PERIGO NA ESTRADA: Youtuber GUI50 empresta carro da Volvo e anda a 250km/h em uma rodovia federal. Fotos: Reprodução/Redes Sociais

Presidente da montadora determinou a entrega de modelo da marca para youtuber, conhecido nacionalmente pelas infrações e crimes de trânsito que posta na internet

Em mais um capítulo de total irresponsabilidade envolvendo youtubers que cometem infrações e crimes de trânsito no trânsito brasileiro, o Estradas foi atrás de respostas para entender o motivo que levou a montadora Volvo Cars, que prioriza a segurança viária em todo o mundo, a emprestar um carro, modelo S90 Híbrido, no início deste mês, ao youtuber Guilhermo Hundadze, do canal GUI50, que ‘voou baixo’ numa rodovia federal, em sua viagem de São Paulo a Balneário Camboriú (SC). Num vídeo postado logo depois que pegou o carro, o infrator atinge velocidade de 250km/h, à noite, na rodovia.

Além de total irresponsabilidade, Hundadze cometeu infração gravíssima, de acordo com o Art. 218 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), além de ter colocado em risco a segurança dele, a do passageiro e a dos usuários da rodovia.

Num dos vídeos postados em 13 de junho, o youtuber se gaba de ter conseguido o empréstimo graças à interferência do próprio presidente da Volvo Cars, Luís Rezende, que agilizou o processo de empréstimo.

No dia 8 de junho, ele postou vídeo com o seguinte título: “Presidente da Volvo me convidou para conhecer o novo Volvo S90 T8 Hybrid 2021.”

No vídeo, ele relata que logo que a promoção começou, em janeiro deste ano, fez o cadastro com a Volvo Cars e recebeu mensagem que a CNH estava vencida. Ele explicou que já tinha renovado e ficou esperando uma solução. Devido à demora, em maio procurou o presidente da Volvo Cars, Luís Rezende, que respondeu que o problema seria resolvido. O que de fato aconteceu.

Indagada, a Volvo Cars Brasil, por meio de sua assessoria de imprensa, emitiu nota oficial tentando explicar:

A Volvo Cars Brasil teve ciência dos vídeos publicados e lamenta o uso do veículo nessas condições. Reconhecida mundialmente pela segurança dos seus veículos, a marca não compactua com esse tipo de atitude e reforça seu compromisso com as pessoas e com a segurança.

A plataforma Volvo Lovers possibilita que qualquer pessoa tenha uma experiência com a tecnologia híbrida, comprometendo-se a realizar o uso adequado do veículo e zelar pelo cumprimento das leis de trânsito.

Por conta disso, o departamento jurídico da marca está analisando o ocorrido e tomará as medidas necessárias.

Desde o início do ano, mais de 1.200 pessoas já tiveram acesso a nossos veículos.”

Já no dia 13 de junho, o youtuber postou vídeo sendo abordado duas vezes pela Polícia Rodoviária Federal. Ao ser questionado se era dono do carro, ele disse que o veículo era da Volvo e estava testando, numa viagem de São Paulo até Balneário Camboriú, em Santa Catarina, utilizando-se das rodovias federais BR-116 e BR-101.

O vídeo registrou mais de 1,8 milhão de visualizações. Seus seguidores sabem que ele costuma acelerar cometendo diversas infrações e crimes de trânsito, que não são flagradas porque os aplicativos já informam a presença de radares fixos e portáteis, graças à Resolução 798 do Contran, que determina a indicação da presença dos equipamentos no site da PRF e demais órgãos de trânsito.

Em 15 de junho, o infrator e criminoso contumaz postou o vídeo Volvo S90 T8 Hybrid – Aceleração 0-250 e Frenagem 250-110 onde atinge 250km/h com o veículo da Volvo. Reduz a velocidade quando aplicativo informa a presença de radar.

Dois dias depois em outro vídeo, trafegando nas marginais da capital paulista, intitulado Volvo S90 T8 – Cortando o trânsito Part 10. Nas imagens, é possível ver que em alguns momentos estava a 130km/h, no meio do tráfego. Em várias ocasiões, quase colide. O aplicativo que ele usa no veículo informa a presença dos radares.

Da mesma forma, o Estradas quis saber do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) qual seria a avaliação do Departamento sobre a postura da Volvo Cars Brasil em emprestar um carro a um youtuber, que publica vídeos no YouTube praticando crimes de trânsito.

Além disso, a reportagem perguntou ao Denatran como a PRF pode flagrar um infrator como o youtuber em questão se todos os locais onde têm radar fixo e portátil são previamente informados no site da Corporação?

