A fabricante de veículos motorizados BYD voltou ao noticiário brasileiro, no final de 2019, na esteira do fechamento da operação da Ford em São Bernardo do Campo, em São Paulo. A empresa chinesa é especulada como possível compradora da fábrica da Ford, informação não confirmada por nenhuma das partes envolvidas.
Um símbolo da organização dos trabalhadores brasileiros no final dos anos 70 e ícone da transição do regime militar para a democracia, São Bernardo do Campo pode mimetizar, mais uma vez, a mudança na história. A confirmação da compra da planta da Ford pela BYD, poderá materializar a progressiva substituição de parceiros americanos por chineses nos negócios com o Brasil, bem como a transição gradual da energia fóssil pela elétrica.
Há algumas semanas, em Shenzhen, visitei a principal planta fabril da jovem companhia chinesa, fundada apenas em 1995, inicialmente como um fabricante de baterias para celulares e computadores. Na unidade de Pingshan, distrito de Shenzhen, um veículo elétrico é fabricado a cada 90 segundos, o que a torna a maior planta do tipo em todo o mundo.
Além da fábrica de Shenzhen, há outras 29 espalhadas pelo mundo, uma delas em Campinas, interior paulista, o que confere a BYD o título de maior fabricante mundial de veículos elétricos, fornecendo carros, tratores e caminhões para Ásia, Europa e América Latina.
Na China, estima-se que entre 15% e 17% dos carros elétricos vendidos no país tenham a marca BYD, o que a coloca na liderança do mercado doméstico, o maior do mundo neste segmento, a frente de Estados Unidos e Japão, segundo e terceiro colocados na adoção de veículos limpos, respectivamente.
É um caso icônico no país o fato de toda a frota de ônibus e de táxis de Shenzhen, uma cidade com 20 milhões de habitantes, ser elétrica. O fato supera o mito de que, em grandes cidades, carros elétricos não possam se tornar dominantes, face as dificuldades de abastecimento e autonomia. Um veículo BYD pode, em média, rodar 300 km com uma só carga. No caso dos ônibus, um engenhoso sistema permite que os veículos recarreguem as baterias nos poucos segundos em que ficam parados em cada ponto de ônibus, ampliando sua autonomia.
A adoção de veículos elétricos, neste momento, não é mais incentivada por subsídios fiscais na China. Eventualmente, um carro a gasolina pode custar até mais em conta. No entanto, a tributação sobre o uso de veículo não-poluente é bem mais baixa, o que tem incentivado os usuários finais a migrarem da gasolina para eletricidade em metrópoles como Xangai e Beijing, além de Shenzhen, é claro.
Como parte do programa econômico que prevê que 70% das exportações chinesas sejam de produtos de alto valor agregado até 2025, é uma meta do país ser líder na fabricação de veículos elétricos em todo o mundo até a mesma data.
Já reconhecidos pela eficiência nos custos e, mais recentemente por sua qualidade, marcas globais chinesas ainda enfrentam alguma dificuldade em áreas como design e marketing, já que as centenárias grifes europeias ainda projetam glamour por trás de nomões como Lamborghini ou Ferrari.
Não à toa, em 2019, a BYD inaugurou seu centro de design, na China, sob liderança do alemão Wolfgang Josef Egge, que levou a Shenzhen criativos da Audi, Ferrari e Mercedes. Ao que tudo indica, cada vez mais carros serão chineses. No Brasil e no mundo.
Vídeo institucional mostra maior entrega de ônibus elétricos
Fotos: Felipe Zmoginski