Símbolo da Alemanha Oriental, o Trabant era um carrinho popular equipado com um fumacento motor dois tempos. Por ironia do destino, a antiga fábrica do Trabant, na cidade de Zwickau, está sendo totalmente convertida para a produção de carros elétricos, adequados às atuais preocupações com o meio ambiente.
LEIA MAIS: Volkswagen quer superar a Tesla no mundo dos carros elétricos
Com a saída de linha da caminhonete Golf R Estate, no último dia 26, e o início da produção em série do elétrico Volkswagen ID.3
, os automóveis com motor a combustão deixam definitivamente a histórica fábrica fundada em 1904 para dar lugar aos carros elétricos
. Ao longo desses 116 anos, 9.512.001 carros a gasolina e a diesel foram feitos em Zwickau
.
É a primeira vez que um grande fabricante converte uma de suas unidades para fazer exclusivamente carros “a bateria”. A Volks aposta alto nessa tecnologia — só os custos de adaptação das linhas de montagem em Zwickau giram em torno de 1,2 bilhão de euros. Dali sairão seis modelos elétricos, e a capacidade anual de produção será de 330 mil unidades a partir de 2021.
Os gastos incluem o treinamento dos 8 mil empregados que, formados para trabalhar com veículos com motores a combustão, agora precisam aprender a lidar com componentes de alta voltagem, por exemplo.
O primeiro modelo
O hatch ID.3 é o primeiro Volkswagen com a plataforma MEB, para carros 100% elétricos. É uma revolução mas, também uma volta às origens da marca, pois o modelo tem motor e tração traseiros e o fundo liso e “blindado”, como no Fusquinha.
LEIA MAIS: Ford prepara novo SUV elétrico com plataforma da VW
Com o comprimento aproximado do Golf, o ID.3 tem espaço interno bem maior graças à disposição de seus componentes. Formado por duas telas digitais, o painel não tem botões.
A primeira edição sairá com motor de 150kW (204cv) e bateria de 58kWh, com autonomia de 420km pelo ciclo WLTP. Haverá ainda versões de 45kWh (330km) e 77 kWh (550km). A velocidade máxima será limitada a 160km/h.
Uma série de bugs no software durante a fase de testes do ID.3 adiou seu lançamento. Nada menos que 10 mil técnicos da VW, da Audi e da Porsche foram mobilizados para sanar os problemas. A chegada às lojas da Europa está marcada para setembro, e os preços da versão básica serão inferiores a 30 mil euros — um valor bem competitivo para um carro elétrico.
Ainda este ano, a VW também começará a produzir em Zwickau o utilitário elétrico ID.4, que terá um equivalente com a marca Audi.
Reviravoltas da história
A fábrica de Zwickau foi fundada pelo engenheiro August Horch, em 1904, tornando-se a primeira fábrica da Audi (em 1910).
Na década de 30, as marcas Horch, Audi, DKW e Wanderer foram reunidas no conglomerado Auto Union, dedicado à produção de automóveis e motos. Em Zwickau foram construídos, com projeto de Ferdinand Porsche, os revolucionários monopostos da Auto Union, que dominaram os GPs da época.
A fábrica sofreu bombardeios na Segunda Guerra e foi reaberta, sob administração das tropas soviéticas de ocupação, em 1946. Os primeiros carros dessa nova fase, como estatal da Alemanha Oriental, foram os IFA F8 — nada mais do que o modelo DKW F8 pré-guerra.
A empresa foi rebatizada de VEB Sachsenring e, a partir de 1957, começou a produzir o Trabant, carrinho popular com motor dois tempos e carroceria de Duroplast (resina plástica reforçada com fibra de algodão). Com 3,1 milhões de unidades produzidas até 1990, o “Trabi” se tornou um dos maiores ícones da Alemanha Oriental.
LEIA MAIS: VW já produz elétrico I.D3, mas pandemia atrasa chegada às lojas
Depois da queda do muro e da reunificação da Alemanha, a fábrica passou ao controle da Volkswagen, que começou a produzir em Zwickau os modelos Polo, Golf, Golf Estate, Passat e Passat Variant. Agora, com os carros elétricos
, chega o momento de mais uma grande reviravolta nessa história.