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Denatran respondeu:

Por parte do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), esclarecemos que as alterações sobre os radares têm por objetivo tornar o trânsito mais seguro para todos, iniciativa construída a partir do tripé: engenharia de tráfego, esforço legal (fiscalização e legislação) e o mais importante, educação…..”

Outros vídeos desse mesmo youtuber demonstram a prática regular de crimes de trânsito, como rachas, além de milhares de infrações. Alguns dos vídeos demonstram sua agressividade, inclusive uma buzina que utiliza para assustar os que andam dentro do limite de velocidade na faixa da esquerda.

O mesmo indivíduo já ameaçou veículos de comunicação, revelou dados pessoais de repórteres, falou sobre suas supostas relações com o Corregedor da Polícia Militar de São Paulo.

Como trabalha com análise de crédito, utiliza as informações, inclusive, para intimidar jornalistas, autoridades e até mesmo condutores com quem se desentende na rodovia.

PRF esclarece

A reportagem procurou o setor de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e fez diversos questionamentos, entre eles, como funciona a fiscalização de velocidade nas rodovias federais, e como a PRF pode flagrar um infrator – como o youtuber em questão – se todos os locais onde têm radar fixo e portátil são previamente informados no site da Corporação?

Além disso, o Estradas mencionou sobre o conteúdo dos vídeos postados pelo youtuber, que mostram ele dirigindo o Volvo S90 a 250km/h na rodovia federal e perguntou: qual seria a avaliação da Corporação sobre à postura da Volvo Cars Brasil em emprestar um carro a um youtuber, que posta vídeos no YouTube praticando crimes de trânsito?

Conforme o estudo “Indústria da Multa ou Fábrica de Criminosos do Trânsito?” do SOS Estradas, a PRF foi até proibida de fiscalizar velocidade quando, por despacho do presidente , foi obrigada a recolher todos os radares portáteis, aos quais somente teve acesso após decisão judicial por iniciativa do MPF. A medida fez com que a PRF não aplicasse nenhuma multa por excesso de velocidade em todo território nacional do dia 16 de agosto até 23 de dezembro.O resultado foi aumento de 15% da média mensal de mortos. Atualmente, a PRF fiscaliza apenas 15% dos abusos de velocidade em comparação ao que fazia em 2018.

Veja o posicionamento da PRF, responsável pela fiscalização nas rodovias federais do País:

A PRF realiza o trabalho de fiscalização de velocidade, baseada em suas atribuições definidas pela Constituição Federal, além de seguir as definições trazidas pela Resolução CONTRAN nº. 798/2020, que passou a regulamentar a fiscalização da velocidade, na medida em que estabeleceu critérios coerentes com cada um dos tipos de equipamento.

Os pontos de instalação dos radares são definidos por critérios técnicos de acordo levantamentos técnicos, que envolvem análise bienal da criticidade de acidentes nos pontos definidos, a fim de verificar a manutenção ou mesmo a modificação dos pontos anteriormente definidos.

A garantia da segurança viária, tanto pela perspectiva geral da prevenção, quanto específica da redução do quantitativo e da gravidade dos acidentes de trânsito no país, é abordada pela PRF a partir de uma multiplicidade de ações, com destaque para o mapeamento dos pontos críticos de acidentalidade, proposições de intervenções em estruturas viárias, operações temáticas de segurança viária e educação para o trânsito. As referidas intervenções estão contempladas pelo chamado “Trinômio da Segurança Viária ou do Trânsito Seguro” quais sejam, Engenharia, Esforço Legal e Educação, também conhecidos por “três Es” e a forma e intensidade aplicada em cada em dos eixos é orientada pela necessidade identificada nas  análises.

Para nortear a tomada de decisão acerca das ações de segurança viária a serem desenvolvidas no âmbito das rodovias federais, portanto, a PRF realiza periodicamente análise temporal dos índices de acidentalidade. Esse estudo, aliado com a avaliação das principais causas e tipos de acidentes permitem uma compreensão da relação dos usuários da rodovia e a infraestrutura do modal, subsidiando a tomada de decisão e proporcionando capacidade de intervenção da PRF, visando à redução do número das ocorrências, especialmente no que se refere à gravidade.

Além de todas as ações que a PRF realiza a fim de reduzir o número de acidentes, mortos e feridos em acidentes nas rodovias federais, também há de se levar em consideração a responsabilidade dos condutores, os quais deveriam adotar uma postura consciente do seu papel na segurança do trânsito.

