As empresas que não investirem para diminuir seu impacto ambiental não deverão sobreviver no futuro. Isso porque a agenda da sustentabilidade será permanente. A União Europeia e alguns países asiáticos têm estabelecido iniciativas rigorosas para cumprir as metas de transição para uma economia de baixo carbono definidas no Acordo de Paris. Além disso, na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-25), mais de 600 investidores internacionais, administradores de cerca de US$ 37 trilhões de ativos, assinaram um compromisso com o Acordo.
“Os investidores estão preocupados como o futuro”, disse Ricardo de Araujo Pereira, Diretor de Desenvolvimento Técnico do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), durante o Webinar BW TALKS: Iniciativas Inspiradoras em Sustentabilidade, transmitido pelo Canal da Sobratema no YouTube no dia 5 de agosto.
Segundo Pereira, existe um trinômio – rentabilidade, risco e impacto -, que norteia a escolha dos projetos a serem investidos. “O terceiro elemento é muito importante para os investimentos, porque eles querem saber quais os impactos que serão causados pelos projetos com os recursos aportados. E, esse fator continuará a ser relevante no pós-pandemia. Por isso, o Brasil precisa ter a sustentabilidade como pilar fundamental”, acrescentou o diretor da CEBDS, que reforçou a importância de o país trabalhar a questão em uma visão de política de estado e não de governo.
Para ele, as empresas que se dedicam ou investem fortemente em sustentabilidade possuem um valor de mercado superior às companhias que não o fazem. Além disso, a transparência e a governança também contribuem para essa maior relevância. “Esse movimento fortalece a marca, que alcança um maior reconhecimento, trazendo mais valor para ela mesma”, complementou.
Em sua participação no evento virtual da BW Expo, Summit e Digital 2020, Pereira ainda comentou sobre o prejuízo da imagem do Brasil devido aos crimes ambientais na Amazônia e que o mercado tem buscado conversar com o Governo Federal para mudar essa situação. Outra questão trazida por ele foi o mercado de carbono que, em sua opinião, vai crescer, podendo se tornar uma commodity importante em termos globais e, também no Brasil, uma vez que há a necessidade de reduzir as emissões dos gases de efeito estufa.
Iniciativas inspiradoras
Em termos de valorização das empresas que investem em sustentabilidade, duas marcas do setor automotivo e da construção, Toyota e Eternit, respectivamente, têm se destacado. A Toyota tem trazidos diversos exemplos bem-sucedidos de implantação de ações ou projetos para reduzir o impacto ambiental de suas atividades. Além do lançamento de veículos inovadores, como o Mirai (veículo movido a célula de combustível a hidrogênio) e o Corolla Altis Hybrid (primeiro híbrido flex do mundo), a empresa também instalou em seu processo produtivo iniciativas para reduzir o consumo de água, para receber apenas energia renovável certificada, entre outros. Na fábrica em Sorocaba, por exemplo, criou uma floresta natural a partir do plantio de mudas de diferentes espécies, usando o conceito “Morizukuri” (como fazer uma floresta, em tradução livre), que possibilita que as árvores cresçam mais rapidamente.
No caso dos veículos, Edson Orikassa, Diretor Área de Certificação e Regulação Veicular e Assuntos Governamentais da Toyota do Brasil, contou ao público participante do Webinar BW TALKS, que é um desafio ser pioneiro no lançamento de tecnologias inovadoras em um mercado tão competitivo, como é o setor automotivo.
“Há um custo para você liderar e puxar a tecnologia, porque por um período a empresa precisa sustentar esse desenvolvimento até que seja possível pagar os investimentos, com a escalabilidade do automóvel”, explicou Orikassa, que citou que os veículos híbridos já dão retorno à companhia, diferentemente dos veículos a célula de combustível, que estão no processo de obter uma maior escala.
Especificamente sobre os veículos a célula de combustível, Orikassa falou que o interesse da Toyota não é deter a tecnologia de forma exclusiva, por isso ela abriu todas as suas patentes. “Quanto mais empresas usarem a tecnologia, melhor será para o mercado, pois haverá um barateamento dos componentes, o que possibilitará produzir carros mais baratos”, destacou. Ademais, há um trabalho muito forte da montadora para reduzir custos internos, melhorar de processos e o uso de materiais. “Mesmo sendo um desafio, é muito melhor do ficar parado. Não há outro meio de sobreviver no mercado sem investir em tecnologia e inovação”.
