Numa altura em que o impacte do sector rodoviário é cada vez mais relevante para travar o mal-estar do planeta, os projectos e as práticas que têm na sua base a sustentabilidade são cada vez mais significativos, nomeadamente na indústria automóvel, que se vê numa encruzilhada difícil face às restrições nas emissões de CO2.
O esforço é transversal a todos os emblemas, que se desdobram entre soluções 100% eléctricas, híbridas de ligar à corrente e híbridas sem carregamento externo. Mas a mobilidade, sobretudo a urbana, não se pode ficar pelo automóvel, e entre os LEV (veículos eléctricos leves) nota-se igualmente uma maior preocupação por encontrar o melhor meio de transporte e mais amigo do ambiente.
É entre um mar de opções que surgem os prémios Mobi, organizados pela Global Media através do site de informação Motor24 e em parceria com a Prio, cuja terceira edição premiou o Volkswagen ID.3 como Melhor Carro Eléctrico, o Toyota Yaris Hybrid como Melhor Carro Híbrido e o Volvo XC40 Recharge como o Melhor Carro Híbrido Plug-In.
O Volkswagen ID.3 é a aposta da marca alemã para democratizar a tecnologia eléctrica (como pelo preço, em linha com os Golf a diesel) e chegou com uma forte ambição: ter um lugar na história equiparado aos do Carocha e Golf. Assente na plataforma modular MEB do Grupo Volkswagen, criada especialmente para acomodar motorizações eléctricas, o ID.3 tem o motor atrás a enviar energia ao eixo traseiro e baterias no chão do carro, permitindo-lhe apresentar as dimensões compactas de um carro do segmento C e habitabilidade mais coadunada com uma grande carrinha: a distância entre eixos é de 2771 mm. Em termos de prestações, a versão equipada com bateria de 58 kWh admite percorrer até 420 quilómetros, sem necessidade de se andar a apalpar o piso: os 150kW (204cv) de potência e o binário de 310 Nm desde o arranque permitem uma aceleração de 0 a 100 km/h em rápidos 7,3 segundos e uma velocidade máxima de 160 km/h.
No que diz respeito aos híbridos plug-in, o Volvo XC40 Recharge conquistou o júri, constituído por jornalistas de 14 órgãos de comunicação social, PÚBLICO incluído, pelo presidente da UVE, Henrique Sanchez, e pela directora de marketing da Prio, Ana Pinho.
O XC40 de ligar à corrente conjuga um motor a gasolina tricilíndrico de 1.5 litros, com 180cv, e um motor eléctrico com 82cv, para uma potência combinada de 262cv (em modo Power) e uma autonomia 100% eléctrica de até 50 quilómetros. A alimentar o motor eléctrico está uma bateria com capacidade útil de 8,5 kWh.
O modelo inclui três modos de condução: Pure (100% eléctrico), Hybrid (em que o sistema faz a gestão optimizada dos dois motores – eléctrico e combustão interna) e Power (em que se força o motor eléctrico e o de combustão a trabalharem em conjunto).
Já o utilitário Yaris, com que a Toyota tem vindo a amealhar prémios (foi Citadino do Ano em Portugal e Carro do Ano na Europa), conquistou o grupo dos híbridos. Assente na nova plataforma GA-B, a mais recente variante da Toyota New Global Architecture (TNGA), o Yaris reclama uma boa posição ao nível do design compacto, mas também em termos de versatilidade, prazer de condução e segurança. Para tal, foram instalados, de série, sistemas avançados de assistência ao condutor, entre os quais assistência de condução inteligente, cruise control adaptativo, reconhecimento de sinais de trânsito e sistema de pré-colisão. Decisão que deu frutos: obteve as cinco estrelas Euro NCAP.
A versão híbrida, assente num motor a gasolina 1.5 litros, com caixa automática CVT, apresenta uma potência combinada de 116cv e faz uso do sistema full-hybrid de quarta geração da marca japonesa, com uma média de consumo de 3,8 l/100 km em circuito misto e emissões de 87 g/km de CO2, segundo a homologação WLTP.
No capítulo dos veículos, produtos e serviços, houve ainda lugar para a escolha do público, que recaiu sobre o veterano Nissan Leaf, produzido desde 2010, e best-seller mundial entre os carros eléctricos até Dezembro de 2019.
A Nissan venceu ainda o prémio Tecnologia Auto, atribuído ao sistema de e-pedal, que permite ao condutor acelerar, desacelerar e parar a marcha por intermédio da pressão de um único pedal.
Entre os LEV, venceu a bicicleta eléctrica Beeq C800 Trekking, que tanto se atreve pelas artérias urbanas como enfrenta estradas de campo e trails de montanha. Com um eficiente motor, com binário de 90 Nm, e uma bateria de 504 Wh de 36V, apresenta uma autonomia que pode oscilar entre os 40 e os 100 quilómetros, dependendo do peso do utilizador, das condições do piso e da altitude.
Coimbra e Porto empatam na mobilidade urbana
Os prémios Mobi distinguem-se dos restantes concursos de avaliação de automóveis por procurarem não só avaliar a sustentabilidade destes, focando a sua atenção também pelos locais por onde os veículos se movem, sobretudo os que apresentam mais tráfego. Dessa forma, um júri específico, presidido por Robert Stussi, especialista em urbanismo, transportes e mobilidade — e que integra a arquitecta Isabel Seabra, o fundador e presidente da Associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos, Henrique Sanchez, e os engenheiros especialistas em mobilidade e transportes António Pérez Babo e João Peças Lopes — analisa e premeia práticas, projectos e organizações.
E, este ano, com uma surpresa: a pontuação dos jurados fez com que houvesse um empate. Assim, as cidades vencedoras, em ex aequo, são Coimbra e Porto. Na cidade dos estudantes, a autarquia foi distinguida pelo trabalho de descarbonização desenvolvido pelo SMTUC (Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra), enquanto a Invicta foi premiada pelo projecto de partilha do espaço público IDEA, desenvolvido em cooperação com o CEIIA, Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel, e com o Instituto Superior Técnico, e que pressupõe potenciar, com baixos custos, a utilização partilhada e mais eficiente da via pública — por exemplo, substituem-se lugares de estacionamento reservados por espaços partilhados na sua utilização e, numa segunda fase, por zonas de partilha que “funcionam no sentido da optimização do espaço e permitem o convívio entre modos de transporte”.
O sector da mobilidade, considera a organização do prémio, tem sido também um motor de inovação, factor que contribuiu para eleição da GoWithFlow na categoria Empresas/Organizações, uma plataforma de Gestão da Mobilidade Sustentável que ajuda as empresas a gerir a transição da sua frota para veículos de baixas ou zero emissões, reduzindo ao mesmo tempo os custos globais da frota e da energia. Desde a sua fundação, em 2019, a GoWithFlow estima já ter retirado de circulação 5000 toneladas de CO2.
Por fim, o prémio Cidadania foi atribuído a Miguel Veríssimo, autor do projecto de protótipo Space on Wheels, um conceito inovador para a modularidade e multifuncionalidade dos espaços sobre rodas.