Conforme análise do vídeo em anexo, a equipe da PRF realizou a abordagem de acordo com os princípios legais e no momento da abordagem não foi constatada nenhuma irregularidade. Dessa forma, não houve motivo legal para retenção do veículo ou qualquer outra medida restritiva de locomoção.

A PRF não se posiciona referente à conduta de outras instituições, públicas ou privadas

No que se refere à decisão de ostentar os locais de operação dos equipamentos de fiscalização da velocidade em sítio da instituição, trata-se de decisão da autoridade sobre a qual não cabe à PRF, enquanto órgão do Poder Executivo, submetido à legalidade vinculante, valorar.”

Youtube

Questionado, sobre a manutenção de vídeos que estimulam a prática de crimes e infrações de trânsito, o YouTube respondeu por meio de uma nota:

“O YouTube é uma plataforma de vídeo aberta e qualquer pessoa pode compartilhar conteúdo, que está sujeito a revisão de acordo com as nossas diretrizes da comunidade. Um usuário que acredite ter encontrado um conteúdo no YouTube em desacordo com nossas políticas pode fazer uma denúncia e nossa equipe fará a análise do material. Quando não há violação à política de uso do produto, a decisão final sobre a necessidade de remoção do conteúdo cabe ao Poder Judiciário, de acordo com o que estabelece o Marco Civil da Internet.” 

“A resposta das plataformas  de mídias sociais é hipócrita. Na prática, tem receita com esses vídeos, estimulam esse comportamento remunerando os criminosos do trânsito, dando visibilidade a essas postagens, e são responsáveis indiretos pela morte de muitos jovens, como foi o caso da jovem que morreu esta semana no Paraná”, esclarece Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas e fundador de entidade de vítimas.

Ele acrescenta ainda que em breve haverá audiência pública no Congresso e as autoridades omissas, assim como as plataformas, serão convocadas para dar as devidas explicações.

Caso Rayssa

Outro caso que chamou a atenção em todo o País, foi o da jovem de 20 anos, Rayssa Alves, que, segundo o Boletim de Ocorrências (BO), empinou sua moto na frente de uma viatura policial, que deu ordem de parada a ela. Rayssa não obedeceu e fugiu em alta velocidade pelas ruas da capital paranaense, até colidir com na lateral um veículo, na quarta-feira (16), no bairro Boa Vista. Ele foi socorrida em estado grave e faleceu na terça-feira (22).

ENPINOU: A jovem Rayssa Alves, de 20 anos, foi vítima da própria irresponsabilidade ao fugir da polícia em Curitiba e bater num carro. Foto: Reprodução/Rede Social

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), conduzir uma motocicleta equilibrando-se apenas em uma das rodas, é considerado infração gravíssima. A previsão é de multa de R$ 293,47 e suspensão automática do direito de dirigir.

Segundo a Associação Nacional dos Detrans (AND), está na hora de as plataformas digitais, que detêm o controle das redes sociais, assumirem suas responsabilidades de não estimulkar a puyblicação de conteúdos que estimulam crimes de trânsito.

Segundo o presidente Neto Mascellani, que também é diretor do Detran de São Paulo, “a exemplo do que já havia manifestado minha antecessora na presidência da AND, Larissa Abdala Brito, somos francamente favoráveis ao PL 130/20. Mais do que isso, repudiamos a atitude do YouTuber e a omissão da montadora em mais um lamentável e recorrente desrespeito às leis de trânsito. Já passou da hora também de as plataformas que detém o controle das redes sociais assumirem sua responsabilidade de não propagar conteúdos que estimulam esse tipo de selvageria ao volante”, frisou.

Ainda segundo Mascellani, o Detran-SP concorda com o posicionamento da AND e, da mesma forma, está sempre focado em garantir a segurança dos usuários nas vias públicas do Estado.

Instagram

O Estradas procurou o Instagram para se manifestar a respeito do caso envolvendo a jovem Rayssa Alves, que tem em seu perfil na plataforma (ainda ativo) 145 mil seguidores. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Intagram informou que está investigando o caso.

ONSV ficou calado

A reportagem do Estradas procurou também o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) para saber qual a avaliação da entidade em relação ao caso do youtuber GUI50 e também sobre a postura da Volvo Cars e do próprio presidente da montadora em emprestar um carro a um criminoso de trânsito, conhecido em todo o Brasil. Veja a resposta do ONSV:

“Entendemos a indignação sobre este assunto, mas apenas manifestamos nosso posicionamento focado exclusivamente com os estudos e pesquisas os quais participamos ou que há respaldo técnico e cientifico. Primamos por difundir e conscientizar a sociedade da importância do cumprimento das regras do trânsito para a segurança de todos. Agradecemos a oportunidade de nos manifestar.” 

