Fazer viagens longas ainda é um receio de muita gente que gostaria de adquirir um carro elétrico. É por isso que algumas montadoras estão investindo milhões de reais na construção de pontos de recarga em algumas das principais estradas do país.
Uma delas é a Volvo, que inaugurou o primeiro posto de recarga da marca em uma rodovia, que fica localizado em Cajati (SP), distante pouco mais de 230 quilômetros da capital paulista. A construção do ponto faz parte da primeira etapa do plano de eletropostos anunciado pela Volvo, que será dividido em cinco etapas. A fase inicial prevê a construção de 13 estações na região Sudeste e no Paraná, cobrindo um perímetro total de 3.250 km de rodovias.
Foi por isso que UOL Carros voou a Curitiba (PR) e voltou até São Paulo (SP) rodando com um C40. O plano era sair da capital paranaense e fazer uma parada em Cajati antes de terminar a viagem. Importante lembrar que até seria possível cobrir os 405 quilômetros sem necessidade de recarga, mas a missão seria bastante arriscada.
Ciente da parada para realizar a recarga, realizei a viagem mais tranquilo. Após rodar pouco mais de 180 quilômetros, encostei o C40 com 59% de carga na bateria. A estação de 150 kW é compatível com plugues do tipo 2, o padrão europeu que é comumente encontrado em quase todos os carros elétricos vendidos no Brasil.
A cerimônia de inauguração do ponto de recarga (que possui duas vagas e poderá ser utilizado por qualquer veículo elétrico) contou com a presença de autoridades de Cajati, incluindo o prefeito da cidade, Luiz Koga (PSDB).
Depois de 40 minutos, o C40 já estava com mais de 90% de carga e pudemos rodar os 226 quilômetros restantes até São Paulo, onde chegamos com 12%.
Entendendo as necessidades
Vários representantes da Volvo também participaram do evento, incluindo Luis Rezende, presidente da Volvo Cars América Latina, e João Oliveira, diretor geral de operações e inovação da Volvo Car Brasil.
Os executivos se mostraram empolgados com a inauguração do primeiro eletroposto rodoviário da Volvo, que é uma das grandes incentivadoras da eletrificação no país. Além de assumir o compromisso de vender apenas modelos eletrificados (híbridos ou elétricos), a empresa já financiou a construção de 1.000 estações de recarga. Perguntado se o investimento valia a pena, Luis Rezende não hesitou.
“Definitivamente sim, até porque está relacionado à maneira como a gente quer que as pessoas enxerguem a marca. As outras fabricantes procuraram empresas parceiras para viabilizar as estações, mas nós cuidamos de tudo por conta própria. Então todo esse conhecimento que a gente está ganhando já compensa o investimento. Até porque, enquanto nossos concorrentes estão debatendo qual tipo de propulsão escolher, nós estamos pensando qual tipo de carregador é o melhor”, disse.
Rezende também comentou sobre as necessidades de quem possui um carro elétrico e admitiu que a Volvo ainda está estudando quais são as melhores decisões para atender seu cliente.
“Ainda estamos entendendo o que o consumidor precisa. Para algumas pessoas um carregador rápido na cidade poderia não fazer tanto sentido. Mas, ao mesmo tempo, pode ser interessante porque existe uma burocracia tão grande para instalar uma estação em um condomínio que o cliente acaba fazendo a recarga lá”, ponderou.
Com conhecimento do mercado brasileiro, João (que também preside a Abeifa, a associação das importadoras de veículos) acredita que a popularização dos carros elétricos depende de dois fatores principais.
“Acredito que a (difusão da) eletromobilidade dependerá da disposição do consumidor em testar as novidades e da velocidade com que as marcas vão implementar a nova tecnologia”, declarou.
Etanol pode não ser a melhor saída
A dupla de executivos também comentou sobre a visão de que o etanol poderia ser uma alternativa de biocombustível viável em um futuro que projeta o fim dos motores a combustão. Luis, aliás, até lembrou de uma marca chinesa recém-chegada ao país.
“Existe muita gente falando de etanol e respeito essa visão, mas, ao mesmo tempo, nós temos uma marca como a Great Wall investindo R$ 10 bilhões em eletrificação no Brasil. Será que não é esse o caminho?”, questionou.
Já João falou sobre o possível desenvolvimento de uma célula de combustível movida a etanol, mas sugeriu que a ideia poderia isolar o Brasil do restante da indústria automotiva.
“Acho uma solução interessante, mas aí ficaríamos com algo que serve só para nós. Ou no máximo para os países que possuem alguma maneira de produzir etanol”, concluiu.