Sobre o custo superior ao carro com motor à combustão, Orikassa revelou que a Toyota fez um estudo com seus consumidores e descobriu que eles estavam dispostos a pagar um percentual superior para um carro mais sustentável ambientalmente e com tecnologia inovadora. Esse foi o caso do Toyota híbrido flex que, mesmo tendo um preço maior, conquistou o mercado e hoje, tem uma demanda maior do que o projetado pela montadora. “Uma de suas vantagens é o baixo custo do pós-vendas, que aumenta a lucratividade para a montadora e diminui os gastos para o cliente”, citou. Contudo, para aumentar o share nesse mercado, é preciso vencer o desafio do suprimento de baterias, que é bastante concorrido mundialmente devido ao mercado asiático.
Telhas que geram energia
Durante o Webinar BW TALKS, a Eternit também apresentou sua iniciativa inspiradora para o setor da construção: as telhas com módulos fotovoltaicos que possibilitam gerar energia para serem usada nas residências. Para isso, Luiz Antonio Lopes, Gerente do Projeto de Telhas Fotovoltaicas da Eternit, explicou que foi usado até mesmo o urucum para a produção dessa telha, a fim de equilibrar a temperatura do produto. “O fotovoltaico gosta de luz, mas não gosta de altas temperaturas”, disse.
A Eternit pretende lançar comercial o novo produto no próximo ano, que possui tecnologia nacional e foi adequado à realidade brasileira. Atualmente, ele está em fase de aprimoramento, com a assistência e parceria de centros de pesquisa e universidades. Isso porque a empresa quer realmente compreender todos os benefícios e os desafios da tecnologia.
De acordo com estudos da Eternit, não será necessário que todo o telhado utilize as tecnologias com células fotovoltaicas. O percentual pode variar (20% a 50%) conforme o consumo de energia da residência. Em primeiro lugar, a empresa está trabalhando com as telhas do tipo concreto, usadas, principalmente, em residências de alto padrão ou em condomínios. “Estamos abrindo um mercado nesta área, primeiramente, por causa da técnica. A telha de concreto é mais rígida. Assim, veremos como a tecnologia funciona para depois, então, partir para a de fibrocimento, que tem mais flexibilidade”, ponderou Lopes.
Nesse sentido, o moderador Vagner Barbosa, integrante do comitê organizador da BW Expo, Summit e Digital 2020, questionou Lopes sobre o consumo desse produto por classes econômicas mais baixas. Ele respondeu que esse público poderá ser atingindo não realizando o investimento em si, mas pelo financiamento de suas casas, porque a empresa conta com parceiros que agregam seus sistemas inovadores.
O webinar foi aberto pelo engenheiro Afonso Mamede, presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), que convidou todos os participantes para o próximo Webinar BW TALKS que acontecerá na próxima quarta-feira, dia 12 de agosto, e que trará as iniciativas inspiradoras da Heineken e da Unilever.
Para assistir a íntegra do webinar, basta acessar o Canal da Sobratema no YouTube.
BW 2020
A BW Expo, Summit e Digital – 3ª Biosphere World, a ser promovida entre os dias 17 e 19 de novembro, de forma totalmente digital, proporcionará uma experiência ímpar para todos os seus participantes.
Uma das propostas da BW 2020 é trazer os assuntos prioritários da sustentabilidade do meio ambiente para o mercado. Dessa forma, para abordar com profundidade esses temas, o evento conta com os Núcleos Temáticos, que irão conectar redes específicas, compartilhar conhecimento e ampliar as conexões das empresas e profissionais, gerando sinergias e oportunidades de negócio para todos. São eles: Agronegócio Sustentável, Conservação de Recursos Hídricos, Construção Sustentável, Economia Circular, Reciclagem de Resíduos na Construção, Transformação Energética – Hidrogênio, Valorização de Áreas Degradadas e Waste-to-Energy.