Não adianta espernear, xingar as montadoras ou reclamar nos comentários. O futuro dos carros é a eletricidade. Por mais que eu e você gostemos dos motores a combustão, eles estão com os dias contados. A Volvo já sabe disso, tanto que matou o XC40 híbrido no Brasil e traz agora só a versão elétrica. Mas isso é bom?
Como híbrido, o Volvo XC40 era o melhor SUV de sua categoria. Mas agora como elétrico, ele tem uma missão ainda mais complicada: convencer as pessoas de que um carro que não bebe gasolina é tão viável e bom quanto seu SUV que toma suco de dinossauro de canudinho. E, sinceramente, mesmo por R$ 409.950, ele é o carro elétrico definitivo.
2 + 2 = 408
Se antes o Volvo XC40 andava bem com seus motores combinados, agora ele é um verdadeiro canhão. Com dois motores elétricos de 204 cv, um na dianteira e outro na traseira, ele despeja 408 cv e 67,3 kgfm de torque diretamente no asfalto como se fosse um esportivo. Para tanto, te catapulta para os 100 km/h em ridículos 4,9 segundos.
Isso era tempo de esportivos da Porsche e Ferrari antigamente. A força é instantânea e tamanha que se um passageiro estiver distraído mexendo no celular, é bem capaz do aparelho voar em direção ao seu rosto (admito que isso aconteceu algumas vezes com desavisados que sentaram no banco do passageiro).
Sem cerimônia, o XC40 dispara com velocidade e com compostura ímpar. Ao contrário de alguns elétricos que não sabem lidar com a própria força, o SUV sueco se mantém em linha reta perfeita e estável. Mesmo que ele seja um pequeno mamute de 2.184 kg, se comporta bem também nas curvas.
O peso concentrado na parte de baixo da carroceria faz com que ele seja bem estável, mas o teto alto e suspensão elevada, típicos de SUVs, fazem ele balançar um pouco. Não é um hatch e nem está perto disso em dinâmica, mas é um carro que te permite abusar um pouco mais nas curvas sem medo.
Volume zero
Como era esperado de um carro de luxo, especialmente de um Volvo, o XC40 é um santuário do silêncio. Isolamento acústico de primeira faz com que os barulhos da rua, suspensão e dos pneus fiquem onde devem estar: do lado de fora. Por ser elétrico, esse ponto é bastante sensível, afinal o motor não pode encobrir os sons externos.
Entra em concordância a pegada mais confortável do XC40. A suspensão é macia e voltada nitidamente para cruzar estradas por horas e ruas bem asfaltadas. Até porque os pneus 235/45 R20 reclamam e são duros para as buraqueiras tupiniquins.
Já a direção é pesadinha na medida certa, mas é rápida e passa bastante confiança em altas velocidades e tranquilidade nas manobras. Por falar em velocidade, o Volvo XC40 elétrico é limitado a 180 km/h, como todo modelo novo da marca sueca. Contudo, ao contrário dos seus irmãos, ele chega à essa velocidade rápido demais e se sente muito bem em permanecer lá.
Só não precisa se preocupar com a autonomia: são 400 km declarados pela Volvo. Mas a depender do seu modo de condução, ele consegue ir além. O único porém é que a autonomia fica registrada no painel de instrumentos somente abaixo de 20% de carga. Para acompanhar em tempo real, só pela central multimídia.
Era para facilitar…
E é justamente a central multimídia o único grande defeito do Volvo XC40. Ela nasceu para ser mais fácil, afinal, tem sistema Android embarcado e internet ativa o tempo todo. Mas, ela ainda não se adaptou muito bem. Nos primeiros dias de uso, travou constantemente, apresentou falhas ao ponto de tornar-se inutilizável.
A tela congelou em uma tentativa de chamada ao sistema Volvo OnCall. Depois, todas as vezes em que o carro era ligado, pedia autorização de localização, apagava os celulares pareados no Bluetooth e demorava séculos até responder. A vantagem, porém, é que o XC40 traz atualizações via internet instantâneas.
Só que para isso, ele precisou ficar uma hora e meia parado e completamente inativo. Se tornou um gigante peso de papel, justamente em um momento em que fiz uma parada rápida para comprar uma garrafa d’água. O aviso surgiu enquanto dirigia e a desatenção na informação de que o XC40 ficaria inativo por 1h30 foi seu ponto mais irritante.
Após a atualização, porém, todos os problemas foram solucionados. A questão é que, Android Auto e Apple CarPlay inexistem na nova central. Ou seja, responder ao WhatsApp por voz ou usar apps do seu celular que não são compatíveis com o sistema Android integrado, não são mais possíveis. A vantagem é poder instalar alguns como Spotify e Google Maps.
Com eles integrados ao carro, é possível visualizar o mapa diretamente no painel de instrumentos, enquanto a central multimídia dá uma expectativa de quantos por cento restará de bateria ao chegar ao destino mapeado. Menus são um tanto quanto confusos em alguns momentos, vale ressaltar. Mas a tela tem excelente definição e é rápida. A antiga, porém, era melhor.
Tempo de pensamento
Um dos pontos mais legais do Volvo XC40 e que deve sempre ser citado é seu interior. A marca foi genial nas soluções encontradas para a cabine do SUV compacto. Começa pelo fato de que as portas tem enormes bolsões acarpetados com espaço até para uma garrafa grande e um notebook. Isso só foi possível porque as caixas de som estão dentro das saídas de ar-condicionado.
Os comandos são todos a mão e fáceis de serem utilizados. Há ainda uma lixeira no console central nunca vista em outros carros. O acabamento é esmerado e muito bem cuidado, com peças macias ao toque e couro de qualidade em todos os cantos. O XC40 ainda tem porta-malas dianteiro com 31 litros.
Mas o porta-malas traseiro, com abertura elétrica, é que merece destaque. São 414 litros de capacidade em um piso plano tanto da tampa quanto dos bancos deitados. Ele tem uma prática divisória que, quando armada, separa o espaço em duas metades e ainda traz opção de ganchos para sacolas.
A praticidade vai além com a presença de piloto automático adaptativo com função stop & go de funcionamento primoroso, assistente de manutenção em faixa, teto solar panorâmico, bancos elétricos com memória para o motorista (incluindo retrovisor), sistema de som Harman Kardon, faróis full-LED direcionais, frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego e de tráfego cruzado.
Veredicto
Hoje o mercado de carros elétricos se tornou acessível somente nas pontas de cima. Prova é que o elétrico mais vendido de 2021 foi o Porsche Taycan que tem versões acima de R$ 1 milhão. Contudo, aos R$ 409.950, o XC40 se posiciona muito bem entre os modelos mais caros como Audi e-tron, Mercedes-Benz EQC e Jaguar I-Pace, e os de acesso como Nissan Leaf, Renault Zoe e Chevrolet Bolt.
Sozinho em sua faixa de preço, ele é o mais equilibrado de todos os carros elétricos à venda no Brasil. Tem performance estonteante, boa autonomia, acabamento verdadeiramente refinado, visual indiscutivelmente belo (salvo a feiosa grade frontal) e prazer ao dirigir. Verdadeiramente o carro elétrico definitivo. A não ser que você precise de uma picape.
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