas vias, mas tem cerca de 1200 estruturas para recarga. A maioria são pontos de recarga lenta. Os pontos de recarga rápida, de até 15 minutos, contam com cerca de 100 por todo o território nacional.
Fontes: Davi Bertoncello, Embaixador da mobilidade pelo grupo Estadão, CEO da Tupinambá Energia, empresa de Mobilidade Elétrica, que está instalando pontos de recarga para carros elétricos em São Paulo; Sérgio Eugênio da Silva, engenheiro mecânico que atua no mercado automotivo e Luca Cafici, CEO da InstaCarro, startup de venda e compra de automóveis.