Reflexão

Para ampliar a reflexão sobre o fato grave, que envolveu a segurança de centenas de pessoas na rodovia federal, a reportagem procurou também a deputada federal Christiane Yared (autora do Projeto de Lei 130/20, que pune o motorista que postar na internet vídeos e/ou fotos de infrações de trânsito). Veja a avaliação de Chris Yared, que perdeu o filho num acidente causado por um desses criminosos do trânsito.

Em 2020, apresentamos o Projeto de Lei 130/2020, que prevê a possibilidade de punição para condutores que filmam e divulgam nas redes sociais as infrações cometidas nas estradas e rodovias do país. Tais infratores buscam nessa irresponsabilidade atrair seguidores e gerar lucro, o que acaba por incentivar outras pessoas a replicar as mesmas atitudes, colocando em risco suas vidas e de outros.

Entendemos que uma empresa, com reputação a zelar pelo bem de seus consumidores, deve levar em conta a possibilidade de causar danos irreparáveis as vidas pelas quais lutamos.

Creio que houve um equívoco de marketing, pois sabemos que a empresa, proprietária do veículo utilizado, é uma das mais relevantes em relação a segurança viária. Inclusive, com inúmeras ações em favor da vida. O que foi visto vai na contramão de seus valores.

Relator do PL 130/20

A reportagem também ou viu o relator do PL 130/20, deputado Hugo Legal, sobre os casos envolvendo youtubers. Acompanhe sua avaliação:

Nunca é demais lembrar que o Brasil é um dos campeões em mortalidade no trânsito. Todos os anos, milhares de famílias perdem seus entes queridos ou estes ficam com sequelas permanentes. Para combater essa tragédia é necessário o envolvimento de todos: motoristas, gestores públicos, imprensa, influenciadores, empresários, fabricantes de automóveis, enfim, toda a sociedade. Não basta não cometer uma infração, é necessário defender e apoiar comportamentos seguros no trânsito.

Desta forma, quando alguém é um influenciador, principalmente nesta era digital, no entanto, ao invés de ser um promotor da vida, promove um comportamento criminoso no trânsito, isso merece uma profunda reprimenda por parte da sociedade.

Por meio do SOS Estradas tive acesso a diversos vídeos de pessoas fazendo demonstração de veículos em circunstâncias de altíssimo risco e flagrante desrespeito às leis e às autoridades, divulgados e compartilhados por milhares de pessoas. Inclusive, recentemente, tivemos notícia que uma jovem, que fazia malabarismos com sua motocicleta e divulgava nas redes sociais, infelizmente acabou morrendo.

Chamou a minha atenção ainda o fato de um fabricante de veículos automotores, com larga experiência em ações de prevenção de acidentes, liberar um veículo para testes de um desses influenciadores, que transitam em nossas rodovias cometendo os maiores absurdos, colocando em risco a própria vida e a dos demais. Isso é inadmissível. Algo precisa ser feito com urgência para responsabilizar todos os envolvidos, inclusive os meios de comunicação que permitem a divulgação desses vídeos irresponsáveis e criminosos.

Foi por essa razão, como presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro e autor da Lei Seca, que tive a honra de ter sido escolhido como relator do Projeto de Lei Nº 130, de 2020, de autoria da minha amiga deputada CHRISTIANE YARED, o qual pretende estabelecer sanções por divulgação, por parte do infrator, de condutas infracionais de risco praticadas por ele, nas redes sociais e outros meios de divulgação digitais, eletrônicos ou impressos.

O referido PL teve o regime de urgência aprovado na Câmara dos Deputados, mas ainda não foi pautado. Estamos trabalhando para que a proposta seja aprimorada e que possamos ter uma forma de punir essas condutas, na maior celeridade possível. Vamos procurar, junto com a Deputada Yared, a Presidência da Casa para que o assunto seja pautado imediatamente.”

País da impunidade

Para o representante da entidade de vítimas de trânsito “Não Foi Acidente”, Ava Gambel, uma palavra define isso tudo é impunidade. “Não tem fiscalização, não tem punição. A sociedade e as autoridades sabem que existe esse tipo de situação, e acho que elas conhecem até os perfis, mas não tomam providências”.

“Como é possível cobrar de um civil, de uma pessoa, quando a nossa maior autoridade anda em motos com a placa encoberta, sem capacete e em alta velocidade; em carros, sem cinto de segurança, ou seja, vivemos um momento de terror na questão da segurança viária”.

Segundo Gambel, existem três pontos a serem considerados na questão do youtuber: a plataforma que permite a postagem, porque é rentável para os dois lados. Porque, se não tivesse remuneração, não teriam esses canais. “Se existe youtuber hoje, é porque existe uma remuneração. Ninguém iria fazer canais só por causa dos likes. Então, além da plataforma, existem patrocinadores que que financiam esse tipo de impunidade.”

Além disso, ele cita a questão da idade das pessoas que têm acesso aos vídeos. “Eu acho que não existe nem restrição de idade. São vídeos abertos. Se as autoridades sabem que existe esse tipo de vídeo, porque que não fiscaliza? E também tem a parte da sociedade que apoia essa impunidade.”

Para ele, a morte da jovem Rayssa Alves, em Curitiba (PR), é um exemplo recente do que vem acontecendo no Brasil. “Eu lamento profundamente a morte dela, lamento pela mãe, pelo pai, pela dor que eles estão sentindo, mas ela só tinha esse canal de impunidade, esse perfil fazendo ‘grau’ – que é crime – porque existiam seguidores. E se existem seguidores, com certeza existem patrocinadores. Então, é uma coisa que vai puxando a outra. E dentro disso tudo tem a impunidade.”

‘Marmanjo’ precisa de punição

Segundo ele, uma citação da deputada federal Christiane Yared define o momento atual: ‘um país que não pune é um país que não educa’. “Então, quando falam em campanhas educativas, eu digo: campanhas educativas, a gente trata com crianças, na base. Agora, campanha educativa para marmanjo, não resolve; para marmanjo, a gente tem que dar punição. Tem que pegar pelo bolso, tem que prender”.

Grande absurdo

Na opinião de Fernando Diniz, presidente da ONG “Trânsito Amigo”, entidade de vítimas de trânsito, esse fato envolvendo o youtuber Guilhermo Hundadze é um grande absurdo. “Primeiro, os meios de comunicação jamais deveriam estimular esse tipo de irresponsabilidade. Esse jovem está estimulando outros jovens, às vezes, recém-habilitados, a se tornarem verdadeiros assassinos do asfalto.”

Segundo Diniz, esse fato traz muita estranheza, porque a Volvo é considerada mundialmente como a empresa que mais se preocupa com a segurança dos automóveis. “Acho estranho a Volvo permitir que um jovem irresponsável como esse, que ganha dinheiro, inclusive, pelas suas postagens no YouTube, empreste o seu carro para fazer testes em vias urbanas e nas estradas, pondo em risco tantas pessoas inocentes que não têm absolutamente nada a ver com sua paranoia. Zero pra ele, prisão pra ele e zero pra Volvo. Depois dessa, jamais compraria um carro da Volvo.”

Diniz também se manifestou em relação à morte da jovem em Curitiba. “Lamento muito pela morte da jovem Rayssa Alves. Infelizmente, já acostumada a cometer atos irresponsáveis. Mas tão irresponsável quanto ela é o Instagram e todos esses veículos que publicam vídeos estimulando a juventude a cometer esses atos irresponsáveis. A vida é muito bonita, mas tem que saber vivê-la.”

Projeto de lei 130/20

Os casos envolvendo rachas praticados por youtubers – que postam seus crimes de trânsito no canal do youtube – estão cada vez mais frequentes nas vias urbanas e rodoviárias do país. O SOS Estradas e a entidade “Trânsito Amigo” têm desenvolvido diversas ações em conjunto e foram um dos responsáveis pelo Projeto de Lei 130/20, da deputada Christiane Yared, que dispõe sobre punições para pessoas que cometam infrações e divulguem nas redes sociais ou outros meios digitais, eletrônicos ou impressos. Entre as punições previstas no projeto, está a de quem praticar infrações de circulação de natureza gravíssima e publicá-las nas redes sociais terá por 12 meses a cassação do documento de habilitação. No caso de reincidência no prazo de dois anos, será cassado o direito de dirigir.

Infelizmente, com a atual legislação, as autoridades não conseguem sequer retirar do ar os vídeos que incitam a prática de crimes de trânsito. A empresa responsável pelo canal do YouTube, com sede no exterior, está longe do alcance das leis brasileiras, apesar de ter profissionais trabalhando no país que estão cientes dos crimes praticados.



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